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Com transferência de refugiados, agência da ONU redefine seu papel na Grécia BR

Foto: Unicef/UN012804/Georgiev

Com transferência de refugiados, agência da ONU redefine seu papel na Grécia

Acnur anuncia que suspendeu algumas atividades em locais nas ilhas gregas que teriam sido transformados em centros de detenção; equipes continuam fornecendo assistência nos portos.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.

Entrou em vigor no domingo o acordo entre União Europeia e Turquia para conter a chegada em larga escala de refugiados e de migrantes em países europeus. Pelo pacto, os civis que chegarem a Grécia depois do dia 20 de março serão devolvidos à Turquia.

Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Acnur, as autoridades gregas transferiram 8 mil pessoas que chegaram às ilhas antes da data estipulada no acordo. A ação teve o objetivo de separar esses migrantes dos que chegaram a partir de domingo.

Detenção

O Acnur calcula que mais de 930 pessoas chegaram à ilha de Lesbos desde o dia 20 e aguardam num centro de registros e acomodação em Moria, sendo que o local não está mais funcionando.

A agência da ONU estava até então apoiando as autoridades nas ilhas gregas nos centros de acolhida, assistência e registro de refugiados. Mas com o novo acordo entre União Europeia e Turquia, o Acnur revela que esses locais foram transformados em “centros de detenção”.

Direitos

A política do Acnur é contra a detenção mandatória, por isso a agência decidiu suspender algumas de suas atividades nesses locais nas ilhas gregas, incluindo o fornecimento de transporte para esses centros.

Mas o Acnur continuará mantendo suas equipes na Grécia, para garantir que os direitos dos refugiados sejam respeitados e para fornecer aos civis informações sobre o procedimento de pedido de asilo.

Na costa e nos portos gregos, funcionários da agência continuam presentes, fornecendo assistência essencial, como transporte para hospitais; dando aconselhamento para os refugiados e migrantes; trabalhando para a reunificação de famílias e identificando pessoas com necessidades especiais.

Crianças

O Acnur lembra não fazer parte do acordo entre União Europeia e Turquia e garante que não está envolvido no retorno ou na detenção de migrantes. Segundo a agência, os civis que chegaram nos últimos dias têm esperança na reabertura das fronteiras e outros já estão ficando sem dinheiro. A capacidade dos acampamentos da região já está esgotada e o Acnur defende a reabertura de novos campos, que abriguem inclusive candidatos à realocação.

Pelo acordo, os países europeus concordaram em realojar 160 mil requerentes de asilo. Até segunda-feira, 22 países haviam disponibilizado mais de 7 mil locais para abrigar os migrantes incluídos no programa.

Mas na ilha grega de Idomeni, entre 10 mil e 12 mil pessoas, incluindo 4 mil crianças, estão acampadas em condições precárias, num local informal próximo a um trilho de trem. As pessoas estão queimando plástico para se aquecerem e várias organizações distribuem sanduíches, leite, água, fraldas e papinha para os bebês.

O Fundo da ONU para a Infância, Unicef, também está preocupado com as consequências do novo acordo, especialmente porque as crianças representam 40% dos migrantes e dos refugiados na Grécia, sendo que 10% desses menores estão desacompanhados.

O Acnur calcula que mais de 930 pessoas chegaram à ilha de Lesbos desde o dia 20 e aguardam num centro de registros e acomodação em Moria, sendo que o local não está mais funcionando.