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Cerca de 80% dos países que precisam de ajuda alimentar externa são africanos

Mais de 10,7 milhões de pessoas devem precisar de apoio alimentar na África Ocidental. Foto: FAO/Olivier Asselin

Cerca de 80% dos países que precisam de ajuda alimentar externa são africanos

Angola e Moçambique destacados pela FAO pelo impacto negativo  do fenómeno El Niño na produção; safra de cereais recuperou na Guiné-Bissau e em Cabo Verde; não há previsão de auxílio para São Tomé e Príncipe em 2016.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

África tem 27 dos 34 países que precisam de ajuda alimentar externa devido à seca, às inundações e aos conflitos civis, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO.

A Suazilândia é o mais novo país a constar na edição das Perspetivas de Colheitas e Situação Alimentar. A República Centro-Africana e o Zimbabué lideram a lista lançada esta quarta-feira.

Previsões

Angola e Moçambique estão entre os países da África Austral onde as condições de seca associada ao fenómeno climático El Niño enfraqueceram severamente as previsões de produção para 2016.

Mas Moçambique é o único lusófono a precisar de apoio, com mais de 176 mil vítimas de insegurança alimentar.

Em todo o continente africano haverá uma baixa na safra total de cereais em relação ao nível já reduzido do ano passado, que é considerado abaixo da média.

Guiné-Bissau e Cabo Verde

Entretanto, a produção de cereais pode ter aumentado 28% na Guiné-Bissau e "recuperado de forma significativa" em Cabo Verde, em comparação às colheitas que baixaram devido à seca em 2015.

Na relação sobre a importação de cereais para os países de baixa renda, a FAO não prevê qualquer ajuda alimentar para São Tomé e Príncipe.

Conflitos Persistentes

A Somália e a República Centro-Africana estão entre os países onde os conflitos persistentes têm forte impacto sobre o setor agrícola e agravam ainda mais a crise humanitária.  O destaque vai para nações como Iraque, Síria e Iémen.

Na África Ocidental, mais de 10,7 milhões de pessoas devem precisar de apoio em alimentos entre junho e agosto deste ano. Mais de metade dos carenciados será da Nigéria.

O impacto dos conflitos estende-se aos países vizinhos como os Camarões e a República Democrática do Congo, que também abrigam refugiados.

Entre os casos de nações que carecem de ajuda alimentar externa, as condições pioraram de uma forma geral nos últimos três meses.

Preços dos Alimentos

O relatório do Sistema de Informação Global e Alerta Antecipado da FAO destaca principalmente a África Austral, onde os preços dos alimentos já atingiram níveis recordes.

O informe da FAO revela também que em áreas da América Central e das Caraíbas as condições de seca ligadas ao El Niño podem afetar sementeiras das principais culturas  da temporada, pelo terceiro ano consecutivo.

O relatório alerta que a baixa da produção do ano passado teria um impacto negativo na situação da segurança alimentar na Coreia do Norte, onde se estima que "a maioria das famílias deve ter um consumo marginal ou fraco de alimentos."

As perspectivas  das colheitas para 2016 indicam uma grande safra de trigo na maioria dos países da Ásia. A tendência favorável será verificada principalmente em relação aos grãos durante o inverno no Hemisfério Norte.

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