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Sudão do Sul: stress pós-traumático comparável ao pós-genocídio no Ruanda

Mulheres e crianças sul-sudanesas. Foto: Unicef/Sebastian Rich

Sudão do Sul: stress pós-traumático comparável ao pós-genocídio no Ruanda

Conclusões estão em pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e pela instituição South Sudan Law Society; mais de 40% dos entrevistados afirmaram ter sido testemunhas da morte de um amigo ou familiar.

Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

Uma pesquisa feita no Sudão do Sul mostrou que 41% dos participantes apresentaram sintomas consistem com stress pós-traumático, um índice comparável ao pós-genocídio no Ruanda.

O estudo “Busca por um novo começo: perceções sobre verdade, justiça, reconciliação e cura no  Sudão do Sul” foi realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e pela instituição South Sudan Law Society, com apoio da Holanda.

Violência

Entre outubro de 2014 e abril de 2015, 1.525 pessoas, metade mulheres, foram entrevistadas em seis dos 10 estados do país e na região de Abyei, no Sudão.

Segundo o Pnud, 63% dos participantes disseram que um familiar próximo já foi morto em algum momento e 41% afirmaram ter sido testemunhas da morte de um amigo ou familiar.

Julgamento

O estudo  “inovador” mostrou que dois terços dos entrevistados apoiam o julgamento dos responsáveis e a concessão de amnistia teve oposição.

Cerca de 90% dos entrevistados endossa medidas para homenagear pessoas mortas ou desaparecidas devido ao conflito e 81% defendem compensações aos sobreviventes pelo Estado.

Experiências Traumáticas

Cerca de 75% dos participantes afirmaram que, se tivessem a oportunidade, estariam interessados em falar publicamente sobre as suas experiências traumáticas.

No entanto, mais homens estariam dispostos a falar, 80%, em comparação com 66% das mulheres. O Pnud cita altos índices de exposição à violência sexual em diversos locais onde a pesquisa foi conduzida. Segundo a agência, o estigma poderia ser um impedimento.

Segundo o diretor do Pnud no país, Balazs Horvath, tendo em vista a “ampla demanda” por verdade e justiça, um programa de reconciliação deveria buscar “documentar violações, processos criminais, facilitar reparações aos sobreviventes e homenagear os mortos”.

O representante destacou que o processo deve ser liderado pelo povo do Sudão do Sul.

Conflito

O violento conflito no Sudão do Sul eclodiu em dezembro de 2013 e um acordo de paz foi assinado em agosto de 2015.

As conclusões da pesquisa foram divulgadas em outubro passado, após a assinatura do acordo de paz de Adis Abeba. O objetivo foi estimular o debate nacional sobre os processos de justiça transicional previstos pelo tratado.

*Apresentação: Denise Costa.

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