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Segundo painel da ONU, financiamento humanitário nunca foi tão insuficiente BR

Ban participou do lançamento do relatório em Dubai. Foto: Basma Baghall/Rádio ONU

Segundo painel da ONU, financiamento humanitário nunca foi tão insuficiente

Mundo gasta US$ 25 bilhões para ajudar 125 milhões de pessoas prejudicadas por conflitos e desastres; montante é 12 vezes maior do que há 15 anos, mas ainda existe lacuna de US$ 15 bilhões; Ban garante que problema é solucionável.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York. 

O secretário-geral das Nações Unidas recebeu neste domingo o relatório preparado pelo Painel de Alto Nível sobre Financiamento Humanitário.

O levantamento mostra que o mundo gasta atualmente US$ 25 bilhões para fornecer assistência a 125 milhões de pessoas prejudicadas por guerras e desastres naturais.

Desastres Naturais

O montante é 12 vezes maior do que há 15 anos, mas segundo o painel, o valor nunca foi tão insuficiente. Existe uma lacuna de US$ 15 bilhões essenciais para a ajuda humanitária, devido ao aumento nos últimos anos do número de conflitos e de desastres naturais.

O painel destaca que o valor é muito alto, mas não está fora de alcance, uma vez que o mundo produz US$ 78 trilhões de Produto Interno Bruto por ano. Fechar a lacuna financeira do setor humanitário significaria “uma vitória para a humanidade”, menciona o relatório.

Reação

O secretário-geral da ONU está em Dubai, nos Emirados Árabes, onde participou do lançamento do relatório. Ban Ki-moon afirmou que as pessoas vivem uma “era de mega crises”, mas garantiu ser possível solucionar o problema do financiamento.

Ban afirmou estar otimista porque é possível passar das “promessas para os resultados”. Ele disse que vê entusiasmo entre vários parceiros para o alcance de um modelo de financiamento humanitário mais adequado, sustentável e confiável.

Jornada

O painel foi criado pelo próprio secretário-geral da ONU e é formado por um grupo de nove especialistas. O trabalho da equipe busca também formular os objetivos da Conferência Humanitária Mundial, que vai ocorrer em maio em Istambul, Turquia.

Em Dubai, a co-presidente do grupo, Kristalina Georgieva, destacou que a “jornada não termina com a publicação do documento”. Ela afirmou estar convencida de que este é o momento de levar adiante as recomendações do painel.

Outro destaque do relatório vai para a importância de se reconhecer as causas das necessidades humanitárias. Para isso, é necessária “forte determinação dos líderes políticos globais para prevenir e resolver conflitos, além do aumento dos investimentos para reduzir riscos de desastres naturais”.

Impactos

Segundo o painel, a falta de financiamento humanitário gera sofrimento e aumenta a instabilidade global. Mas “em um mundo interconectado, é necessário que o financiamento cruze fronteiras”, diz o documento.

Os especialistas sugerem aos governos que aproveitem a conferência em Instambul para aprovarem o conceito de “solidariedade imposta” e criarem um fluxo estável de receitas em prol da ação humanitária.

Barganha

Os integrantes do painel defendem a necessidade de uma “mudança na maneira como a ajuda humanitária é entregue”, essencial para que mais dinheiro seja levantado e utilizado de forma mais eficiente.

O relatório é claro: “manter a situação atual não é uma opção e doadores e organizações precisam se unir numa grande barganha”. Esse acordo poderá facilitar que doadores enviem mais dinheiro e de uma maneira mais eficaz e flexível, e ao mesmo tempo levar as organizações humanitárias a trabalhar com mais transparência.

Outro ponto especificado no relatório está ligado ao fato da maioria da população afetada por conflitos viver em países muçulmanos. Assim, o papel das instituições financeiras islâmicas tem importância especial e potencial para fornecer soluções.

O painel também sugere parcerias entre a mídia, o setor privado e organizações humanitárias para levantar fundos em prol das pessoas que mais necessitam de ajuda.