ONU preocupada com linguagem sectária próximo das eleições centro-africanas
Chefe dos Direitos Humanos condena criação de grupos de vigilantes; Zeid Al Hussein quer ações urgentes para conter incitamento à violência e ao ódio; apelo inclui investigação de Forças Armadas da República Centro-Africana.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos expressou profunda preocupação com o maior uso da linguagem sectária na República Centro-Africana, ao alertar para as consequências dramáticas em "ambiente pré-eleitoral altamente volátil".
Em nota, emitida esta sexta-feira, Zeid Al Hussein condenou a violência intercomunitária no país, que desde setembro registou pelo menos 130 mortos e 430 feridos.
Líderes
O responsável deplora com veemência o incitamento à violência e as tensões entre comunidades "provocadas por alguns grupos armados e líderes políticos". Zeid disse que tais ações podem levar facilmente a mais uma onda de ataques direcionados.
A outra preocupação do responsável é com todas as partes envolvidas na crise, que "incluem autoridades do mais alto nível", que segundo ele apelam à criação de grupos de vigilantes.
Zeid considera profundamente preocupante a tendência crescente de organização de grupos de autodefesa e de se excluir quem não seja considerado parte da comunidade cristã ou muçulmana. Ele observou que "em breve bairros mistos poderão desaparecer completamente".
Eleições
No princípio desta semana, a capital centro-africana Bangui foi palco de atos de violência depois do anúncio dos candidatos elegíveis para as eleições de 27 de de dezembro.
A propósito dos atos, Zeid pediu medidas urgentes às autoridades para conter o incitamento à violência e ao ódio e para garantir a responsabilização pelas violações de direitos humanos.
Ataques
Nos últimos dois meses foram registados no país 11 casos de violência sexual e baseada no género. Houve também uma subida nos ataques contra pessoal da missão da ONU na Republica Centro-Africana, Minusca, e contra as tropas internacionais em várias partes do país.
Zeid destaca nove mortes ocorridas na cidade de Batangafo, a noroeste, além de 730 cabanas incendiadas. Cerca de 13 mil pessoas fugiram em busca de refúgio nas instalações da Minusca na área onde "a situação continua muito tensa".
Zeid disse que a recente visita do papa e as suas fortes declarações a favor da reconciliação intercomunitária, do perdão e da paz criou uma dinâmica que poderia alterar a espiral da violência dos últimos meses.
Tribunal Criminal Especial
Após elogiar esforços dos líderes religiosos, Zeid disse que o fim da impunidade é talvez a mais importante prioridade para trazer de volta a paz e a estabilidade.
O alto comissário sublinhou que "a criação do Tribunal Criminal Especial será um passo muito importante para garantir a prestação de contas".
Violações
O alerta aos membros de grupos armados e aos dirigentes responsáveis por graves violações dos direitos humanos e do direito humanitário internacional é que um dia estes responderão em tribunais nacionais ou internacionais.
Às autoridades do Estado, Zeid pediu que reformem, controlem e formem as Forças Armadas Centro-Africanas. O outro pedido é que seja investigado o número crescente de violações de direitos humanos de que estas são acusadas.
Entre os casos apontados está o alegado envolvimento na fuga em massa numa prisão da área de Ngaragba, e a morte de pelo menos quatro civis muçulmanos entre finais de setembro e meados de outubro.
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