Especial: Brasil – uma história sobre escravidão
A equipe da TV ONU viajou até Salvador, na Bahia, para produzir uma reportagem sobre descendentes de escravos e a luta de uma comunidade para ter sua terra reconhecida; conheça um pouco sobre o passado escravocata do país.
Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.*
As Nações Unidas declararam 2015-2024 a Década Internacional dos Afrodescendentes.
O século 16 foi marcado por uma das maiores tragédias da humanidade: a escravidão. Milhões de homens, mulheres e crianças perderam a vida e passaram por um enorme sofrimento durante a longa viagem cruzando o Atlântico, com destino às Américas e ao Caribe.
Bahia
As vítimas do tráfico transatlântico de escravos e seus descendentes ajudaram a moldar a economia, a cultura e os esportes do Brasil.
A equipe da TV ONU foi até Salvador, na Bahia, conhecer a situação dos afrodescendentes no Brasil contemporâneo.
Tráfico
Em Salvador, a TV ONU ouviu o professor Hélio Santos, presidente da Fundação sobre Igualdade Racial.
“Ao todo, cerca de 10 milhões de pessoas foram raptadas na África durante toda a escravidão colonial. 40% dessas pessoas vieram para o Brasil. O Pelourinho era o lugar onde as pessoas eram vendidas e também torturadas.”
Segundo Hélio Santos, cerca de 4 milhões de escravos eram vendidos no Pelourinho, atualmente um dos pontos turísticos de Salvador. Muitos eram obrigados a trabalhar em condições extremas nas plantações de cana-de-açúcar.
Quilombolas
O açúcar transformou o comércio internacional durante o colonialismo, ajudando a economia do Brasil. O país foi o último da América a abolir a escravidão, em 1888. Mas para muitos afrodescendentes no Brasil, a luta continua.
Sandra Santos tem 34 anos e vive no Quilombo de Dandá, em Simões Filho, região metropolitana de Salvador. Ela fala sobre o desafio de garantir o direito à terra, que um dia já foi habitada por seus ancestrais.
Lei
Os escravos que conseguiam fugir da opressão e da violência iam para a área hoje conhecida como Quilombo de Dandá. Muitas décadas depois, Sandra luta para que sua comunidade não perca a terra.
Um decreto presidencial de 2003 tornou possível que os hectares dos Quilombos recebessem um título. Sandra procurou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Incra. Richard Torsiano, diretor de planejamento do Incra, explica mais sobre o decreto:
“Um ato do governo que aponta a possibilidade efetiva de resgatar esses territórios e devolver essas terras a essas comunidades Quilombolas. E a garantir e fazer efetivamente justiça àqueles que historicamente foram injustiçados e excluídos da história do país.”
Justiça
Mas mesmo com a nova lei, nada aconteceu durante vários anos, até o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomar uma decisão em 2009, como conta Richard Torsiano, do Incra.
“Então o presidente Lula, aqui nesse estado, na Bahia, na Praça Castro Alves, assina 30 decretos, declarando de interesse social os primeiros 30 territórios Quilombolas, para que a gente tenha condições de desapropriar e devolver essas terras a essas comunidades.”
Segundo o diretor de planejamento do Incra, Richard Torsiano, agora todos aguardam uma decisão do Poder Judiciário para poder conceder os títulos à comunidade do Quilombo de Dandá.
Por lá ainda vivem cerca de 200 descendentes de escravos, que continuam cultivando as terras e mantendo sua cultura e tradições, enquanto esperam receber o título reconhecendo o direito que têm àquela terra.
“Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento” é exatamente o tema da Década Internacional dos Afrodescentes. As Nações Unidas esperam que durante os próximos 10 anos, a iniciativa ajude a acabar com a discriminação contra os povos de descendência africana.
*Adaptação da produção e reportagem de Mary Ferreira e Olívia Jones, da TV ONU.
Assista (em inglês) ao vídeo sobre afrodescendentes na Bahia