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ONU espera processo eleitoral sem violência no Haiti BR

General José Luiz Jaborandy Jr. Foto: Rádio ONU

ONU espera processo eleitoral sem violência no Haiti

Mulheres candidatas e eleitoras consideradas alvos de ataques durante o processo; tropas de paz apoiam plano de segurança; população vai escolher representantes de administrações locais, municipais, parlamentares e presidente.

Eleutério Guevane, da Radio ONU em Porto Príncipe.*

As Nações Unidas ajudam o Haiti a “combater a violência”, num momento em que o país está se preparando para as eleições. O processo de votação começa em 9 de Agosto.

A expectativa da comunidade internacional é que o processo, que se estende até ao fim do ano, marque o início de um “período de transparência, democracia e desenvolvimento.”

Ânimos

Entre as entidades envolvidas nessas operações está a Missão da ONU no Haiti, Minustah.

Em declarações à Rádio ONU em Porto Príncipe, o General José Luiz Jaborandy Jr. falou de uma estratégia conduzida juntamente com as autoridades haitianas.

Plano

“As ultimas eleições no país foram realizadas em 2010. Há uma grande expectativa dos partidos políticos, dos candidatos, das forças políticas e também da população. É natural que neste momento eleitoral haja um acirramento das emoções, que pode ter reflexo e impacto na parte dos níveis de criminalidade nas ruas. Nós sabemos que o período eleitoral é sempre conduzido por muitas paixões. Nós estamos aqui no componente militar trabalhando em conjunto e em coordenação com a policia das Nações Unidas e com a Política do Haiti e já terminamos o novo plano de segurança.”

O chefe da Seção dos Direitos Humanos da Minustah, Giuseppe Calandruccio, contou que quando o assunto é violência em período eleitoral, as mulheres representam o principal alvo.

Mulher

Ele confirmou que tem recebido informações de casos de violência ou de estupros diariamente. Segundo Calandruccio, são registrados mais de um caso por dia no país.

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Chefe da Seção de Direitos Humanos da Minustah, Giuseppe Calandruccio. Foto: Rádio ONU.
O chefe de direitos humanos da Minustah disse ainda que isso tem um impacto direto sobre o eleitorado feminino que pode estar preocupado com as eleições.

A missão da ONU foi informada de que grupos femininos da sociedade civil e ONGs contra a violência “estão preocupados com a possibilidade das mulheres se tornarem alvo de violência”. Ele disse que as autoridades estão levando isto muito a sério.”

Fraca Participação

Os atos de violência não afetam apenas as eleitoras, mas também as candidatas, o que pode estar por trás da fraca participação da mulher na política. No mandato do parlamento anterior havia cinco mulheres entre os 99 deputados. Para estas eleições, apenas quatro candidatas estão entre os 56 que concorrem à presidência.

A conselheira da representante especial do secretário-geral no Haiti para Assuntos de Gênero, Baudouine Kamatari, disse que há receios sobre a presença feminina no processo.

Para ela, um passado recente mostrou que as eleições são frequentemente violentas e a esperança é que não ocorra o mesmo desta vez. Kamatari acrescentou que a violência é mais acentuada contra a mulher porque esta tem ocupado lugares que pertencem a outras pessoas.

Ataques

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Conselheira da representante do secretário-geral no Haiti para Assuntos de Gênero, Baudouine Kamatari. Foto: Rádio ONU.
Segundo a conselheira, muitas vezes as mulheres enfrentam opositores políticos mais fortes e que, provavelmente, não estejam prontos para ceder o seu espaço. Ela disse também que referências ao corpo da mulher são usadas para os ataques verbais dirigidos ao grupo.

O general Jaborandy Jr. falou ainda sobre o impacto da violência gerada por grupos organizados durante o período eleitoral.

"Muitas gangues são associadas, várias vezes, a partidos políticos. Alguns partidos políticos usam a ação das gangues para pressionar a própria população para votar no próprio partido ou candidatos. Por isso que nós temos com o nosso sistema de inteligência e presença contínua, condições de manter a pressão sobre as gangues e tirar delas a capacidade de atuar, ainda mais agora com maior presença da Polícia da ONU e do Haiti trabalhando em conjunto."

Seis milhões de eleitores haitianos devem ir às urnas para eleger o parlamento que foi dissolvido no início de janeiro. Em várias fases, a escolha de representantes deve culminar com mais de 1280 eleitos para as administrações locais, 140 líderes municipais, 139 parlamentares e o presidente do país.

*Com parceria da Minustah e apresentação de Edgard Júnior