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Mais de 40% da população da África Subsaariana vive na extrema pobreza BR

Mudança climática contribui para seca em África.
Foto: Acnur UNHCR/B. Bannon
Mudança climática contribui para seca em África.

Mais de 40% da população da África Subsaariana vive na extrema pobreza

Desenvolvimento econômico

No último ano para o cumprimento dos Objetivos do Milénio, região não consegue cumprir a meta 1; relatório das Nações Unidas traz progressos de todas as zonas em desenvolvimento do mundo; maioria das crianças fora da escola é africana.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova Iorque. 

O mundo tem 1 mil milhão de pessoas a viver na extrema pobreza, ou seja, com menos de US$ 1,25 por dia. E 60% estão em apenas cinco países: Índia, Nigéria, China, Bangladesh e República Democrática do Congo.

O relatório lançado esta segunda-feira sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, ODMs, mostra que a África Subsaariana não conseguiu alcançar a primeira meta: diminuir pela metade o total de pessoas na pobreza e a passar fome.

Fome

O documento não traz informações específicas de países, mas dados de todas as regiões em desenvolvimento do mundo. Apesar de alguns progressos, 41% da população da África Subsaariana ainda vive na pobreza extrema.

A proporção de pessoas a passar fome na região era de 33% em 1990 e atualmente, chega a 23%.

O segundo objetivo era garantir que até 2015, todos os meninos e meninas do mundo estivessem a frequentar o ensino primário. A África Subsaariana foi a região que apresentou o melhor progresso desde que as metas foram estabelecidas, em 2000 e atualmente, 80% das crianças estão na escola ou quase 150 milhões.

Mulheres

Ao mesmo tempo, o mundo ainda tem 57 milhões de meninos e meninas fora das salas de aula e a maioria, ou 33 milhões, está na África Subsaariana.

Mas a região avançou para garantir a igualdade de direitos entre homens e mulheres, como determina o ODM número 3. Dos 10 países do mundo que mais têm mulheres no parlamento, quatro são africanos.

Ruanda lidera a lista: as mulheres ocupam mais de 60% das cadeiras parlamentares. Por outro lado, as trabalhadoras em África Subsaariana ainda ganham 30% a menos do que o salário dos homens.

Crianças

Reduzir em dois terços as taxas de mortalidade infantil era o quarto Objetivo do Milénio. A região não conseguiu alcançar a meta: a morte entre crianças menores de cinco anos diminuiu em 52%.

Atualmente, a cada mil nascimentos, 86 crianças não chegam a completar o quinto aniversário, num total de 3 milhões de mortes por ano na África Subsaariana. O relatório das Nações Unidas aponta que serão precisos mais 10 anos para que a meta seja cumprida no mundo todo.

Criança sul-sudanesa. Foto: Unicef/NYHQ2015-1395/Rich

Mães

Por outro lado, o documento afirma que África Subsaariana teve “o progresso mais impressionante” para garantir que as crianças recebam a vacina contra o sarampo. No ano 2000, 53% dos menores recebiam as doses e atualmente o índice é de 74%.

A quinta meta está relacionada com a saúde materna: a morte de mães durante o parto ou na gravidez diminuiu 49%, o que não chega a ser suficiente para o cumprimento do objetivo, que previa uma redução de 75%.

Juntas, a África Subsaariana e o Sul da Ásia concentram 86% de todas as mortes maternas que ocorrem no mundo. E apenas 49% das africanas recebem os cuidados médicos necessários durante a gravidez.

Sida

O Objetivo de Desenvolvimento do Milénio de número 6 está ligado ao combate da Sida, malária e tuberculose. A incidência do Sida caiu de forma consistente na África Subsaariana nos últimos anos, uma queda de mais de 50% nos novos casos.

Porém, mais progressos são necessários, como revelou à Rádio ONU, de Genebra, o médico do departamento de HIV/Sida da Organização Mundial da Saúde, Marco Vitória.

"Atualmente nós temos cerca de 35 milhões de pessoas vivendo com HIV, sendo que cerca de 70% dessas pessoas moram em países na África Subsaariana. No caso específico de países que falam português, a gente pode comparar que o Brasil, por exemplo, tem parâmetros bastante bons com relação a atingir essas metas, enquanto outros países como São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, que enfrentam diversos problemas com relação a outros agravos de saúde, têm avançado bastante no sentido, mas ainda encontram muitos desafios para se conseguir atingir essa meta.”

Malária

O sul de África continua a registar o maior índice de novas infeções: 700 mil, enquanto o norte do continente tem uma das taxas mais baixas de novos casos de HIV: 13 mil registados em 2013.

Porém, a África Subsaariana é a região do mundo mais afectada pela epidemia de HIV: um total de 1,5 milhão de novas infeções, a maioria na Nigéria, Uganda e África do Sul, país que continua a ter o maior número de pessoas com Sida.

Sobre a malária, redução das mortes entre crianças menores de cinco anos chegou a 69%. O relatório destaca ainda que o surto de ébola ensinou muitas lições sobre a vulnerabilidade de países africanos e a importância de se investir no sector de saúde para evitar novas epidemias.

Falta de água potável é problema em muitos países. Foto: Unamid/Albert González Farran

Saneamento

Garantir a sustentabilidade ambiental é o sétimo objetivo, que foca principalmente em avanços nos sectores de água e de saneamento. O acesso à água potável aumentou apenas 20% na África Subsaariana, onde mais de 330 milhões de pessoas usam fontes de água imprópria para o consumo.

Entre 1990 e 2015, a proporção da população africana com acesso ao saneamento básico subiu de 24% para 30%. Cerca de 55% dos habitantes da África Subsaariana vivem em favelas.

A oitava meta foca em parcerias globais para o desenvolvimento e o relatório traz informações sobre progressos mundiais. Por exemplo, no campo das tecnologias da comunicação, o total de inscrições de telemóveis chega a 7 mil milhões, ultrapassando o número de assinaturas de telefone fixo.

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