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Sobe número de mulheres e crianças que detonaram bombas na Nigéria

Aldeias atacadas pelo Boko Haram. Foto: IRIN/Aminu Abubakar

Sobe número de mulheres e crianças que detonaram bombas na Nigéria

Unicef afirma que aumento acentuado ocorreu na frequência e na intensidade; eventos ocorridos até maio deste anos ultrapassaram o total de incidentes do ano passado no nordeste do país.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Três quartos dos homens-bomba usados nos 27 ataques ocorridos no nordeste da Nigéria, até maio, foram mulheres e crianças.

O Fundo da ONU para a Infância, Unicef, observou esta terça-feira que o número de incidentes dos primeiros cinco meses deste ano ultrapassou os 26 registados em todo o ano passado.

Vítimas

O representante do Unicef na Nigéria afirmou que as crianças não incitam os ataques suicidas, mas são intencionalmente usadas por adultos da "forma mais horrível". Jean Gough reiterou que os menores "são antes de mais vítimas e não perpetradores" desses atos.

A agência ressalta que o aumento acentuado ocorre na frequência e na intensidade dos ataques. As meninas e mulheres detonam bombas ou explosivos presos na sua cintura em locais movimentados como praças e estações rodoviárias.

Desde julho de 2014, as menores estiveram envolvidas em nove incidentes de suicídio de crianças de idades compreendidas entre 7 e 17 anos. As identidades e idades exatas não foram verificadas, pelo facto de as estimativas serem baseadas principalmente em relatos de testemunhas oculares.

Testemunhas

No total, o Unicef estima que os deslocamentos infantis chegam a 743 mil nos três estados mais afetados pelo conflito na Nigéria. Já o número de crianças desacompanhadas e separadas chegaria a 10 mil.

A separação dos menores das famílias ocorreu durante a fuga da violência. Gough disse que sem a proteção da família, as crianças estão em maior risco de exploração por parte dos adultos no que pode levar ao seu envolvimento em "atividades de grupos criminosos ou armados."

A preocupação da agência é que o aumento do uso de crianças como bombistas suicidas possa fazer com que estas sejam tidas como potenciais ameaças. De acordo com o Unicef, isso poderia levar à sua associação a grupos armados em risco de retaliação e impedir que estas fossem reabilitadas e reintegradas na comunidade.

 Sofrimento

A agência trabalha com parceiros e com autoridades nigerianas para reduzir a vulnerabilidade das crianças, através da identificação das que estão sem os pais ou familiares e oferecendo cuidados adequados.

Com ações de apoio psicossocial, mais de 35 mil crianças foram alcançadas com ações para lidar com o mal-estar agudo e o sofrimento resultantes do conflito.

Com a posse do novo presidente nigeriano, prevista para esta semana, o apelo às autoridades é que a segurança e o bem-estar de todas as crianças, especialmente as afetadas pela crise no nordeste, estejam no topo da agenda política.

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