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Ban: milhões sofrem por falhas de governos e abusos de direitos humanos BR

Ban Ki-moon discursa no National Press Club, em Washington. Foto: ONU/Eskinder Debebe

Ban: milhões sofrem por falhas de governos e abusos de direitos humanos

Secretário-geral afirmou que “pobreza insuportável” também é causa de sofrimento em todo o mundo; em discurso na capital americana, ele falou sobre crise na Síria e no Iêmen.

Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que “milhões de pessoas no mundo continuam sofrendo com as consequências devastadoras de falhas de governos, violações dos direitos humanos e de uma pobreza insuportável”.

A declaração foi feita, esta quinta-feira, durante discurso no National Press Club, em Washington, a capital americana.

Múltiplas Crises

Segundo Ban, o mundo enfrenta múltiplas crises e existem mais de 50 milhões de refugiados e deslocados internos, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial.

Ele disse que a ONU fez um apelo de US$ 16 bilhões para cobrir a ajuda humanitária para 2015, quase cinco vezes mais do que o necessário há uma década.

Ban alertou que a guerra na Síria, que entrou no quinto ano, continua piorando. Segundo ele, as partes envolvidas no conflito demonstram pouco ou nenhum interesse em acabar com os confrontos.

O chefe da ONU disse que pediu ao enviado especial para a região, Staffan de Mistura, que realize uma série de reuniões em Genebra, nas próximas semanas.

O objetivo é “identificar se alguém está seriamente disposto a participar de negociações significativas para pôr um fim a esse pesadelo”.

Ele fez um apelo, em nome dos palestinos que estão no acampamento de refugiados de Yarmouk, perto da capital síria, Damasco. Ban explicou que eles estão em meio à “máquina militar” do governo e à brutalidade dos grupos extremistas.

Segundo o secretário-geral, os refugiados não têm chances de deixar o local e muito pouca assistência humanitária acaba entrando no acampamento por causa da violência.

Ban disse que a comunidade internacional tem de fazer mais para salvar milhares, inclusive 3,5 mil crianças, da catástrofe.

Chamas

O chefe da ONU alertou que o “Iêmen também está em chamas”. Ele afirmou que antes mesmo da escalada dos confrontos, dois em cada três iemenitas necessitavam de ajuda humanitária.

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Yarmouk tem sido cenário de intensos combates desde o dia 1º de abril. Foto: Unrwa
Ban declarou que os níveis de insegurança alimentar são maiores do que os das regiões mais pobres da África. Ele disse que os conflitos recentes simplesmente multiplicaram o sofrimento e a insegurança no país.

Segundo o Unicef, 33% dos combatentes no Iêmen são crianças. O secretário-geral pediu cessar-fogo imediato e afirmou que é importante abrir corredores humanitários para a entrada de suprimentos e uma passagem para uma paz verdadeira.

A ONU apoia um processo diplomático para o país e diz que essa é a melhor forma de acabar com uma guerra com implicações terríveis para a estabilidade regional.

Sequestros

No discurso, Ban citou ainda a situação na Nigéria. Ele espera que o novo governo possa promover o retorno à normalidade e também a liberação das meninas que foram sequestradas e maltratadas.

No Sudão do Sul, o secretário-geral afirmou que mais de 115 mil pessoas estão abrigadas em bases da ONU, mas a situação é muito frágil. Ele falou ainda sobre os esforços para resolver questão nuclear iraniana.

Ban elogiou o acordo inicial alcançado pelo P5+1, grupo que inclui China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e o Irã para limitar o programa nuclear do país árabe e retirar as sanções contra Teerã.

O chefe da ONU disse ainda que o mundo está horrorizado com os ataques terroristas e a violência cometidos por grupos como o Daesh, ou Isil, Al-Shabaab, Boko Haram, entre outros.

Pobreza e Clima

Além das guerras e conflitos, Ban falou também que nos últimos 15 anos o mundo tem tentado cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Durante esse período, foi possível retirar 700 milhões de pessoas da extrema pobreza.

Ações realizadas pela ONU, parceiros e os Estados-membros conseguiram evitar milhões de mortes de Aids, malária e tuberculose. Milhões de crianças, incluindo meninas, têm mais acesso à educação.

Segundo Ban, “o desafio agora é completar o serviço” e é por isso que as Nações Unidas estão preparando a nova agenda de desenvolvimento para não só reduzir a pobreza, mas sim acabar com ela.

O secretário-geral afirmou que combater a mudança climática é uma parte urgente desse processo. Ele declarou que pelos próximos 15 anos o mundo vai realizar investimentos maciços nos setores de energia e infraestrutura.

Ban lembrou que os Estados-membros devem concluir o acordo sobre o clima na conferência que será realizada em Paris, em dezembro.

O chefe da ONU afirmou que “a geração atual é a primeira a ter condições de acabar com a pobreza e a última com condições de evitar os piores impactos da mudança climática”.

Para o secretário-geral, “2015 é o ano de ação global, um ano de grandes decisões que podem colocar o mundo no caminho do desenvolvimento sem deixar ninguém para trás”.