Acnur chocado com centenas de mortes em naufrágio no Mediterrâneo BR

Alto Comissariado da ONU pediu aos países da região que aumentem capacidade de busca e salvamento; acidente ocorreu com barco a 120 km de Lampedusa, na Itália; equipes resgataram 142 pessoas e 400 estão desaparecidas.
Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, pediu aos países do Mediterrâneo que tenham como prioridade “salvar vidas”, aumentando urgentemente suas operações de busca e resgate.
O pedido foi feito depois do naufrágio de mais um barco, nesta segunda-feira, quando estava a 120 km da ilha de Lampedusa, na Itália. Segundo as autoridades, 142 pessoas foram resgatadas e oito corpos recuperados. Calcula-se que, pelo menos 400 pessoas estejam desaparecidas.
Sistema de Resgate
O chefe do Acnur, António Guterres, afirmou que “está profundamente chocado com a notícia do naufrágio de mais uma embarcação superlotada no Mediterrâneo, onde 400 pessoas morreram”.
Segundo Guterres, “isso demonstra como é importante ter um sólido sistema de resgate no mar na região central do Mediterrâneo”. Ele explicou que, “infelizmente a operação Mare Nostrum nunca foi substituída por outra com a mesma capacidade de salvamento de pessoas”.
A Mare Nostrum foi uma ampla operação de busca e resgate no Mediterrâneo implementada pela Itália depois dos desastres ocorridos perto de Lampedusa em outubro de 2013. Na época, centenas de pessoas morreram em dois naufrágios. A iniciativa foi suspensa em dezembro do ano passado.
“Triste e Horrorizado”
O diretor executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc, disse que também ficou "triste e horrorizado" com o afogamento de centenas de migrantes no Mediterrâneo.
Yuri Fedotov fez a declaração em entrevista à Rádio ONU, esta quarta-feira, em Doha, onde participa do Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Penal.
Fedotov disse que o contrabando de migrantes explora cruelmente o seu desespero e dá altos lucros às organizações criminosas.
Segundo o chefe do Unodc este episódio ocorreu num dia e "uma pessoa do outro lado do Mediterrâneo pode ter recebido mais de US$ 1,5 milhão na sua conta bancária" com a operação de contrabando.
Combate
Para ele, esse tipo de crime precisa ser combatido. Fedotov destacou a necessidade de se proteger os direitos dos migrantes e apoiá-los além de dar auxílio às mulheres e crianças, incluindo os menores desacompanhados.
Fedotov também citou a necessidade de enfrentar os criminosos e acabar com sua rede através do reforço da cooperação entre as nações, as organizações intergovernamentais e a sociedade civil.
Ele disse ainda que as soluções estão contidas na Convenção da ONU sobre Crime Organizado Transnacional e no Protocolo sobre o Tráfico Ilícito de Migrantes por Terra, Mar e Ar.
Travessia Perigosa
O Acnur disse que a região do Mediterrâneo se tornou, nos últimos anos, na travessia mais perigosa entre as quatro principais rotas marítimas mundiais usadas por migrantes e refugiados.
As outras três estão na região do Caribe, no Mar Vermelho e na Baía de Bengala. No ano passado, 219 mil refugiados e migrantes cruzaram o Mediterrâneo, pelo menos 3,5 mil morreram.
Só neste ano, 31,5 mil pessoas conseguiram realizar a travessia e chegaram à Itália e à Grécia, os dois países que recebem mais migrantes pelo Mediterrâneo.
Segundo a Guarda Costeira italiana, os números aumentaram nas últimas semanas. Desde 10 de abril, mais de 8,5 mil pessoas foram resgatadas em dezenas de barcos na região.
O Acnur afirmou que se as 400 mortes do naufrágio de segunda-feira forem confirmadas, o total de óbitos desde janeiro vai chegar a 900.
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