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Ébola: “Há um clima dominado pelo medo”, diz funcionário do Unicef

Foto: Unicef/Jo Dunlop

Ébola: “Há um clima dominado pelo medo”, diz funcionário do Unicef

Chefe de comunicação do Escritório do Fundo para África Central e Ocidental afirmou que crianças são “especialmente vulneráveis”; agência apoia conferência entre sobreviventes da doença esta semana em Serra Leoa.

Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Trinta e cinco sobreviventes de ébola se reúnem nesta semana em Kenema, um dos epicentros do surto da doença em Serra Leoa. A conferência tem o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

Segundo a agência, o objetivo do encontro é a troca de experiências sobre o ébola, aprender a lidar com seus efeitos psicológicos e encontrar formas de ajudar pessoas infectadas.

Imunidade

Em entrevista à Rádio ONU, de Dakar, o chefe de comunicação do Escritório Regional do Unicef para África Central e Ocidental, Thierry Delvigne-Jean, falou sobre o encontro.

“É o primeiro de uma série de eventos similares nos próximos meses para inscrever as pessoas que sobreviveram ao ébola e agora estão imunes à doença. O objetivo principal do encontro é para eles partilharem suas experiências de sobreviventes, de aprender a lidar com suas consequências psicológicas e sobretudo, para nós, para encontrar maneiras de ajudar os membros das comunidades que estão infectados, especialmente as crianças.”

Estigma

Uma pesquisa recente do Unicef feita com 1,4 mil famílias em Serra Leoa mostra que os sobreviventes de ébola estão sofrendo alto nível de estigma e discriminação, o que, segundo o Fundo, enfraqueceria sua habilidade de reconstruir suas vidas.

“Isto é trágico porque significa que essas pessoas sofrem mais as consequências da doença. De facto, em todas as comunidades há um clima dominado pelo medo e as pessoas que foram expostas ao ébola e sobreviveram são muitas vezes rejeitadas por suas comunidades.”

Crianças

De acordo com o funcionário do Unicef, a pesquisa aponta que as crianças são particularmente vulneráveis, especialmente quando elas ou seus pais têm de ser isolados para tratamento.

“São crianças menores, que não compreendem a situação. Além de estarem doentes e de sofrer, não é possível tocar, fornecer o carinho e a atenção que elas necessitam. Então, trabalhar com as pessoas que são imunes à doença é, para nós, uma maneira, a única maneira de resolver esta lacuna e de trabalhar com os sobreviventes e fornecer a essas crianças a atenção que elas precisam.”

Ainda sobre a pesquisa feita pelo Unicef, segundo o Fundo, 76% das pessoas disseram que não acolheriam um sobrevivente da doença de volta à comunidade.

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