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Médico brasileiro auxilia OMS durante surto de ebola na África BR

Médicos usam roupa especial. Foto: Irin/Tommy Trenchard

Médico brasileiro auxilia OMS durante surto de ebola na África

Maurício Ferri passou duas semanas em Kenema, em Serra Leoa, tratando pacientes com o vírus; ele está em Genebra, onde fica até setembro ajudando a Organização Mundial da Saúde a controlar a epidemia.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York. 

Uma região carente, com infraestrutura precária. Uma comunidade muito abalada e com medo. Foi este o cenário encontrado pelo médico brasileiro Maurício Ferri, ao chegar em Kenema. A cidade do leste de Serra Leoa é uma das mais afetadas pelo surto de ebola.

Ferri, que mora nos Estados Unidos, se candidatou para trabalhar com a Organização Mundial da Saúde, OMS, nas equipes de emergência criadas para controlar a epidemia na África Ocidental.

Rotina

Depois de duas semanas, o médico foi enviado a Serra Leoa pela OMS. Ele chegou à capital, Freetown, no dia 15 de julho. De lá, seguiu para Kenema, onde ficou até o início da semana.

De Genebra, Maurício Ferri contou à Rádio ONU como era sua rotina no centro de saúde.

“Houve uma grande contaminação das enfermeiras e do principal médico local, vários pegaram ebola, vários morreram. E a equipe local do hospital estava bem desmoralizada, desfalcada, cansada, depois de várias semanas lidando com esse problema. Então a gente acabava fazendo tudo: chegava de manhã, vestia aquela roupa de isolamento e entrava na enfermaria. Preparava medicação, pegava veia, conversava com as pessoas, tentava fazer o diagnóstico.”

Dificuldades

Além de duas luvas e botas, a roupa especial cobria todo o rosto e o corpo de Ferri. O médico usava a vestimenta seis horas por dia, numa cidade onde as temperaturas chegam a 32 graus Celsius.

Segundo o especialista, a roupa dificultava a comunicação com os pacientes. Além disso, a maioria falava a língua local, mas algumas vezes havia tradutores que ajudavam nas conversas em inglês.

Maurício Ferri disse que estava preocupado antes da viagem, mas sempre sentiu confiança nas técnicas da OMS para evitar que fosse contaminado.

Transmissão

“Quando eu estava indo para a Serra Leoa, eu tinha uma expectativa, uma certa ansiedade do que eu iria encontrar lá e de quanto eu iria conseguir, eu mesmo, controlar o meu risco. Então isso me gerava um certo medo. Por outro lado, a gente sabe como o ebola é transmitido. Não tem absolutamente nada de mágico. O básico da transmissão do ebola é o contato com o sangue ou com outras secreções corporais. Como a gente estava com a roupa de isolamento e seguia as regras de controle de infecção, a gente ficava bem confortável para exercer normalmente as funções de médico numa unidade que às vezes tinha 30 pessoas com diagnóstico confirmado de ebola.”

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Centro de tratamento na Libéria. Foto: Unmil/Staton Winter
Como ainda não existe vacina para prevenir o ebola e nem remédios para curar a doença, o médico explicou que a medida era tentar controlar os sintomas dos pacientes, principalmente com reidratação.

Sobreviventes

“Febre, diarreia ou vômito são os sintomas mais comuns no começo da doença. Muitos morreram na comunidade. No nosso centro mesmo, a gente tinha mortes praticamente todos os dias. Mas por outro lado, a gente tinha muitos doentes que iam bem e que a gente viu sobreviver à doença, a ir para casa e isso sempre alegrava toda a equipe.”

Maurício Ferri destaca que os profissionais de saúde são testados somente se apresentares os sintomas, pois o vírus só é detectado no sangue após os primeiros sinais.

Controle

Depois da missão em Serra Leoa, o brasileiro fica em Genebra até meados de setembro, ajudando a Organização Mundial da Saúde a lidar com a epidemia de ebola.

Segundo ele, a mobilização na sede da OMS é “impressionante”, com especialistas em logística, informação e epidemiologistas. O trabalho é coordenado com as equipes em Genebra e profissionais que estão nos países da África Ocidental afetados pelo ebola.

Pelos últimos dados da agência da ONU, são 1,7 mil casos na Guiné-Conacri, na Libéria, em Serra Leoa e na Nigéria. Até o momento, 932 pacientes morreram. A OMS considera uma epidemia “sem precedentes”.

Ouça também a íntegra da entrevista com Maurício Ferri.