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Não há lugar seguro para centro-africanos das zonas rurais, alerta MSF

Mia Farrow falou sobre sua recente viagem à República Centro-Africana. Foto: ONU/Mark Garten

Não há lugar seguro para centro-africanos das zonas rurais, alerta MSF

Nas Nações Unidas, Médicos Sem Fronteiras disse que estão a piorar as carências, as doenças e a falta de proteção dos civis; atriz Mia Farrow falou da fuga de muçulmanos de grandes centros urbanos.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras, MSF, alertou para casos de extorsão e de intimidação de milhares de centro-africanos que atravessam postos de controlo ao fugirem da violência.

Falando a jornalistas na sede da ONU, o representante da entidade no país, Sylvain Groulx, disse que as carências agravam e as doenças que podem ser prevenidas estão a evoluir, paralelamente à falta de proteção dos civis.

Acessos Bloqueados

Conforme revelou, não há lugar seguro para a população rural na República Centro-Africana. O responsável acrescentou que as pessoas estão isoladas na selva e que os acessos estão bloqueados, incluindo para os países vizinhos.

A ONG explicou que a decisão do Chade de encerrar a sua fronteira com a República Centro-Africana, em maio, impede aos civis de buscarem refúgio nas nações vizinhas. O facto é aliado à falta de ajuda humanitária adequada no país.

Mia Farrow

As declarações da MSF foram feitas dois dias após um relato do drama enfrentado no país pela atriz norte-americana e embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Mia Farrow.

Falando à imprensa, também na sede da ONU, ela disse que visitou a segunda maior cidade centro-africana, Bossangoa, que foi abandonada pela população muçulmana. Em Bangui, ela afirmou terem restado poucos muçulmanos.

Assassinos

A embaixadora disse acreditar que o povo da República Centro-Africana seja o mais abandonado do mundo. Ela revelou não ter visto um nível semelhante de violência desde que deixou a área sudanesa de Darfur.

A embaixadora destacou que os atos não foram organizados, orquestrados ou sistemáticos, mas realizados pelo que chamou “de vândalos, de assassinos e de provocadores” contra a população civil.

Conflito

A MSF revelou ainda que toda a população muçulmana do oeste da República Centro-Africana deixou a região devido ao conflito.

Entre desafios apontados estão ataques retaliatórios e a falta de ajuda a milhares de pessoas que vivem no mato. Um inquérito realizado pela agência revelou que mais de um terço das famílias perderam pelo menos um membro da família entre novembro de 2013 e abril de 2014.