ONU: “tolerância brasileira” deve servir de modelo contra discriminação
Em evento do Unaids no Rio de Janeiro, Nações Unidas alertaram para um aumento do preconceito em todo o mundo; participantes do encontro pediram respeito às diferenças e aos direitos humanos.
Gustavo Barreto, do Rio de Janeiro para a Rádio ONU em Nova York.*
A ONU afirmou que a “tolerância brasileira” deve ser usada como modelo para combater a discriminação e o preconceito.
A declaração foi feita numa cerimônia aos pés da estátua do Cristo Redentor, considerado um dos pontos turísticos mais importantes do Rio de Janeiro.
Diferenças e Direitos Humanos
O evento, na sexta-feira, reuniu representantes da ONU, do governo, líderes religiosos e outros parceiros para pedir respeito às diferenças e aos direitos humanos. O vice-diretor executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, Luiz Loures, disse que existe um progresso “inquestionável” em relação à resposta à epidemia de Aids.
“A questão não é mais o vírus. Nós temos a tecnologia, temos o conhecimento para levar essa epidemia ao fim. O que nos barra hoje é exatamente a discriminação e o estigma. E, neste momento, ela cresce”, disse.
Loures afirmou que existe uma “nova onda de discriminação” em nível mundial. Segundo ele, o que se busca no Brasil não é só a visibilidade, com a aproximação da Copa do Mundo, mas também a tolerância brasileira.
A cerimônia é parte da campanha global “Zero Discriminação” do Unaids, cujo objetivo é promover uma sociedade sem estigma, e da campanha ‘Somos Todos Iguais’, da Reitoria do Cristo Redentor e da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que busca promover o respeito aos direitos humanos.
Mandela
O evento contou com a presença de dois netos de Nelson Mandela, Ndaba e Kweku Mandela. Eles fundaram a organização sem fins lucrativos “Africa Rising”, cujas ações são voltadas, principalmente, aos mais jovens com o objetivo de dar início a uma nova geração de africanos.
Segundo Kweku, é importante falar sobre a discriminação “não só porque o Brasil sediará a Copa do Mundo, mas também porque o Brasil reflete muito do mundo”. O neto de Mandela afirmou que “há [no Brasil] muitas pessoas de diferentes culturas, origens e cores de pele”.
Para ele, se for possível avançar com a campanha no Brasil, definitivamente será possível avançar em todo o mundo.
Desejo
Já o arcebispo do Rio de Janeiro Dom Orani Tempesta, nomeado cardeal pelo papa Francisco em fevereiro deste ano, também participou do encontro e falou sobre o mundo que todos desejam.
“O mundo que nós desejamos e queremos é um mundo em que as pessoas possam transitar, ir e vir de tal maneira que não se sinta ameaçado pelo seu modo de pensar, pela sua religião, pelas suas ideias, pela doença que traz, mas seja uma vida em que a dignidade aconteça. É o conhecimento, é a fraternidade, é o amor ao próximo que faz a diferença.”
Participaram da cerimônia, entre outras autoridades, Sônia Regina Gonçalves, representando as comunidades do Rio de Janeiro; o monsenhor Robert Vitillo, da Cáritas Internacional; e o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro.
Campanha Zero Discriminação
Lançada pelo Unaids em 2014, a campanha “Zero Discriminação” tem como meta combater estigma que impeça o direito a uma vida plena, digna e produtiva. Segundo a agência da ONU, a discriminação é uma grave violação aos direitos humanos, além de ser ilegal, imoral, ofensiva e desumana. A borboleta da campanha, símbolo de um processo de transformação, representa o compromisso em assumir um comportamento aberto à diversidade e à tolerância.
Liderada pela porta-voz do Unaids para a Zero Discriminação e vencedora do prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, a iniciativa consagrou o dia 1º de março como Dia de Zero Discriminação.
A data busca mobilizar jovens, comunidades, organizações religiosas e defensores dos direitos humanos, entre outros, para a promoção da inclusão e do respeito a esses direitos inalienáveis.
*Apresentação: Edgard Júnior, com reportagem do Unic Rio.