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Especial: solidariedade com Guiné-Bissau marca noite lusófona na ONU

Foto: Rádio ONU

Especial: solidariedade com Guiné-Bissau marca noite lusófona na ONU

Dia da Língua Portuguesa e da Cultura teve como mote a música pela paz dos guineenses; diplomatas e cidadãos da Cplp vibraram em espetáculo que destacou país africano.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Na sede das Nações Unidas, a noite de quarta-feira começou com a chegada de lusófonos e dos seus convidados para celebrar o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura.

E os embaixadores, habituados a lidar com questões diplomáticas, o que pensam do momento de descontração com o ritmo da Guiné-Bissau?

Valores

O primeiro a responder à questão da  Rádio ONU foi o representante da Guiné-Bissau na organização. João Soares da Gama disse que a noite prometia “um pouco do muito que o país tem para oferecer ao mundo”.

“Um artista nosso muito conhecido, que é o Zé Manel Forte, irá mostrar  a cultura guineense forjada numa série de valores linguísticos, tradicionais, que tem a Guiné-Bissau neste momento.”

Afirmação

O Brasil preside a Estratégia da ONU para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau. Antes do evento, o embaixador do país junto das Nações Unidas considerou importante a afirmação dos guineenses através da cultura.

“Refletem a riqueza da música e da cultura guineense num momento em que o país atravessa um desafio difícil. A cultura é muito  importante, tanto como refúgio dos indivíduos em momentos de dificuldade, como também de afirmação da sua identidade.”

Treinar Português

No arranque da festa, o embaixador de Moçambique junto à ONU, António Gumende, levou os espectadores a treinar português. A nação preside rotativamente a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp.

Para o bloco dos oito falantes do idioma de Camões, o espírito de solidariedade levou a dedicar a noite à Guiné-Bissau e ao processo para estabilizar o país.

Harmonia

A determinação dos guineenses para construir um futuro de paz e de harmonia foi destacada nos elogios feitos ao processo de estabilização do país, que a 18 de maio realiza a segunda volta das eleições presidenciais.

No momento de agitar o palco, o ritmo esteve a cargo de Zé Manel, da banda guineense Super Mama Djombo. Com a sua música, foi feita uma viagem temática por assuntos que marcam o país.

Crioulo

O vocalista do Super Mama Djombo aproveitou a noite para contar a história das canções apresentadas em crioulo.

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Zé Manel. Foto: Rádio ONU
“Eu acho que todas as músicas em crioulo tem muitas palavras em português que a gente dá para perceber. Eu penso que a música é social. Fala do problema do povo, problema político, problema que a Guiné tem. E não é muito longe dos outros países. A Guiné não está assim tão mal. Tem problemas, mas outros países também têm problemas, cada um tem o problema dele. Tem que se ficar do lado do povo. O povo nunca erra. O povo é o povo, é humilde, indefeso, então a gente tem que falar na voz do povo.”

Diferenças Sociais

As canções abordaram questões como as diferenças sociais, por exemplo, perante as quais o músico disse que os guineenses recusam-se a ser considerados ingénuos.

O espetáculo teve espaço para um poema cantado. Zé Manel confessou que, apesar de ser da Guiné-Bissau, foi inspirado pela veia literária do antigo presidente angolano, Agostinho Neto.

Brincadeiras

A noite com o sabor do ritmo da Guiné-Bissau também levou o público a refletir com alegria sobre assuntos como as brincadeiras com as diferenças étnicas no país. Antes do fecho da atuação, Zé Manel fez um apelo à democracia.

No fim do espetáculo de uma hora, a conversa tomou conta da noite. A estrela do concerto deixou a sua impressão.

“Foi lindo, a gente teve cá representando a Cplp, todo mundo ficou satisfeito. A África é um mosaico muito grande, não é? Tem o Brasil, tem Portugal, Angola, Moçambique, tem todo mundo, é uma coisa muito linda. É uma coisa diferente mas têm sangue, não é? Vibraram, mesmo sentados escutando. A gente sente a energia.”

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Álvaro Mendonça e Moura. Foto: Rádio ONU
Portugal, na voz do seu embaixador junto à ONU, Álvaro Mendonça e Moura, falou do que considerou efeito contagiante no público.

“Eu acho que ele escolheu de propósito as letras que quis cantar aqui e acho que a assistência percebeu muito bem isso. E isso motivou uma grande adesão da assistência àquilo que ele estava a cantar. Mas é um conjunto muito bom, realmente muito, muito bom. Valeu imenso a pena trazê-los cá.”

Apoios

Após ter participado pela primeira vez no evento, o embaixador de Cabo Verde junto das Nações Unidas, Fernando Jorge Wahnon Ferreira revelou a importância de apoiar os guineenses.

“Como todos sabemos, a Guiné-Bissau tem tido um passado conturbado. Nós pensamos que com o apoio de todos, com o apoio das organizações internacionais, em particular das Nações Unidas, as eleições que estão a ser realizadas, vamos para a segunda volta das (eleições) presidenciais, poderão com o apoio de todos vir a dar de facto uma estabilidade à Guiné-Bissau, que é fundamental para seu desenvolvimento”.

Com um brinde acompanhado por uma apresentação sobre o potencial da língua portuguesa no mundo, caiu o pano da noite em que os lusófonos celebraram a língua e a cultura nas Nações Unidas.