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Guiné-Bissau tem que profissionalizar Forças Armadas, diz especialista

Guiné-Bissau tem que profissionalizar Forças Armadas, diz especialista

Intelectual guineense e chefe da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Carlos Lopes afirmou à Rádio ONU que a consolidação da democracia no país africano passa pela reforma do setor.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

As eleições gerais na Guiné-Bissau, marcadas para este domingo, podem representar o início de um longo caminho de consolidação da democracia se acompanhadas de reformas no setor de segurança.

A opinião é do intelectual guineense e chefe da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Carlos Lopes.

Ciclo Vicioso

O responsável está em Nova Iorque para participar do lançamento do Relatório Económico sobre África 2014.

Nesta entrevista exclusiva à Rádio ONU, Carlos Lopes disse que chegou a hora de a Guiné-Bissau reformar as Forças Armadas. Para ele, sem este passo, o país não conseguirá eliminar o ciclo vicioso de golpes de Estado.

“As eleições são um elemento importante e desejo, evidentemente, que elas passem muito bem, mas os problemas da Guiné-Bissau estão fundamentalmente ligados ao fato de não termos profissionalizado as Forças Armadas e elas estarem sempre por cima, como uma nuvem, que pode pôr em causa os processos políticos, mas também que têm transformado o país numa espécie de refém a nível social.”

Economia

Para Carlos Lopes, as intervenções militares têm levado também a uma regressão histórica da economia da Guiné-Bissau, se comparada a de outros vizinhos do país de língua portuguesa, no oeste da África.

“Muito do progresso que os outros países vizinhos conseguiram nos últimos anos, e podemos dar o exemplo de um país como a Gâmbia que tinha uma economia que era a metade da Guiné-Bissau e hoje é duas vezes maior que a da Guiné-Bissau, tem a ver com o fato de nós não termos resolvido esse problema dos militares. E portanto, acho que os fatos falam por si mesmos. Temos uma dificuldade muito grande de poder consolidar a democracia quando se sabe que essa democracia pode ser posta em causa todo o tempo pela intervenção militar.”

Eleitores

As eleições gerais deste 13 de abril na Guiné-Bissau serão as primeiras desde o golpe de Estado de 12 de abril de 2012, que tirou do poder o presidente interino e o primeiro-ministro guineenses.

Mais de 95% dos eleitores foram recenseados para comparecer às urnas neste domingo. De acordo com o representante especial do secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, o clima pré-eleitoral é de calma e sem incidentes graves.

Numa entrevista separada à Rádio ONU, José Ramos Horta contou que recebeu garantias diretas do comandante das Forças Armadas de que o resultado do pleito será respeitado, e de que haverá tolerância zero para manipulação ou envolvimento de militares no processo.

*Apresentação: Eleutério Guevane.