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Moçambicanos e línguas maternas, onde o português é idioma oficial

Moçambicanos e línguas maternas, onde o português é idioma oficial

Artistas e académicos destacam a sua importância na comunicação, no desenvolvimento humano e na construção da identidade; este ano, Dia Internacional da Língua Materna destaca vínculo entre a ciência e idiomas locais.

Ouri Pota, da Rádio ONU em Maputo.

Na celebração do Dia Internacional da Língua Materna, neste 21 de fevereiro, vários moçambicanos realçaram que estas são uma ferramenta de união dos povos.

Num país onde o idioma oficial é o português, os entrevistados deixaram ficar algumas palavras que fazem parte das dezenas de línguas locais. Grande parte é composta por artistas que, no trabalho diário, usam o recurso como instrumento essencial.

Ciência

Este ano, as celebrações realçam a ligação entre a ciência e as línguas locais.

Em Maputo, a Rádio ONU ouviu o musico moçambicano Chico António, célebre no mundo devido à temática apresentada das suas composições. Ele considera que a língua materna é um instrumento para a sintonia entre cidadãos do planeta.

Sintonia

“Quem esquece a língua materna não tem pátria. A língua materna é umbigo, nunca vi pessoas sem umbigo. Quem esquece a língua materna esquece sua história. Fica um vácuo, coisa que não se apalpa. A língua materna é um instrumento que te guia em sabedoria, conhecimento, inteligência e humildade para que alguém esteja em sintonia com o mundo que lhe rodeia”, disse.

Alvim Cossa: Foto: Arquivo pessoal. O grupo do Teatro do Oprimido adapta as suas apresentações nas comunidades à língua materna do público-alvo. Para o coordenador-geral, Alvim Cossa, a língua é um instrumento para o desenvolvimento humano.

Importância

“Com a língua materna comunicamos não somente nós e os outros, mas com todos nossos ancestrais e com todo mundo que nos rodeia. Comunicados com todos, a língua materna é importante porque atinge o âmago quer de quem ouve quer de quem diz as coisas. Com a língua materna conseguimos dizer coisas que de outra forma seria impossível”, frisou.

Já o artista plástico Naguib Elias disse ser necessário dominar a língua materna para melhor comunicação.

Domínio

“A língua materna é fundamental para nos podermos comunicar, porque a língua-mãe é doce que vem diretamente do coração. Não é uma língua pensada, pensar o que vai falar, a língua mãe flui, escorrega e as pessoas entendem na língua mãe do que no português, se cada um dominar a sua língua mãe eu acho que é uma grande mais-valia.”

O pesquisador do Centro de Estudos Africanos na Universidade Eduardo Mondlane, Armindo Ngunga, considera que a língua materna faz parte da identidade do cidadão e de uma sociedade.

“Eu acho que é a coisa mais importante que todos nos temos em qualquer sociedade. A língua materna confunde-se com aquilo que é cada um de nós. É só imaginar o que seria de mim sem a minha língua, o mundo estaria totalmente fechado. Eu não podia comunicar com ninguém, o mundo não se abria para mim. O que quer dizer que seria um sufoco autêntico, a língua materna faz parte da identidade de cada cidadão e também de cada sociedade.

O Dia Internacional da Língua Materna foi instituído em 1999 pela Organização das Nações Unidas para Educção, Ciência e Cultura, Unesco. O objetivo é  promover a diversidade cultural linguística.