Alto funcionário da ONU descreve áreas fantasmas no Sudão do Sul
Relatos da visita do secretário-geral assistente das Nações Unidas para os Direitos Humanos indicam retrocesso do país por 10 anos; Unicef reporta uso de menores como combatentes; conflito deve fazer mais de 100 mil refugiados até o fim deste mês.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O secretário-geral assistente das Nações Unidas para os Direitos Humanos disse haver destruição e morte por toda a parte na área sul-sudanesa de Bentiu, que considerou cidade fantasma.
Ivan Simonovic disse ter visto um quadro de horror no Sudão do Sul em declarações a jornalistas, em Juba, após uma visita de quatro dias ao país.
Retrocesso
O responsável disse que na cidade que antes tinha 40 mil habitantes não viu um único civil. Conforme contou, tudo foi queimado ou pilhado e durante a passagem pelas ruas observou entre 15 a 20 corpos em decomposição.
Um mês após o início do conflito, o representante referiu que o Sudão do Sul apresenta um retrocesso de uma década. Para Simonovic, as atrocidades em massa foram cometidas por ambos os lados. Mais de 1 mil pessoas tenham morrido devido ao conflito que opõe forças leais ao presidente Salva Kiir e o seu antigo adjunto, Riek Machar.
O responsável disse ter recebido relatos de atrocidades como assassinatos em massa e extrajudiciais, prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados, violência sexual, destruição de propriedade e uso de crianças no conflito.
Exército ou Milícias
O envolvimento de menores como combatentes nos confrontos foi alvo de preocupação do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.
Em nota, a agência informou que perante as leis internacional e do Sudão do Sul, nenhum menor de 18 anos deve ser autorizado a participar em ações do tipo como parte do exército regular ou de milícia informal.
Libertação
Sem citar números, a agência declarou ter recebido relatos credíveis de envolvimento de menores em combates, tendo instado a todas as partes a não permitir o uso de crianças e a libertá-las imediatamente.
A agência disse que enfrenta desafios como o acesso e a segurança no terreno, mas anunciou que trabalha com parceiros para garantir a recolha dos relatos de violações.
Refugiados
Desde meados de dezembro mais de 86 mil sul-sudaneses atravessaram a fronteira para os países vizinhos, refere o Alto Comissariado da ONU para refugiados, Acnur.
Estima-se que 1 mil pessoas deixem diariamente o país, esperando-se que o número de pessoas que saem do Sudão do Sul atinja mais de 100 mil até o fim de janeiro.
A agência cita as autoridades sul-sudanesas a apontar para a existência cerca de 46,5 mil refugiados no Uganda, considerado o maior anfitrião seguido da Etiópia e do Quénia.