Nova Missão: Servir a Humanidade - Parte 3
Ex-governantes lusófonos serviram a humanidade através das Nações Unidas e falam sobre seu futuro na parte final desta série. Os rumos tomados após o tempo na entidade global são destacados neste programa especial da Rádio ONU.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova York.
Para novos voos segue o ex-presidente português, Jorge Sampaio. Durante seis anos, foi enviado do Secretário-Geral da ONU para a Aliança das Civilizações e da Luta contra a Tuberculose.
Agora, a meta são conferências internacionais, mas Sampaio promete “aceitar poucas.” Uma dessas novas tarefas é a Comissão Global contra Drogas, uma iniciativa que envolve políticos, académicos e filantropos.
Projetos e Memórias
“É uma Comissão que está, obviamente, a pugnar por uma abordagem mais virada para o doente. Sem prejuízo da repressão, que é preciso continuar a manter, contra os criminosos, mas ter uma abordagem relativa às questões da saúde pública, do doente, daquele que consome mas que não é traficante e que precisa de ter uma perspetiva de tratamento, de reinserção etc. É esta nova abordagem que começa a despontar e que se tem visto agora na América Latina, nomeadamente neste documento da OAS, a Organização dos Estados Americanos, um documento interessante sobre isso e outros países têm tomado a liderança neste momento.”
Para Sampaio, ficam na memória momentos que chama “boa semeadura” feita ao colaborar para a agenda global. Para ele, o tempo é de passar o testemunho de um período que chama de grandes exigências.
A Comissão Global de Políticas contra Drogas é presidida pelo ex-chefe de Estado do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
Na entrevista para esta série da Rádio ONU, de São Paulo, o antigo presidente brasileiro disse que já fez recomendações às Nações Unidas sobre o assunto.
Combate às Drogas
Comissão Global de Políticas contra Drogas. “A posição que prevaleceu até agora na ONU, que foi, digamos, limitada pelas decisões a respeito das drogas, no sentido de uma guerra às drogas. (Queríamos que) mudasse o tom, para permitir outras políticas mais humanas, de redução das drogas, de redução dos danos causados pelas drogas. Claro que os traficantes e tudo o que vem junto, como lavagem de dinheiro e evasão fiscal, têm que ser duramente combatidos.”
Um outro ex-chefe de Estado preocupado com os grandes desafios do futuro é o moçambicano Joaquim Chissano. Aos 74 anos, Chissano diz que vê uma nova arrancada. Após passar 10 anos a intervir em diálogos de paz e a atuar como mentor de agências das Nações Unidas, ele agora aposta num projeto agrário pioneiro em África.
Revolução Verde
Para tal, conta com quem já lidou na organização, para mostrar como fazer as coisas sem depender do Estado. Chissano não descarta o impulso do anterior Secretário-Geral da ONU, que lidera a Aliança para a Revolução Verde em África, Agra.
“Espero cooperação do antigo Secretário-Geral, Kofi Annan, que está no Agra. É para desenvolvermos um projeto. Se pegar bem, vai até ser modelo de desenvolvimento rural com iniciativa dos próprios cidadãos, para melhorar as suas condições de vida. Através de iniciativas próprias e com uma melhor organização das comunidades, com um apoio e knowhow que pode vir de fora para apoiar. Os esforços e as vontades para resolver seriam dos próprios cidadãos. Para se fazer isso penso que deveria estar mais presente.”
Uma outra governanante de Moçambique tambem está dedicando parte do seu tempo a iniciativas privadas com um cunho social.
A política pode tê-la feito famosa como chefe de governo moçambicano, durante seis anos. Mas Luísa Diogo não hesitou em readaptar a sua carreira da banca para a política e vice-versa. É membro de painéis da ONU a representar o empresariado e o setor privado após ter dado a voz como governante.
Inspiração e Experiência
Luisa Diogo Foto: ONU O recado da ex-líder é para quem sonha com a ONU e não pare de aspirar. Para ela a entidade é fonte de inspiração, um ciclo virtuoso de conhecimento e um teste da experiência para o qual se paga um preço.
“Olhando para o conhecimento que a pessoa tem é a prova de que o percurso que já fez traz consigo o reconhecimento de que esta é capaz e pode influenciar efetivamente sendo respeitada. O último aspeto é que a pessoa tenha um país que seja respeitado. Quando a pessoa consegue combinar a sua capacidade, a sua experiência e sua especialidade com prestígio do país fica bom. O país fica valorizado e a pessoa fala com mais tranquilidade.”
Ainda sem revelar o futuro estão o ex-presidente de Timor-Leste, José Ramos Horta, e o ex-primeiro-ministro português António Guterres.
Ambos ainda traçam ainda a sua trajetória na ONU, após terem assumido cargos de comando nos seus países.
Guiné-Bissau
Ramos Horta fecha com um olhar otimista o primeiro ano na Guiné-Bissau como enviado do Secretário-Geral da ONU. Acompanha a reposição da ordem constitucional no país, após o golpe de Estado de abril de 2012.
“Acredito que com forte envolvimento da comunidade internacional através do poder de dissuasão, de diálogo, vamos realizar as eleições em março, a seguir organizar uma conferência de doadores para financiar o país, para que Guiné-Bissau possa entrar num outro capítulo de sua vida.”
Já no cargo de alto comissário da ONU para Refugiados, o português António Guterres lida com desafios como a Síria, a origem de um dos maiores êxodos de refugiados da história recente.
Apoio aos Refugiados
“É preciso receber refugiados, ter fronteiras abertas em todo o mundo. Receber refugiados em instalação. É preciso dar apoio financeiro às organizações humanitárias e é preciso
António Guterres. Foto: ONU/Jean-Marc Ferré apoiar os Estados que recebido os refugiados. E dar-lhes também não apenas apoio financeiro mas apoio técnico, tudo é necessário no presente momento. “
A atuar em painéis das Nações Unidas, como representantes de agências, na mediação ou ainda como conselheiros, vários ex-líderes de países de língua portuguesa desafiaram fronteiras e exploraram novos territórios. Foram destaque na série Nova Missão: Servir a Humanidade.
“Tudo isto são coisas que foram semeadas e precisam de ser desenvolvidas de uma forma ou de outra.”
“As pessoas treinadas na vida pública não devem simplesmente ficar em casa depois que terminam seus mandatos e nem devem ficar, a meu ver, querendo voltar a ser presidente o tempo todo. Abre espaço para os outros e vai fazer outras coisas tão importantes como e que são necessárias.”
Aceda aqui ao capítulo 1 e ao capítulo 2 da série.
Reportagem de Edgard Júnior, Eleutério Guevane, Leda Letra e Mônica Villela Grayley.
Assistência de Produção: Ana Duarte Carmo e Denise Costa.