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Chissano diz porque saíu da mediação do diálogo com Joseph Kony

Chissano diz porque saíu da mediação do diálogo com Joseph Kony

ONU diz que violência do grupo armado mina a estabilidade da região central de África; pormenores são revelados quase cinco anos após o ex-chefe de Estado ter deixado de desempenhar o papel.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque

O ex-presidente de Moçambique disse ter deixado de mediar o diálogo entre o Uganda e os rebeldes do Exército de Resistência do Senhor, LRA, pelo comportamento do líder do grupo perante o perigo de ser apanhado pelo Tribunal Penal Internacional, TPI.

Joaquim Chissano fez a revelação numa entrevista exclusiva à Rádio ONU, da capital de Madagáscar, Antananarivo.

Estabilidade

O antigo enviado representou as Nações Unidas no diálogo com o que hoje é tido como grupo armado violento que está a “minar a estabilidade da região.”

“Chegámos a uma conclusão depois de ter visitado o chefe dos rebeldes numa floresta, onde eles estavam, e ter tido dois encontros na fronteira, já do lado do Sudão. Tínhamos conseguido juntamente com o mediador que era o vice-presidente do Sudão do Sul, chegar a um acordo, em que só faltava a assinatura entre o Joseph Kony, que é o líder dos rebeldes, e o presidente do Uganda, mas as coisas andaram mal por causa das ameaças que o Joseph Kony sentiu que vinham do Tribunal Internacional Criminal, então suspendi a minha participação, por falta de interlocutor. Achei que não valia a pena estar a perder tempo só indo visitar o Uganda, sem poder fazer avançar as coisas, porque não havia meios de se conseguir um contacto com o chefe dos rebeldes, não se sabia do seu paradeiro.”

Negociações

O anúncio de abandono da mediação por parte de Chissano foi feito no princípio de 2009. As negociações tiveram início três anos antes na atual capital do Sudão do Sul, Juba.

O LRA opera em países como a República Democrática do Congo, República Centro-Africana e Sudão do Sul.

Escravidão Sexual

De acordo com a ONU, o grupo notabiliza-se por ações como massacres em aldeias, mutilação das vítimas, sequestro de crianças para o uso como soldados ou ainda o uso de meninas para a escravidão sexual.

No Uganda, os ataques visavam civis e as forças de segurança, nas operações que antecederam a expulsão do grupo em confrontos com o exército, em 2002, cerca de 22 anos após ter sido formado.

Em novembro deste ano, a ONU pediu aos Estados membros para apoiar os esforços para enfrentar a ameaça do LRA, com vista a garantir que sejam sustentados os progressos alcançados ao longo dos últimos anos.