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Nova Missão: Servir a Humanidade - Parte 2 BR

Nova Missão: Servir a Humanidade - Parte 2

No segundo programa desta série especial, a Rádio ONU expõe o que mudou quando ex-chefes de Estado e de governo de países de língua portuguesa dedicaram parte do seu tempo para apoiar a agenda internacional.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova York.*

Fernando Henrique Cardoso do Brasil  presidiu o Painel de Pessoas Eminentes sobre Relações entre a ONU e a Sociedade Civil, grupo criado pelo então Secretário-Geral Kofi Annan em 2004.

Durante um ano, o painel avaliou como a ONU e seus órgãos, como a Assembleia Geral, poderiam articular melhor o seu trabalho com as necessidades da sociedade civil e das organizações não-governamentais.

Peso da Experiência 

Nesta entrevista à Rádio ONU, Fernando Henrique Cardoso falou da decisão das Nações Unidas em utilizar a experiência de ex-presidentes para ajudar a resolver os problemas do mundo.

“Eu não imaginava, mas achei muito produtivo. Mesmo agora, com a questão da Síria, da Palestina, no Sudão, tem havido esse recurso de enviados especiais, que muitas vezes são ex-presidentes e que podem desempenhar um papel de conciliação, de arbitragem e ajudar o trabalho do Secretário-Geral da ONU, que é imenso.”

Vida como Presidente e Vida na ONU

Aos 82 anos, ele avalia as diferenças entre a vida como presidente e no período pós-mandato, que inclui a fase em que contribuiu para a ONU.

Fernando Henrique Cardoso. Foto: IFCH “Você quando é presidente tem apoio dos ministros, da estrutura militar, tem avião à disposição, e quando você é ex-presidente você tem de trabalhar por sua própria conta. A tarefa é pesada. Eu participo de muitas comissões internacionais, minha agenda é muito pesada. Mas ainda assim, eu acho que é melhor estar em atividade. E nem tudo se limita ao poder institucional. As pessoas treinadas na vida pública não devem simplesmente ficar em casa depois que terminam seus mandatos e nem devem ficar, ao meu ver, querendo voltar a ser presidente o tempo todo. Abre espaço para os outros e vai fazer outras coisas tão importantes como e que são necessárias.”

Luísa Diogo

Outra líder lusófona que se manteve ativa depois de deixar o poder foi Luísa Diogo.

A moçambicana chefiou o governo durante seis anos, até 2010. Atualmente, cumpre a terceira e mais nova colaboração com a ONU no painel que deve elaborar um relatório contra as mudanças climáticas.

Antes, esteve no Painel do Secretário-Geral Sobre Sustentabilidade Global, aconselhando sobre questões da agenda pós-2015 e da agenda da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20.

Luísa Diogo. Foto: WEF Painel Sobre Sustentabilidade Global

Em entrevista à Rádio ONU, de Maputo, Luísa Diogo fala dos seus momentos na primeira ligação com a organização depois de ser governante. Nas reuniões do grupo, um dos dilemas que enfrentou foi diferenciar medidas para um país e para o planeta.

“Durante o debate, às vezes, alguns descarrilavam para a defesa do posicionamento do seu país. Quando íamos ao intervalo perguntava: aquela opinião que deu é sua ou do seu país? A pessoa respondia: ‘é opinião do meu país.’ Eu dizia ‘faça o esforço, apresenta a sua própria opinião.’ A pessoa dizia: ‘a minha própria coincide com a opinião da maioria. Mas eu como país não posso defender aquela opinião’.”

Reflexões de Joaquim Chissano

Essas reflexões sobre a experiência como indivíduo e representante oficial de um país também são notadas por Joaquim Chissano.

Em declarações à Rádio ONU, o ex-chefe de Estado de Moçambique admitiu que abrir portas à experiência nas Nações Unidas o levou também a decidir sobre atividades que já tinha antes.

“Havia vezes em que requeria de mim uma postura de funcionário das Nações Unidas, quando eu não era. Eu não tinha pedido emprego na ONU. Há certas coisas que eu não podia aceitar. Por exemplo, quando me pediram para eu pedir licença ao Secretário-Geral para eu pertencer a organizações às quais já pertencia antes de ser convidado pelo secretário-geral para dar-lhe um apoio. Eu achei que não devia ser sujeito a pedir licença. Por exemplo, para trabalhar com o Hunger Project, que é uma organização não-governamental ou com the Crisis Roots ou outras organizações similares.”

Painel de Alto Nível sobre Reformas

Joaquim Chissano e Jorge Sampaio em Portugal, enquanto ambos assumiam a presidência dos seus respetivos países. Foto: Portal do Governo Após ter assumido a presidência por 18 anos, Joaquim Chissano fez parte de Painel de Alto Nível sobre Reformas na ONU, em 2004. Atualmente, aconselha entidades ligadas à Organização Meteorológica Mundial, à Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento e ao Fundo da ONU para População.

O grupo de antigo líderes que apoiaram a ONU inclui a experiência do português Jorge Sampaio, que defende um maior papel de pessoas influentes na organização. A ideia é que seja despertado o seu interesse para problemas de saúde em nível global.

Jorge Sampaio e o Combate à Tuberculose

Entre 2006 e 2012, Sampaio foi enviado especial do Secretário-Geral da ONU para o Combate à Tuberculose.

“Foi uma experiência única, permitiu-me conhecer meios diferentes da China à Índia, da Índia às Áfricas e a Europa também. Vários países do Leste, da Ásia, a Coreia do Sul, naturalmente. Enfim, foi uma experiência muito rica e, portanto, tem que ser continuada por alguém. Foi para mim, muito agradável ver a diretora da Organização Mundial da Saúde, que fez-me  uma homenagem quando acabei o meu mandato. Estas coisas não são importantes mas sabem bem porque, no fundo foi um presidente antigo envolvido numa causa pública com significado.”

Jorge Sampaio em visita ao Ruanda. Foto: TB Plano com o G-8

Para tornar a causa mais visível, Sampaio criou um plano que incluiu contactos com os líderes do grupo das oito maiores economias do mundo, o G-8, para defender a prioridade para o combate à doença.

Como os chefes de Estado e de governo veem o sistema global após a organização ter aberto as suas portas para o engajamento pessoal? Terá sido a ONU uma etapa da vida ou apenas um intervalo para lidar com desafios mundiais?

A visão dos líderes após a experiência na ONU será tema do último capítulo da série.

Aceda aqui ao capítulo 1 e ao capítulo 3 da série.

*Apresentação: Leda Letra.

Reportagem de Edgard Júnior, Eleutério Guevane, Leda Letra e Mônica Villela Grayley.

Assistência de Produção: Ana Duarte Carmo e Denise Costa.