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Insegurança pública ameaça desenvolvimento socioeconômico na AL BR

Insegurança pública ameaça desenvolvimento socioeconômico na AL

Relatório da ONU sugere que medidas de controle por si só não resolverão problema; para especialistas, criminalidade deve ser combatida também com criação de melhores condições de vida; Brasil entre os cinco países com maior índice de homicídio de jovens do sexo masculino.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.

As Nações Unidas afirmaram que o desenvolvimento socioeconômico da América Latina está sendo ameaçado pelas altas taxas de insegurança pública na região.

A constatação é parte do Relatório Regional de Desenvolvimento Humano 2013-2014, divulgado nesta terça-feira, em Nova York.

Estratégia

O documento recomenda prevenção e reformas institucionais, além de um acordo nacional de longo prazo para combater a criminalidade.

Os especialistas do Programa da ONU para o Desenvolvimento, Pnud, disseram que medidas de controle por si só não bastam, e que os países da região devem criar melhores condições de vida para a população como parte da estratégia para resolver o problema.

O diretor para América Latina e Caribe do Pnud, Heraldo Muñoz, afirmou que a a América Latina é a região mais violenta do mundo em termos de homicídios e roubos.

Polícia

“O Estado é muito fraco. O Estado latino-americano tem necessidade de mudanças, de reforma na área penitenciária, da justiça, da polícia. A América Latina é a região mais violenta do mundo em termos de homicídios e mortes violentas e em termos de roubos. Os roubos têm se triplicado nos últimos 25 anos.”

Combate à insegurança passa por melhorias no setor da polícia. Foto: Banco Mundial/Jesus Alfonso Para Heraldo Muñoz, o combate à insegurança passa por reformas econômicas e melhorias no setor da polícia.

“O melhoramento da qualidade de vida, do emprego, dos setores mais vulneráveis, e tem a ver ainda com o trabalho policial. Com o melhoramento do trabalho policial, com melhores dados, e uma visão mais científica do trabalho policial com estreita relações com as comunidades locais.”

Paradoxo

Para o Pnud, existe um paradoxo na América Latina. Ao mesmo tempo em que a região registra crescimento econômico e o combate a pobreza, ela sofre um aumento nas taxas de criminalidade.

Apesar dos ganhos, a América Latina continua sendo a região mais desigual e insegura do mundo. Enquanto em outras áreas, os níveis de homicídios caem, na América Latina são mais de 100 mil assassinatos por ano. De 2000 a 2010, os países latino-americanos perderam mais de 1 milhão de pessoas nesse tipo de crime.

Em 11 dos 18 países analisados, as taxas são mais altas que 10 homicídios por 100 mil habitantes. Um número considerado epidêmico. A percepção da segurança também piorou com a quantidade de roubos triplicando nos últimos 25 anos.

São Paulo e Minas Gerais

O diretor do Pnud Heraldo Muñoz falou à Rádio ONU sobre a situação no Brasil dizendo que o país tem registrado avanços importantes no combate ao crime. Em Belo Horizonte, ele citou o programa “Fica Vivo” que ajudou a diminuir a criminalidade. Muñoz falou ainda de experiências positivas na redução de casos de crime em São Paulo devido a políticas de segurança.

Mas segundo ele, há indicadores muitos altos em outras áreas da criminalidade que o Brasil precisa enfrentar.

Preocupação

Já a chefe do Pnud, Helen Clark, afirmou que sem paz não pode haver desenvolvimento. Ela lembrou que a segurança é um motivo de preocupação para vários decisores políticos e que reflete também em campanhas eleitorais.

O especialista do Pnud, Heraldo Muñoz, afirmou que não há “solução mágica” para a insegurança latino-americana e que este é um problema sério que tem de ser resolvido com visão e vontade política a longo prazo.

Para ele, cada país precisa produzir um acordo nacional de segurança pública entre o governo, partidos políticos e a sociedade civil.

Seis Ameaças

Uma das ameaças para a América Latina é a criminalidade de rua. Foto: Banco Mundial/Dominic Chavez O relatório focalizou-se em seis ameaças de impacto negativo para a América Latina: crimes de rua, violência e crimes cometidos por e contra jovens, violência de gênero, corrupção e apropriação indevida de bens públicos, violência cometida por atores do Estado e o crime organizado.

O relatório criticou ainda o que chamou de políticas de “mão de ferro” que não funcionam na região. O documento revela que em áreas, onde a repressão policial é forte, as taxas de criminalidade tendem a subir.

Uma outra causa são as deficiências no sistema escolar e as mudanças na estrutura familiar latino-americana. A combinação de drogas, álcool e armas também forma uma ameaça letal à segurança.

Corrupção e Impunidade

Corrupção e impunidade também minam a capacidade da região de enfrentar a insegurança.

O Pnud realizou pesquisas em prisões da Argentina, do Brasil, do Chile, de El Salvador, do México e do Peru. Um em cada três detentos saíram de casa antes de completar 15 anos de idade. E cerca de 13% (na Argentina) até 27% (El Salvador) jamais conheceram o pai ou a mãe.

Já no Chile, 40% dos presidiários não concluíram a escola primária. E mais de 80% não completaram o ensino fundamental.

Assassinato de Jovens

Os latino-americanos jovens especialmente os do sexo masculino são os mais afetados pela criminalidade e violência, eles também são os maiores autores desses crimes. Os mais altos índices de assassinatos de jovens estão em El Salvador (92,3%), Colômbia (73,4%), Venezuela (64,2%), Guatemala (55,4%) e Brasil (51,6%) por 100 mil habitantes.

Jovens do sexo masculino são os mais afetados pela criminalidade e violência. Foto: Banco Mundial/Simone D. McCourtie As taxas de violência doméstica, estupros e assassinatos de mulheres também aumentaram em quase todos os países pesquisados.

Pelo menos 75% dos autores de crimes sexuais entrevistados nas prisões disseram que conheciam as vítimas antes de atacá-las. E entre 20% e 40% eram pessoas da mesma família.

Honduras e Chile

Metade dos latino-americanos entrevistados para o relatório disseram que a insegurança piorou em seus países. Honduras, por exemplo, tem o índice mais alto de assassinatos do mundo: são 86,5 por 100 mil habitantes. Já o Chile tem o menor com cerca de 2 para 100 mil.

A insegurança também tem um impacto nas sociedades e instituições democráticas. E afeta a economia latino-americana como um todo.

Sem o excesso nas taxas de mortalidade por causa dos homicídios, o Produto Interno Bruto latino-americano teria sido 0,5% mais alto em 2009. O número equivale a mais de US$ 24 bilhões, ou cerca de R$ 55 bilhões.

Uma pesquisa de opinião, encomendada pelo relatório, revela ainda que entre 45% e 65% dos cidadãos latino-americanos deixaram de sair de noite com medo da insegurança. E cerca de 13% dos entrevistados tiveram que mudar de bairro por causa da criminalidade.