ONU receia ‘situação fora de controlo’ na República Centro-Africana
Alta comissária para os Direitos Humanos aponta para casos de tortura por autoridades; pelo menos 20 civis morreram em disputas de milícias de autodefesa e antigas forças Seléka a oeste.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
A alta comissária para os Direitos Humanos disse, esta sexta-feira, que o agravamento dos ataques violentos e de represálias na República Centro-Africana coloca o país em risco de mergulhar num novo conflito.
Em nota, emitida em Genebra, Navi Pillay cita confrontos envolvendo milícias de auto-defesa e as antigas forças Seléka que resultaram na morte de pelo menos 20 civis, desde 26 de outubro.
Deslocados
Os elementos conhecidos como anti-Balaka atacaram a cidade de Bouar, situada a oeste ao longo da via que liga o país aos vizinhos Camarões. Pelo menos 10 mil pessoas foram deslocadas devido aos combates.
A ONU disse ter recebido informações de que antigos integrantes do Seléka, que fazem parte de uma comissão formada após a última remodelação ministerial, seriam responsáveis por supostas detenções ilegais e abusos dos direitos humanos.
Tortura
São citados relatos do uso do edifício da Comissão Especial para a Defesa de Conquistas Democráticas, Cedad, como um “centro de detenção privada e ilegal onde a tortura é alegadamente usada de forma extensiva.”
Na nota, Pillay lembra que o órgão “não está legalmente mandatado para deter indivíduos ou investigar crimes.”
Desaceleração
Num outro desenvolvimento, o Programa Mundial de Alimentação, PMA, alertou que 1,1 milhão de pessoas está em risco de passar fome no país.
A agência disse que os receios são agravados pelas más colheitas e pela drástica desaceleração da atividade económica, após meses de violência.
Um estudo citado pelo PMA indica que pelo menos metade dos 395 mil deslocados internos não têm acesso a alimentos seguros e nutritivos suficientes para manter uma vida saudável e ativa.