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Lusófonos “com muito espaço para crescer” na cooperação sobre HIV/Sida

Lusófonos “com muito espaço para crescer” na cooperação sobre HIV/Sida

Em entrevista à Rádio ONU, especialista da ONU para Países Menos Avançados, PMA, destaca vantagens do idioma comum e pede maior sinergia entre governos africanos e o Brasil.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

O conselheiro sénior do subsecretário-geral para os Países Menos Avançados, Raul Cabral, defendeu um maior aproveitamento dos vínculos da língua para reforçar o combate ao HIV/Sida nos países lusófonos.

Em entrevista à Rádio ONU, em Nova Iorque, o especialista referiu-se ao seu nível de envolvimento com a questão em Moçambique, onde representou o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Sida, Onusida.

Infeção

Cabral considerou positiva a parceria que resultou na abertura da primeira fábrica de medicamentos para controlar a infeção no país.  O projeto surgiu da cooperação com o Brasil, que deve investir mais de US$ 24 milhões até 2014.

“A educação é com a língua, você educa as pessoas através da comunicação e a comunicação é a linguagem. O Brasil fez muitas coisas que não precisamos de reinventar na África de expressão portuguesa. Temos a vantagem de que podemos fazê-lo na mesma língua e isso facilita. Há muitos documentos (sobre o HIV/Sida) que são produzidos para a África Austral. Têm sempre que ser traduzidos para o português e perdem um pouco de qualidade. A tradução custa dinheiro e leva tempo. Será que precisamos passar por esse processo? Porque não pegar a experiência brasileira? Acho que temos muito espaço para crescer em termos de cooperação com o Brasil”, declarou.

Prevalência

Durante dois anos, Cabral dirigiu o Onusida em Moçambique, país tido como uma das nações de maior impacto da epidemia, com a taxa de prevalência em torno de 16%.

O especialista defende que haja mais sinergias entre os países africanos de expressão portuguesa com o Brasil, considerado um dos maiores exemplos de combate da epidemia a nível global.

Cooperação Sul-Sul

“Penso, e isso é uma experiência estritamente pessoal, que muito mais pode se fazer para os países africanos de expressão portuguesa com vista a aprender com a experiência brasileira. Penso que o Onusida não está a explorar como os países africanos de expressão portuguesa, a nível da Cooperação Sul-Sul, o suficiente para tirar as mais-valias, que é a vantagem de comungarmos a mesma língua poderá trazer. A fábrica de antirretrovirais é um exemplo,  um aspeto que inspira e modelo a ser seguido mas penso que há toda uma série de outros aspetos que devem ser explorados”, referiu.

A prevenção e a mudança de comportamento foram consideradas pelo especialista como determinantes para um mundo livre da pandemia.

Para os países de língua portuguesa, Cabral também sugeriu mais ações conjuntas e seminários sobre o tema, num contexto de “carência de recursos e da necessidade de busca de melhores resultados relativamente ao combate ao HIV/Sida”.