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Maior apreensão de cocaína da África Ocidental feita na Guiné-Bissau

Maior apreensão de cocaína da África Ocidental feita na Guiné-Bissau

Relatório do Escritório da ONU sobre Drogas e o Crime fala de milhares de quilos confiscados em seis anos; documento aborda impacto dos fluxos da droga na segurança regional.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

O Escritório da ONU sobre Drogas e o Crime, Unodc, defende que 2,140 quilos de cocaína foram apreendidos na Guiné-Bissau, a maior quantidade registada na África Ocidental entre 2005 a 2011.

O relatório “Crime Organizado Transnacional na África Ocidental: Uma Avaliação da Ameaça”, revela que o país é o mais gravemente afetado pelo tráfico da droga.  O documento, lançado esta segunda-feira, faz alusão ao envolvimento no narcotráfico de militares e políticos do país.

Vítimas

O estudo aponta também o rapto, a morte e a intimidação de jornalistas, de polícias, de juízes, de militares além de autoridades eleitas caso desafiem os traficantes. Os autores dos crimes também foram vítimas de seus rivais, refere o estudo.

De acordo com a Unodc, o tráfico de cocaína esteve por detrás de fenómenos como a instabilidade e a venda ilegal de armas de fogo, na Guiné-Bissau mas também a rebelião no norte do Mali;

O documento aborda também o financiamento da pirataria marítima, um fenómeno que ameaça minar o comércio no Golfo da Guiné. Para a Unodc, os fluxos da droga demonstram o ressuscitar do crime organizado transnacional, tendo chegado “ao nível de ameaça à segurança na África Ocidental.”

Orçamentos

O tráfico de cocaína é tido como a atividade mais lucrativa criminal na região. O fluxo da droga caiu para cerca de 18 toneladas anuais em 2010, de um pico de 47 toneladas em 2007.

Mas o estudo revela que os lucros do comércio ilegal da droga podem ser ainda maiores do que os orçamentos de segurança nacionais de vários países da África Ocidental.

Grupos Independentes

A cocaína, tida antes como propriedade de grupos sul-americanos que usavam a logística da região, estaria também a ser traficada por grupos independentes da África Ocidental que levam drogas para a sua região.

Além do produto,  o estudo indica o surgimento da produção e do tráfico da metanfetamina. Em 2011 e 2012, dois laboratórios foram detetados na Nigéria.

Brasil

O relatório destaca o Brasil como uma fonte de cocaína para a Guiné-Bissau, mas também para os países da região.

Nos últimos anos é apontado o aumento da quantidade de cocaína traficada para e através do Brasil com a comunidade nigeriana de São Paulo a assumir o controle das exportações, deixando o mercado interno para gangues locais.

Nigerianos

Estima-se que nove em cada dez pessoas que transportavam drogas no seu corpo, detidas no aeroporto internacional de São Paulo, teriam obtido cocaína de grupos nigerianos.

A maioria dos envios é feita para Angola e África do Sul. Em dois voos de São Paulo para Luanda em 2011, as autoridades angolanas fizeram uma busca em passageiros e encontraram mais de 20 envios de cocaína em cada.

Europa

Depois do fornecimento para o consumo na África Austral, o resto da droga  é transportado dos países da região para a África Ocidental ou diretamente para a Europa.

Estima-se que 3 mil transportadores de metanfetamina tenham viajado da África Ocidental para a Ásia Oriental em 2010, transportando drogas no valor estimado em US$ 360 milhões.