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Unesco diz que há razões para esperança sobre Patrimônio Cultural no Mali

Unesco diz que há razões para esperança sobre Patrimônio Cultural no Mali

Agência espera que manuscritos do Património Cultural da Humanidade ainda estejam em poder de dezenas de famílias; parte dos 40 mil manuscritos guardados numa instituição de reposição foi queimada durante o conflito.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

A Organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, diz haver razões para acreditar que possam ser encontrados e digitalizados mais documentos históricos da cidade maliana de Timbuktu.

A agência refere que a maioria dos antigos manuscritos do centro urbano, que é Património Cultural da Humanidade, é parte de cerca de 30 bibliotecas privadas mantidas por famílias durante vários séculos.

Património

No princípio deste mês, a diretora-geral da agência, anunciou um programa de assistência para reconstruir o património maliano, após o recente conflito entre governo, seus aliados e milícias islamitas. O tema dominou os contactos entre a chefe da Unesco, Irina Bokova, e governantes locais.

Falando à Rádio ONU, de Paris, o chefe da Unidade de África na agência, Lazare Eloundou, abordou a dimensão das perdas. Grande parte destas, teria ocorrido durante a fuga dos extremistas da cidade na ofensiva para recuperar o centro em Janeiro.

O representante sublinha que podem ter sido perdidos até 3 mil manuscritos, e realça o seu caráter único e esclarecedor sobre o papel desempenhado por Timbuktu entre os Séculos 15 e 16.

A vasta gama de conhecimento antigo de Timbuktu inclui matérias sobre teologia, matemática, medicina, astronomia, música, literatura, poesia e arquitetura, entre outros.

Bibliotecas

A agência diz partilhar a esperança de recuperação do Património com várias

Foto: Unesco ONGs parceiras que trabalham com as bibliotecas privadas.

Eloundou disse acreditar que vários manuscritos ainda estejam escondidos em algum lugar ou tenham sido levados para fora de Timbuktu pelas famílias, por serem parte dos seus tesouros. Ele anunciou a continuação de uma avaliação para que seja apurada a extensão dos danos e prossiga a digitalização dos documentos.

Colonização

Ao realçar a importância do material perdido, a Unesco lembra que a cidade foi um centro de aprendizagem e de cruzamento de trocas comerciais e culturais. O local também contém informações sobre a história antes da colonização da África muçulmana.

O representante da Unesco disse ocorrer sempre uma manutenção anual dos edifícios, e revelou receios de que a sua situação pode ser ainda pior. Eloundou revelou haver  preocupação com a cidade de Gao, onde está o Túmulo de Askia, um imperador, chefe militar e político reformista. Segundo contou, a manutenção não tem sido feita há mais de um ano, após a queda de um pilar que ainda não beneficiou de reconstrução.

Rebeldes

Com o apoio da Unesco foi criado o Instituto de Ensino Superior e Pesquisa Islâmica Ahmed Baba, em 1974, para a preservação dos manuscritos. O considerado maior repositório de documentos antigos na África Ocidental, foi ocupado em Abril pelos rebeldes.

Foto: Unesco A Unesco destaca que grande parte do material físico do Instituto, incluindo equipamento de digitalização, foi destruída. Parte dos 40 mil manuscritos guardados na instituição foi queimada.