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Silvina, um“rosto de sucesso”, no combate à Sida em Moçambique

Silvina, um“rosto de sucesso”, no combate à Sida em Moçambique

No âmbito do Mundial de Luta contra a Sida, Governo moçambicano assegura ser “possível acabar com a transmissão do HIV de mãe para o filho”; Onusida aponta queda em novas infecções do vírus na faixa etária dos 15 aos 49 anos.

Manuel Matola, da Rádio ONU em Maputo.*

Há dois anos, Silvina descobriu que ela e o seu segundo filho viviam com o HIV, o vírus que provoca a Sida. A doença é a segunda maior causa de morte em Moçambique, depois da malária.

Hoje, aos 34 anos, Silvina e o filho de 8 anos representam os “rostos de sucesso” do trabalho desenvolvido pela comunidade religiosa italiana, Santo Egídio no projecto Dream. A instituição concede tratamento gratuito a cerca de 4 mil moçambicanos seropositivos, incluindo crianças.

Resultados

Face às enfermidades, a que o segundo filho de oito anos sofria, Silvina decidiu submeter todos os filhos a exames médicos e obteve resultados contraditórios.

“A menina é negativa, o miúdo saiu positivo. O terceiro é ainda negativo, mas o bebé, como ainda falta outro teste - ele fez de seis meses - ainda não tive o resultado”.

Consulta

O resultado da filha mais nova só será conhecido neste mês de dezembro, após nova consulta médica. Mas Silvana está confiante.

“Tenho a certeza de que ele vai sair salvo, porque eu faço seguimento”.

A convicção desta mulher de 34 anos espelha os resultados obtidos nos últimos anos por milhares de mulheres  grávidas moçambicanas que vivem com o vírus que pode provocar o Sida.

Moçambique

Segundo o último relatório da Onusida, Moçambique integra a lista de 25 países mais pobres do mundo, onde se registou uma queda de novas infecções de HIV para mais de metade, incluindo a transmissão de mães para filhos. O  país viu também reduzida em 31% a taxa de infecção entre os adultos de 15 a 49 anos.

Em declarações à Rádio ONU, de Maputo, Luísa Brumana, especialista sénior de HIV/Sida no Fundo da ONU para Infância, Unicef, em Moçambique, explica as razões do desempenho.

Evidências

“Moçambique está a tomar muito a sério as recomendações globais no sentido de incorporar as evidências mais recentes”.

Sob o lema, "É possível acabar com a transmissão do HIV de Mãe para o Filho", as autoridades moçambicanas asseguram, no Dia Mundial de Luta contra a SIDA, no último dia 1 de dezembro, promover e expandir a resposta à epidemia que continua a ser um grave problema de saúde pública no país.

A especialista sénior de HIV/Sida no Unicef considera que Moçambique está firme em atingir esse objectivo.

“Acho que Moçambique, nos últimos anos, teve um enfoque muito grande exactamente na questão de evitar novas infecções nas crianças, através de uma expansão muito grande e impressionante do serviço de transmissão vertical, que agora está no território em mais de mil unidades sanitárias”.

Contudo, Moçambique ainda é dos países mais afectados pelo HIV/SIDA na África Subsaariana, com uma seroprevalência estimada em 11,5%, segundo a agência da ONU para o Sida, Onusida.

Tratamento

Em entrevista à Rádio ONU, a coordenadora do centro de tratamento de HIV para crianças na Comunidade Sant´Egídio em Moçambique, Anabela Badine, aponta os esforços do país visando à redução de transmissão do vírus que causa a Sida de mãe para filho.

“Hoje em dia as pessoas estão mais informadas, as famílias também, principalmente. Ainda existem um pouco de discriminação, mas a maior parte das famílias ja estão informadas sobre a doença e a primeira coisa que elas mesmas fazem quando tem alguém doente é procurar um hospital, que é para fazer o seguimento. Isso reduziu realmente o índice de crianças a não serem infectadas, falando principalmente das mulheres grávidas”.

Comportamento

A enfermeira de saúde materno-infantil destaca também progressos na mudança de atitude das autoridades sanitárias e no comportamento da comunidade moçambicana face à pandemia.

“Nas mulheres grávidas, nós temos 97% de crianças que nascem seronegativas, isso quando elas chegam cedo para fazer o seguimento. A outra parte da percentagem são aquelas mães que chegam tarde para começar a fazer a prevenção, ou são aquelas mães que mesmo dentro da prevenção não cumprem totalmente com aquilo que são as recomendações, que é um número muito reduzido”.

Embora a Sida ainda seja uma das maiores ameaças ao desenvolvimento, as Nações Unidas consideram que Moçambique tem registado progressos rumo ao cumprimento da 6ª Meta de Desenvolvimento do Milénio