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Especial: Dia Mundial de Combate à Aids, desafios e esperanças

Foram 2,5 milhões de novas infecções no ano passado, mas em 25 países total de contaminação caiu pela metade; objetivo do Unaids é chegar a “zero infecção”.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.*

Neste 1º de dezembro, as Nações Unidas comemoram o Dia Mundial de Combate à Aids. A infecção, surgida na década de 80, ainda afeta 34 milhões de pessoas, a maioria na África Subsaariana e no Caribe.

Neste ano, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, está marcando o Dia com uma chamada à ação, sob o lema, “Chegando a Zero”.

Vitórias

O objetivo é acabar com novas infecções atráves da prevenção e do aumento da conscientização em todo o mundo.

Em mensagem sobre o Dia, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o objetivo de se chegar ao número zero de infecções, de morte relacionadas à Aids e de discriminação é possível de ser alcançado.

Um dos diretores do Unaids, Luiz Loures, contou à Rádio ONU, de Genebra, que o fim da discriminação é uma das maiores etapas da luta no futuro.

“Na questão dos direitos humanos, na questão contra a discriminação das pessoas que têm o vírus. Em relação à viagem, em relação ao local de trabalho, em relação à escola... essa realidade tem que mudar. Aí sim, nós podemos concretamente começar a falar que estamos perto do fim da Aids. É um dia mundial muito especial.”

E não é só o estigma que tem que ser combatido. Quem vive com HIV pode se deparar com futuras barreiras até mesmo dentro de casa, como contou este soropositivo português, de 40 anos, nesta entrevista de Lisboa.

“Quando há interesse em ter uma relação com alguém temos que revelar essa parte. Obviamente que é em 80% uma coisa negativa por são poucas as pessoas que aceitam até porque elas próprias têm esse estigma com a doença e assustam-se. É sempre mais fácil não ter que lidar com mais um problema. Mas também existe o contrário, há pessoas que ultrapassam isso e que não é isso que vai ser o problema de começar uma relação e de conhecer melhor a essa pessoa.”

E de acordo com os especialistas, há diferenças entre o nível de estigma nas cidades e em áreas rurais. Foi o que contou à Rádio ONU, de Luanda, a chefe do Programa de HIV no Unicef em Angola, Karoline Fonk.

“Pelo menos aqui na capital diz-se que a situação é muito melhor mas, a áreas rurais, onde há menos acesso ao tratamento e à prevenção, por exemplo o PTV,  é muito mais baixo, os níveis de estigma continuam.”

O Unaids coloca Angola  no grupo de nações com baixa taxa de cobertura da prevenção da transmissão da mãe para o bebê, estimada em cerca de 16%.

Já a cobertura de tratamento antirretroviral está na casa de 33% em adultos e 10% em crianças.

Mas apesar de desafios, a luta contra a doença também tem vitórias a celebrar adquiridas ao longo dos últimos 30 anos.

Cientistas em várias partes do globo incluindo França, Grã-Bretanha e Estados Unidos estão pesquisando uma vacina para prevenir a infecção, e aparentam otimismo na jornada.

O coordenador da Área Internacional e de Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, Paulo Buss, falou em entrevista à Rádio ONU sobre o avanço das pesquisas.

“Temos vários estudos, alguns com Institutos dos Estados Unidos e com o Instituto Pasteur. E a vacina é uma questão de tempo. Eu acredito que nos próximos 10 anos nós poderemos ter uma vacina. Também já sabemos que a medicação bem feita, ou quanto mais precocemente feito diagnóstico em alguém é outra maneira de atacar a expansão da epidemia.”

O médico disse que graças à política do SUS do governo federal a epidemia da Aids não explodiu no Brasil.

“Todas as projeções, no início da epidemia, davam o Brasil como hoje tendo, se fosse a transmissão tão selvagem como acontece em muitos países bem mais pobres, principalmente na África, Brasil poderia ter hoje entre 1,5 milhão e 2 milhões de casos. E o Brasil tem, na verdade, ao redor de 500 mil casos diagnosticados e tratados. Então, não explodiu a epidemia de Aids no Brasil, como em muito outros lugares, exatamente pelo seu Sistema Único de Saúde, que é um direito universal.”

Faixas Etárias

Com a chegada dos antiretrovirais, a sobrevida passou a ser uma realidade para milhões de soropositivos.

O aumento de campanhas de conscientização sobre o uso de preservativo nas relações sexuais, em todas as faixas etárias, ajudou a desfazer alguns tabus que, no passado, fortaleciam o perigo da contaminação.

A utilização de seringas esterilizadas em situações de tratamento de saúde ou de usuários de drogas injetáveis levou a uma queda decisiva no número de contaminações com o HIV.

Para este soropositivo, o mais importante é não baixar a guarda na prevenção, e ao mesmo tempo, para quem tem o HIV, viver uma dia de cada vez.

“Ir vivendo o mais saudável possível e tento não me preocupar muito com o que vai acontecer no futuro. Isso seria mais um stress. Ninguém está livre de ficar doente seja lá do que for.”

O Dia Mundial de Combate à Aids foi criado pela Assembleia Geral em 1988.

*Com reportagem de Eleutério Guevane e Edgard Júnior.