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No Dia da ONU, projetos mostram o lado prático da organização no Brasil

No Dia da ONU, projetos mostram o lado prático da organização no Brasil

Mais conhecida por suas recomendações e estudos, a organização tenta ampliar o trabalho conjunto com as comunidades; Nações Unidas fazem 67 anos nesta quarta-feira.

Peri Dias, da Rádio ONU em Nova York.*

Os encontros entre chefes de Estado e governo e as discussões sobre a estabilidade mundial são o aspecto mais conhecido da Assembleia Geral da ONU, mas o órgão também atua para ajudar os 193 países-membros a colocar em prática o que foi decidido nessas conversas.

No Brasil, a equipe da ONU tem representantes de 19 programas, fundos e agências, em áreas tão diversas quanto educação, saúde, direitos humanos e financiamento de projetos.

Espírito Santo

De acordo com o Centro de Informações da ONU no Brasil, a organização conta com mais de 780 funcionários no país. A tarefa deles é trabalhar em conjunto com organizações sociais e governos, para tentar resolver alguns dos problemas mais graves.

Essa faceta mais prática fez diferença na vida de Jeovânia Barcellos. Moradora da comunidade de São Pedro, em Vitória, ela participa do Movimento de Mulheres Guerreiras da Paz, que conscientiza as famílias da região sobre o respeito aos direitos da mulher.

Poder Social

“Vamos para a porta de creches, nas praças públicas, vamos nos ônibus também, distribuímos materiais com os endereços das delegacias, tudo referente à violência contra a mulher. Tem mulheres que pegam até com medo, mas falam ‘eu vou ler isso aqui, eu preciso ler isso aqui’.”

Agricultores recebem apoio do Pnud na região Amazônica Com o apoio do programa Segurança com Cidadania, que envolve seis agencias da ONU, as Mulheres Guerreiras da Paz agora coordenam suas atividades com as de outros movimentos sociais da comunidade de São Pedro. A troca de experiências ajuda a ampliar os resultados do grupo.

“A gente senta, conversa, as meninas se sentiram mais seguras, porque até entao a gente pensava: ‘poxa, nós estamos sozinhas’.Mais mulheres decidiram participar, estar junto com a gente nessa mesma luta. Assim, ‘Jeovânia, a gente vai estar junto’. Assim, elas foram se envolvendo”.

Paz e Segurança

Comitês iguais aos da comunidade São Pedro funcionam também em Lauro de Freitas, na Grande Salvador, e em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Em todos eles, o foco é prevenir a violência de qualquer tipo, por meio de oficinas, atividades para crianças e jovens e da participação da comunidade nas políticas públicas para a região.

A encarregada do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, Érica Machado, diz que os projetos ajudam a construir uma cultura de paz nas comunidades e podem ser replicados.

“Apesar das diferenças  dos municípios, porque eles são diferentes, a gente pode trabalhar com essa metodologia em todo e qualquer município, desde que a partir dos diagnósticos a gente possa fazer essa pactuação com as comunidades.”

Crianças

O Programa Segurança com Cidadania é um exemplo de como a atuação da ONU no Brasil envolve sempre parcerias com governos, empresas ou outras organizações. É o mesmo caso dos projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, que  investiu R$ 29 milhões no país, em 2011,como apoio a organizações não-governamentais e à melhoria das políticas para crianças e adolescentes.

Para a professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católia, PUC, do Rio de Janeiro, Carolina Moulin, as parcerias da ONU com os governos trouxeram avanços importantes em áreas como o direito dos refugiados que chegam ao Brasil.

ONU comemora 67 anos No entanto, a professora lembra que essa articulação com o governo é um dos pontos em que a ONU precisa avançar para ter mais impacto no desenvolvimento do país.

Avanços

“Quando a gente fala em violência urbana, os países normalmente tem a percepção de que esse é um assunto domestico e, portanto, não caberia uma interferência internacional. Certamente, a ONU, enquanto organismo intergovernamental, está obrigada internacionalmente a respeitar e a negociar. Esta é certamente uma das dimensões que explicam a dificuldade, a timidez em avançar nessas áreas.”

Quem também destaca a interação com governos e comunidades como questão-chave para a ONU é outro morador de São Pedro, o mobilizador cultural Huedson Miranda. Ele trabalha no Circuito Cultural, um programa da Prefeitura de Vitória que oferece alternativas esportivas e culturais para as crianças do bairro e faz parte do Programa Segurança com Cidadania, da ONU.

Ao falar da área onde vive, ele resume o que acontece quando grandes agências internacionais somam esforços com os movimentos locais.

“Antes, São Pedro era bom. Hoje, Sao Pedro é otimo. Ele é o berço de todas a cores, de todas as culturas, abraça Vitória e vira exemplo para as outras comunidades”.

*Peri Dias foi um dos vencedores de 2012 do programa de bolsas Reham Al-Farra Memorial e durante todo o mês de setembro, esteve na sede da ONU em Nova York acompanhando o trabalho da organização.