A crescer a um ritmo forte, em todo o mundo, está o número de jovens sem emprego. O tema junta centenas de indivíduos do grupo, na tentativa da busca de soluções globais, até sexta-feira, em Genebra.
[caption id="attachment_210480" align="alignleft" width="350" caption="Foto: Banco Mundial"]
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*
O Fórum que debate o desemprego juvenil é promovido pela Organização Internacional do Trabalho, OIT. A agência defende que, sob diferentes facetas, a falta de trabalho afeta 75 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos.
Para ilustrar o impacto da situação, a Rádio ONU falou com jovens de três continentes, que partilham o facto de estarem desempregados.
Crise Europeia
A viver os efeitos da crise europeia está Hugo Evangelista, de Lisboa, que defende que o seu diploma universitário está longe de garantir o acesso ao mercado de trabalho.
“Eu sou licenciado em Biologia. De uma rescisão por justa causa há 2 dias, o meu patrão não me pagava há cinco meses. A justificação é que tinha havido um problema financeiro na associação e que estava a ser resolvido. Estou numa situação financeira terrível”.
A OIT crê que jovens atualmente envolvidos na criação de empregos possam ter um papel fundamental para gerar postos de trabalho no futuro.
Habilitações
Uma face do autoemprego é trazida pelo moçambicano Paulo Bunga. Para cobrir a falta de habilitações para trabalhar, desenrasca-se a vender roupa de segunda mão nas ruas da capital, Maputo, desde os 17 anos.
Paulo acredita que o emprego ainda compense, numa cidade onde quatro em cada 10 jovens são desempregados.
Sobreviver
“Vendo roupa. Mas, de 1995 a 2003, vendia chocolate e chips. Mas comecei a vender roupa. Não dá para sobreviver. Às vezes as pessoas levam de vale mas não pagam. Gostaria de encontrar qualquer job (serviço). Job é job. Já procurei em vários sítios. Desde 1995 nunca trabalhei, mas quero trabalhar, mas não encontro”.
Para contrariar a insatisfação e a falta de motivação causada pelo desemprego no Brasil, Henrique Oliveira, de 23 anos, e estudante do curso de direito, opta por procurar estágios como forma de ter acesso ao mercado de trabalho.
Paradoxo
“Começar é muito complexo porque já exige um investimento grande e arrumar alguma oportunidade no início é muito complicado. Um emprego fixo estável é muito difícil você não arruma no começo. Então isso é uma coisa que complica muito quando você não tem de onde tirar o investimento inicial. Eu acho que cada vez mais eles exigem uma especialização maior e uma capacitação maior para um cargo que seria teoricamente simples”.
Mas a deputada portuguesa Mónica Ferro, falando de Istambul, aponta que o fenómeno é uma realidade que se apresenta para uma geração que convive com oportunidades e os efeitos da crise económica global.
“Parece paradoxal na altura em que nós temos a maior fatia de mão de obra jovem qualificada é também a altura que, por desafios das circunstâncias econômicas, estamos com mais dificuldades. Estamos atentos, estamos preocupados e estamos a tentar, de várias formas, promover o empreendedorismo jovem e o emprego jovem com formação acrescida com a formação em várias áreas. Tentando fazer dos nossos jovens o mais preparado possível para eles poderem criar seus próprio emprego”.
Coordenação
A OIT defende que a solução do desemprego juvenil deve ultrapassar os decisores políticos. Telma Viale, representante da agência junto das Nações Unidas, fala das implicações sociais do fenómeno, caso a inclusão dos jovens não seja levada em conta.
“O problema é que este desemprego juvenil está associado com níveis de violência e isto é uma bomba-relógio que já está explodindo em alguns países. Você tem um grupo de jovens que tem um nível de educação, um nível desmoralizante podemos dizer e isso é muito perigoso, porque são jovens muito informados, com muita educação e que podem levar a violência social forte”.
A solução de momento, defende a agência, seria uma coordenação entre o setor informal e as autoridades.
“O objetivo é que o mercado informal entre no mercado formal para dar o mínimo de proteção social. É muito importante que sejam feitos laços entre o ensino técnico e profissionalizante e o mercado de trabalho. É onde vai estar a dinâmica para novas tecnologias e novos mercados que vão se abrir”.
Para a OIT, a aplicação do conceito de economia sustentável é uma oportunidade que se apresenta para resolver a questão do desemprego juvenil.
Fórum Juvenil
Além de marcar o Fórum que debate o desemprego juvenil , em Genebra, o tema será avançado na Cimeira da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, Rio +20, que alimenta as expectativas da OIT para a solução do desemprego juvenil.
A experiência dos jovens é tida como crucial para a OIT, ao considerar possíveis veículos de contributos para “tentar mudar a sociedade para o melhor”.
Mas a OIT alerta para o crescente descontentamento dos jovens devido à atenção dada à crise na Europa, enquanto nos países em desenvolvimento são avançados elogios ao aumento da proteção social.