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Aumento de denúncias de violência contra menores desafia polícia moçambicana

Aumento de denúncias de violência contra menores desafia polícia moçambicana

Em entrevista à Rádio ONU, responsável do Departamento de Atendimento à Mulher e Criança na polícia defende mais recursos para formar membros da corporação; Unicef apoia ampliação da capacidade de resposta para todo o país.

[caption id="attachment_202095" align="alignleft" width="350" caption="Polícia moçambicana precisa de recursos para combater violência contra a mulher e criança no país"]

Eleutério Guevane, da Rádio ONU, em Nova Iorque.

Com o avanço dos esforços de sensibilização contra a violência, a capacidade de resposta da polícia pode ser sufocada, disse à Rádio ONU, a chefe do Departamento de Atendimento à Mulher e Criança da Polícia de Moçambique, Lurdes Mabunda.

Falando esta quinta-feira, em Nova Iorque, após uma apresentação sobre a situação do país, Mabunda considerou urgente uma resposta policial eficaz em função do número de denúncias de casos de violência contra a mulher e criança.

Formação Específica

Na sede do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, a responsável defendeu igualmente que seja reforçada a formação específica dos membros da corporação para lidar com questões de violência.

“Isso requer meios e quadros formados, que sejam sensíveis à situação de violência. Qualquer um pode ser formado para ser polícia mas, lidar com questões de violência, que estão ligadas à sensibilidade humana e relações sociais, requer uma preparação bem sólida e consolidada”, frisou.

Atendimento

O país, que tem actualmente 20 gabinetes especializados de atendimento a casos de violência contra menores e mulheres, pretende expandir serviços para todos os distritos. Mabunda defendeu a necessidade de mais financiamentos por parte de parceiros internacionais.

“Este briefing foi feito na perspectiva de angariar fundos para que os outros distritos também tenham uma esquadra específica. A esquadra é um sector de prevenção, não é só de repreensão! Só o facto de existir, numa certa comunidade, uma área com a designação ‘Gabinete de Atendimento a Violência Doméstica’ é uma forma de prevenir porque que as pessoas que passam saberão que se cometer isso (infracção) terá penalização ali”, explicou.

Desafio dos Recursos

A especialista para a Protecção à Criança do Unicef, Mariana Muzzi, disse que apesar dos avanços alcançados nas acções contra a violência, a questão de recursos é o desafio da agência em Moçambique.

“O problema é muito grande, estamos a falar de milhões de raparigas moçambicanas que estão grávidas ou casadas numa idade muito ténue, entre 13 e 15 anos. Tanto na área de prevenção como na de resposta, é necessário muito dinheiro para mudar a situação. Por exemplo, para construir um gabinete de apoio da polícia, que responde à violência, tanto contra a mulher como da criança, são necessários US$ 40 mil. Entra também a parte de formação de professores. Se estamos a falar de 128 distritos no pais, e até agora existem apenas 20 gabinetes especializados, faltam construir 108. Multiplicar US$ 40 mil por 108 distritos é muito dinheiro”, declarou.

O Unicef apoiou o lançamento de uma campanha para desencorajar a violência contra a criança moçambicana, que decorre desde finais de Junho. A iniciativa envolve figuras políticas e outras celebridades nacionais.