Relatório da ONU revela que abusos de direitos humanos aumenta pobreza no país; flagelo mata mais afegãos do que aqueles que morrem como resultado directo do conflito armado.
Daniela Traldi, da Rádio ONU em Nova Iorque.*
A corrupção, a impunidade, o clientelismo e o excesso de ênfase em questões de segurança a curto prazo, em vez de desenvolvimento a longo prazo, estão a agravar a pobreza extrema de mais de 2/3 da população afegã.
A conclusão consta de um relatório publicado esta terça-feira pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Situação Alarmante
O documento revela uma situação alarmante entre os afegãos, afectados por profunda crise económica, oito anos após o Acordo de Bona.
O consenso de 2002 previa um novo começo para o país após décadas de conflito, com investimentos de cerca de US$ 35 mil milhões, até o ano passado.
Apesar dos recursos, a chefe do Escritório de Direitos Humanos da ONU no país, Norah Niland, lembrou que 9 milhões de pessoas, 36% da população, vivem em absoluta pobreza no Afeganistão.
Falando numa conferência de imprensa em Cabul, ela salientou que a pobreza mata mais afegãos do que aqueles que morrem como resultado directo do conflito armado.
Conflito e Insegurança
O relatório revela ainda que o Afeganistão tem a segunda maior taxa mundial de mortalidade materna e a terceira de mortalidade infantil. Apenas 23% dos habitantes tem acesso à água potável e 24% acima de 15 anos sabem ler e escrever.
A pobreza não é acidental nem inevitável no país, de acordo com o documento. O conflito e a insegurança são factores agravantes, mas existe um enorme déficit de direitos humanos, incluindo a impunidade generalizada e a falta de investimentos.
*Apresentação: Carlos Araújo, da Rádio ONU, em Nova Iorque.