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Especial: Crise dos Alimentos

Especial: Crise dos Alimentos

Reunião em Roma tem participação de líderes internacionais incluindo o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon.

Mônica Villela Grayley, Rádio ONU em Nova York.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, inicia nesta terça-feira uma conferência internacional para discutir a crise dos alimentos.

O evento, que deve terminar nesta quinta-feira, debaterá soluções de médio a longo prazos para tratar da questão.

Emergentes

Acompanhe a reportagem de Marcelo Torres, da Rádio ONU em Londres.

“Atualmente 854 milhões de pessoas sofrerem privações alimentares no planeta. Segundo a FAO, os alimentos dificilmente voltarão a ter preços baixos como os verificados antes do ano de 2007.

A justificativa é que a demanda mundial vinda dos países emergentes deve continuar aumentando. Um dos temas em debate, no momento, é a relação dos biocombustíveis com a segurança alimentar.

Mudança de Rumo

O coordenador de Bioenergia do Setor de Mudanças Climáticas da FAO, Olivier Duboir, acredita que, no caso do etanol brasileiro, não existe nenhum motivo para mudança de rumo.

Ele diz que o Brasil tem plenas condições de aumentar a área de cultivo de vegetais para biocombustíveis e, ao mesmo tempo, plantar mais alimentos.

"Eu acho que não é um crime contra a humanidade pessoalmente porque o programa de etanol brasileiro apresenta amplas possibilidades e desafios. Se for bem encaminhado, penso que possa ter uma espécie de impacto interessante sobre desenvolvimento rural, sobre luta contra a pobreza", disse ele à Rádio ONU.

Duboir também diz acreditar que alguns países africanos possam seguir um caminho parecido ao brasileiro.

"Uma parte dos países tem terra e tem um clima favorável, digamos, à cana-de-açúcar. Estou pensando mais em países como Angola, por exemplo, que tem potencial", afirmou.

Africanos

O economista Leonardo Bichara Rocha, da Organização Internacional do Açúcar, agência afiliada da ONU para o setor, também vê potencial nos africanos.

"Nós temos aí a indústria de Moçambique, que é a indústria do açúcar que mais cresce no mundo hoje. Moçambique vai conseguir se beneficiar de acesso ao mercado europeu sem pagar tarifas de importação. E isso vai ser para o álcool, vai ser para o açúcar, vai ser para qualquer outro tipo de alimento", lembra ele.

Para Rocha, não há dilema entre produzir etanol em vez de açúcar, já que, atualmente, há um excedente de açúcar no mercado mundial. Situação diferente da enfrentada pelo álcool produzido à base de milho ou de trigo, alimentos que vêm subindo de preço por causa do aumento da demanda.

Milho

"A cana-de-açúcar utiliza muito menos terra do que o milho ou o trigo. Por exemplo, você produz aí de 6 a 8 mil litros de álcool por hectare de terra. No caso, se você for optar pelo trigo, você vai produzir menos de 3 mil litros de álcool por hectare. Também é o caso do milho, que produz cerca de 3 a 4 mil litros de álcool por hectare. Então na questão de utilização de terras, a cana tem vantagens".

Energia Limpa

Vantagens que o Brasil já expõe em vários fóruns mundiais de discussão de que participa, como lembra a diplomata Ana Maria Sampaio Fernandes, representante do país no Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

"Nós já somos um país que tem um programa de biocombustíveis que sequestrou e evitou colocar C02 na atmosfera em quantidade de 600 milhões de toneladas. Foi o que, com nosso programa, nessas quatro décadas, digamos, três décadas de etanol, nós deixamos de emitir. Nós somos um país que usa extensivamente a energia hidrelétrica, que também é limpa do ponto de vista da mudança do clima."

Nesse contexto, a produção de biocombustíveis seria uma das alternativas. O desafio dos debates da FAO será encontrar soluções para que isso não ameace a segurança alimentar mundial”.

Apresentação*: Mônica Villela Grayley, Rádio ONU em Nova York.