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Especial: Crise de Alimentos

Especial: Crise de Alimentos

Nesta série especial, a Rádio ONU apresenta uma face humana para a crise e busca soluções de médio e longo prazos. Acompanhe a série na apresentação de Mônica Villela Grayley e Eduardo Costa.

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Clique aqui para ouvir a 2ª parte.Clique aqui para ouvir a 3ª parte.Clique aqui para ouvir a 4ª parte.Clique aqui para ouvir a 5ª parte.Clique aqui para ouvir a 6ª parte.Clique aqui para ouvir a 7ª parte.Mônica Villela Grayley & Eduardo Costa, Rádio ONU em Nova York.

Neste programa vamos falar dos próximos passos para vencer a alta no preço dos alimentos: o investimento na agricultura. A apresentação é de Mônica Villela Grayley e Eduardo Costa.

Em 2050, o mundo deverá ter 9 bilhões de pessoas. Três bilhões a mais que hoje. Uma das preocupações dos especialistas é a geração de alimentos para tanta gente. Atualmente, cerca de 860 milhões de pessoas não têm acesso a comida. Após um encontro da FAO sobre segurança alimentar, a organização recomendou o dobro da produção atual de alimentos para começar a resolver a crise. Mas de que forma, isso deve ocorrer? Foi a pergunta que a Rádio ONU fez a um morador da Libéria, no oeste da África.

Michel Sahr diz que é preciso priorizar a agricultura. Segundo ele, é necessário também empenhar mais esforços dos que o já feitos até agora. Ele afirma que na Libéria existe muita gente fazendo muito pouco.

Reforma agrária

Em países como a Libéria qualquer solução passa pela reforma agrária, é o que diz uma outra moradora: Eva Florno.

Eva Florno afirma que se for dado ao agricultor acesso à terra, aos instrumentos que ele vai precisar para plantar, espaço para desenvolver suas colheitas, o problema pode começar a se resolver. Segundo ela, isso pode custar tempo, mas é preciso começar de algum lugar.

Agricultura é a atividade econômica mais importante dos mais pobres do mundo. De qualquer maneira, a assistência aos agricultores caiu mais da metade nos últimos 25 anos, segundo o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.

Diouf diz que as instituições financeiras internacionais e regionais presenciaram uma redução drástica de recursos alocados para a agricultura. Cerca de 70% dos mais pobres do mundo dependem dela para sobreviver.

Analistas dizem que os recursos para investir existem, o problema seria a hesitância dos doadores.

Subsídios

No ano passado, o Malauí decidiu implementar um programa de subsídios aos agricultores. No início, o país não conseguia atrair recursos externos como explicou o secretário para Agricultura e Segurança Alimentar Andrew Daudi.

Segundo o secretário, todos os doadores foram contatados, mas se recusaram a liberar dinheiro então o governo tomou a decisão de colocar os subsídios no orçamento anual. A razão para a negativa dos doadores é que o dinheiro usado seria gerado de impostos dos cidadãos de seus países. O governo então disse que resolveria o problema da sua maneira. E porque deu certo, os doadores agora elogiam o que foi feito no Malauí.

Metas do Milênio

A relutância dos doadores em investir na agricultura se deve ao fato de que eles não entenderam o custo político de não fazer nada. A afirmação é do professor Jeffrey Sachs, que é também um dos conselheiros especiais do Secretário-Geral da ONU para as Metas do Milênio.

Sachs diz que a agricultura é fundamental para qualquer dimensão da vida. Não só fornece os meios de sobrevivência dos mais pobres, mas também nos proporciona continuar vivos. É a base para prevenir doenças. Ele lembra que a produtividade da agricultura na África é mais ou menos um terço. Segundo ele, é preciso haver mais crescimento nos investimentos.

Sachs afirma que o mundo tem enviado ajuda alimentar há 30 anos aos mais pobres e neste meio tempo tirou a agricultura da agenda de políticas para o desenvolvimento. O erro só foi reparado no último ano quando o Banco Mundial se deu conta do problema e tentou recolocar a agricultura na lista de prioridades.

Segundo o Banco Mundial, o apoio para incrementar o setor agrícola subirá de US$ 4 bilhões para US$ 6 bilhões. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que para duplicar a produção agrícola nos próximos 30 anos será necessário investir em toda a cadeia alimentar.

Estratégia

Zoellick afirma que o objetivo é melhorar a produção no setor para que os países em desenvolvimento possam se beneficiar do aumento da demanda por alimentos. Como parte desta estratégia de longo prazo, o investimento para pequenos agricultores e no agronegócio além da pesquisa no setor pode triplicar.

Investir na agricultura é uma prioridade, diz Nikhil Seth, especialista do Conselho Econômico e Social da ONU, Ecosoc.

Seth afirma que cada dólar gasto no desenvolvimento da agricultura tem um impacto maior contra a pobreza e a fome que o mesmo dólar gasto em outras atividades incluindo os programas de erradicação da pobreza.

A Revolução Verde dos anos 1960 e 1970 foi bem-sucedida no cumprimento de seu objetivo principal: aumentar a produção da agricultura e de alimentos. A meta foi alcançada através de melhores tecnologias e sementes, irrigações e fertilizantes. O projeto foi implementado, em grande escala, na Ásia ainda que alguns especialistas afirmem que os benefícios da Revolução Verde não tenham chegado aos mais pobres.

Revolução Verde

Algo semelhante ainda tem que ser feito na África onde a crise alimentar é mais aguçada. O ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que é hora de resolver a crise. Ele preside a Aliança para uma Revolução Verde da África. E diz que nas últimas três décadas a produção de alimentos no continente não acompanhou o crescimento da população.

Annan afirma que mais de 200 milhões de pessoas estão passando fome na África. Deste total, 33 milhões das crianças com menos de 5 anos estão malnutridas.

A aliança firmou uma parceria para melhorar o desenvolvimento do setor agrícola na África. O objetivo do acordo é atuar nas áreas de maior crescimento para criar oportunidades para os pequenos produtores.

Kofi Annan diz que a aliança deverá se concentrar em determinadas areas para promover uma zona de agricultura e produção ecológica de alimentos. Ele acredita que isso deverá gerar uma Revolução Verde que respeitará a biodiversidade e a variedade do continente e de suas plantações. Para Annan, se a receita funcionar, a África poderá celebrar um sucesso na luta contra a crise alimentar.

Para se alcançar os objetivos da Revolução Verde a África deverá percorrer um caminho mais longo que a aquisição de fertilizantes eficientes. A opinião é de Dickxie Verson Kampani, coordenador do Projeto Nacional do Malauí.

Kampani afirma que além de ajudar os produtores a aumentar suas colheitas é preciso ajudá-los a vender os produtos no mercado. Segundo ele, a construção de estradas é um dos pontos que ajudarão a comunidade a vender o que produz. Ele lembra que os programas de irrigação também precisam ser reavivados.

Infra-estrutura

A proposta é apoiada pelo diretor-geral da FAO Jacques Diouf.

Diouf diz que os investimentos são necessários na infra-estrutura rural e no controle de água para irrigação e drenagem. Segundo ele, 96% das terras aráveis na África Subsaariana dependem da chuva. Ele lembra que é preciso ainda a construção de estoques para evitar perdas que podem lever de 40% a 60% de algumas plantações. As estradas nas áreas rurais são fundamentais para levar o que é produzido aos mercados para venda em mercados competitivos.

A necessidade para se garantir a produção sustentável da agricultura não é um problema só da África. Nikhil Seth diz que os investimentos não devem se limitar a fertilizantes e sementes.

Seth afirma que os investimentos massivos são para irrigação, água, estradas, estoques etc. Além disso, é preciso acabar com o desperdício no período da colheita e do pós-colheita. Ele disse que viu números de 40% a 60% de perdas de alimentos que ocorrem entre o plantio e até que a comida chegue ao prato do consumidor.

Com a crise alimentar foi soado também um alarme. E a urgência do tema conseguiu chamar a atenção do mundo. Para o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, que é um dos líderes dos esforços para produção de soluções a médio e longo prazos, a crise é uma grande oportunidade.

Igualdade social

Segundo Ban, com a crise vem uma grande chance de se resolver o problema na raiz para os mais pobres do mundo. Ele diz que se eles forem ajudados com política eficientes em níveis locais e globais, a solução virá. E com isso, se alcançará ainda uma grande vitória para a igualdade social e de desenvolvimento no mundo.

Apresentação: Mônica Villela Grayley e Eduardo Costa

Produção: Laura Kwiatkowski

Direção Técnica: Carlos Macias

Edição Geral: Michele DuBach