Fórum da ONU debate tráfico humano
Iniciativa do Unodc reúne representantes de mais de 100 países; mais de dois milhões de pessoas são vítimas do tráfico todos os anos.
Julia Assef, da Rádio ONU em Nova York
O diretor-executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, Unodc, Antonio Maria Costa (foto), comparou o tráfico humano ao comércio de escravos.
Costa fez a afirmação na abertura do Fórum Global contra o Tráfico Humano, que começou nesta quarta-feira, em Viena, na Áustria.
Segundo ele, o tráfico acontece em todo o mundo, com pessoas de todas as idades e raças.
O objetivo do fórum, que reúne mais de mil pessoas, é mobilizar governos e sociedade para combater o tráfico humano.
A especialista do Unodc em tráfico de pessoas, Marina Oliveira, falou à Rádio ONU, de Brasília, sobre a importância de um debate internacional sobre o tema.
Articulação
"Como o tráfico de pessoas é um tema multidisciplinar e que abrange questões de crime organizado, direitos humanos, gênero, geração e questões econômicas e trabalhistas muito fortes, não se pode enfrentar um problema tão complexo com uma resposta única. É preciso uma articulação muito grande entre os organismos, tanto as instituições do governo quanto a sociedade civil e os próprios organismos integrantes do sistema ONU, que precisam se coordenar cada vez mais para ter um resultado mais eficiente das suas ações", disse.
Uma das vítimas do tráfico humano, a argentina Irene Rodrigues contou à Rádio ONU, de Zurique, na Suíça, que há 20 anos foi com um grupo de garotas para a Europa, com a promessa de um futuro promissor.
Exploração sexual
Ela disse que todas tiveram os passaportes apreendidos e seus direitos desrespeitados pelos traficantes.
"A gente trabalhava e o dinheiro a gente não podia ver. As meninas, convencidas que iam trabalhar num hotel como camareiras, quando chegaram lá e viram que não era isso, elas começaram a chorar e não queriam trabalhar. Eles falaram que nós estávamos metidos numa coisa muito feia, numa máfia, e não podíamos abrir a boca, porque nenhuma de nós tinha os passaportes", disse.
Irene Rodrigues disse que, depois de um ano a trabalhar na prostituição, conseguiu fugir dos traficantes.
Vítimas
"Eu escapei uma noite quando estava num bordel trabalhando. Consegui uma conexão com um caminhoneiro, passei a fronteira da Espanha para França, da França para a Alemanha. Não pude entrar na Alemanha e fui para a Itália. Com medo, com tudo, mas eu fui embora porque era a minha vida", disse.
De acordo com o Unodc, todos os anos mais de dois milhões de pessoas são vítimas do tráfico, para exploração sexual ou trabalho escravo.
O Fórum Global contra o Tráfico Humano acontece até sexta-feira.