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Meninas com HIV

Meninas com HIV

Especial: Crianças versus Pobreza (1a. parte)

Mônica Valéria Grayley, da Rádio ONU no Rio de Janeiro.

Este funk está sendo cantado por Ingrid e Murielle, duas adolescentes do Rio de Janeiro. Embora nascidas no mesmo estado, elas cresceram em condições bem diferentes e talvez jamais tivessem se conhecido não fosse um drama em comum: o vírus da Aids.

Murielle e Ingrid participam do Instituto Pela Vidda, um grupo de apoio aos soropositivos, com sede na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.

As duas foram contaminadas ainda na gravidez. Murielle foi adotada por uma família, e Ingrid vive com a avó após a morte da mãe.

Vacina

Nesta conversa com a Rádio ONU, Murielle começa contando como ela descobriu aos sete anos que tinha o HIV.

“Foi porque eu ficava muito doente. Eu mesma tive interesse em saber porque tinha sempre que estar toda semana no médico. Quem contou foi minha mãe, meu pai, a tia Leila e a tia Virgínia. Eles se reuniram para falar. Eu chorava e desabafava, só que aí depois eu fui entendendo que era só tomar o remédio para poder não ficar doente, não acontecer nada. Eu sinto que Deus pode ajudar a gente. Vai, em nome de Jesus, surgir uma vacina”, disse Murielle.

Já Ingrid não contou com o apoio das pessoas a seu redor. Ela diz que na escola, a reação não foi boa.

“A diretora da escola onde eu estudava falou que os outros alunos podiam pegar a doença. Depois disso eu tive que sair da escola”, lembra.

A experiência de Ingrid na escola não é exceção. Por causa dos estigmas, muitas crianças com o HIV têm que lutar contra o preconceito e rejeição entre os colegas. O jornalista Beto Carmona, do Pela Vidda, diz que o programa de apoio investe muito na construção da auto-estima das crianças. Ele conta, que por isso, os projetos cuidam não só das crianças, mas também das famílias.

“Desde a assistência a família para que ele possa ter esta referência familiar preservada, quanto ao amor, carinho, escola, ou seja, todos os direitos das crianças e adolescentes nós tentamos preservar”, explicou Beto Carmona.

Mesada

Segundo Carmona, algumas responsabilidades dadas às crianças ajudam a construir a auto-estima e a tomar pequenas decisões. Ingrid começa me contando como escolhe gastar a mesada que recebe dos pais.

“Às vezes, eu guardo e vou gastando aos pouquinhos, porque eu gosto muito de comer na rua. Quando minha mãe vai para o trabalho eu vou com ela e tenho que comer alguma coisa, aí se eu tiver este dinheiro eu vou comendo direto”, disse Ingrid.

Já Murielle diz que gosta de comprar roupas.

“Quando meu pai está com uma condição boa ele me dá R$ 30 por mês e quando ele está com uma condição melhor ele me dá R$ 50. Eu gosto muito de comprar roupa, passear, lanchar”, contou Murielle.

Sonhos

Mas saber administrar a mesada, ir à escola e continuar uma caminhada como qualquer outro adolescente são apenas algumas das preocupações de Ingrid e Murielle. Na realidade, elas planejam muito mais para suas vidas. Casar, ter filhos e construir família. Mas para evitar repetir a história da contaminação vertical, como aconteceu com as duas, Murielle diz que vai tomar os antiretrovirais para evitar a contaminação pelo HIV de mãe para filho.

“Eu sonho em casar e ter filhos. Tenho que tomar os medicamentos certos para o nosso filho, talvez, não nascer com o vírus”, disse Murielle.

“Eu também sonho em casar, ter filhos, ter uma vida normal. E, se um dia, se eu tiver um filho fazer de tudo para o meu filho não nascer com a mesma doença que eu”, contou Ingrid.

Este programa foi produzido pela Rádio ONU em Nova York com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, no Brasil.