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Leite da Vida

Leite da Vida

As Nações Unidas marcam até 7 de agosto a Semana Mundial de Amamentação. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e a Organização Mundial de Saúde, OMS, a amamentação na primeira hora após o nascimento ajuda a salvar vidas. Acompanhe os detalhes na reportagem de Letícia Camargo.

Segundo o Unicef, muitas mães já entendem a necessidade da amamentação como é o caso da advogada Aline Coelho, de Juiz de Fora.

“Eu acho que amamentação estreita muito o relacionamento mãe e filho e é muito importante porque propicia à criança os anticorpos que ela vai precisar nesse início de vida, que o corpo dela ainda não tem muita resistência. E o leite materno é um alimento completo e medicamento também,” disse.

Para alguns psicólogos, a amamentação é mesmo um período importante entre mãe e filho, mas além disso a falta dela pode acarretar sérios problemas de saúde para a criança. O caso de Aline Coelho ainda não é o mais comum, segundo o último relatório sobre aleitamento do Unicef apenas um terço das mães amamenta seus filhos com até seis meses de idade nos países em desenvolvimento.

A cada ano, cerca de 1 milhão de recém-nascidos morrem antes de completarem um mês, e 98% desses casos acontecem em países em desenvolvimento.

De acordo com o estudo conduzido em Gana, a primeira dose de líquido do leite materno transfere nutrientes e anticorpos fundamentais para a criança, em uma dose exata de carboidratos, gorduras e proteínas.

O pediatra Abel Carlos de Barros, diretor regional da Unimed, explicou à Rádio ONU do Rio de Janeiro porque a amamentação é tão importante.

“A coisa mais importante são os benefícios que se traz à criança porque tem todos os nutrientes necessários até os seis meses. O leite materno é completo, é o único leite que é completo e não existe substituto”, explicou.

De acordo com o Unicef, muitas vezes essa substância altamente nutritiva é descartada, deixando os recém-nascidos sem a proteção necessária após o parto.

Para estimular esse hábito, a Sociedade Brasileira de Pediatria, junto com o Unicef, está trabalhando em campanhas de amamentação com os profissionais de saúde para estimular o hábito ainda na sala de parto, como explicou a presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria Dr.Graciete Vieira.

“A maioria dos bebês não é colocada no peito ainda na sala de parto. Então é preciso que a gente faça um incentivo aos profissionais de saúde neste sentido. A necessidade não só da vontade da mãe, como também do envolvimento do profissional de saúde para que esse bebê vá para o peito”, disse.

Para o Unicef, no entanto, este é apenas o primeiro passo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, 62% das mães no Brasil amamentam mas a recomendação da OMS é que os bebês tenham exclusivamente o leite até no mínimo seis meses.

No entanto, por fatores culturais, isso muitas vezes não acontece, pois as mães introduzem outros alimentos precocemente como explicou a médica Graciete Vieira.

“A cada dia que passa a gente vem aumentando a prevalência de aleitamento materno no Brasil. Por exemplo, 62% das mães amamentam durante o primeiro ano de vida. Mas existe também, por fator cultural, a introdução precoce de alimentos, como por exemplo chá e água, que são introduzidos ainda precocemente já no primeiro ou segundo mês de vida. Então nós precisamos aumentar a prevalência de aleitamento exclusivo,” explicou

O médico Abel de Barros lembra que a amamentação pode ser também uma solução econômica para as mães em países em desenvolvimento.

“Não custa nada para a mãe, quer dizer, o custo é zero. Isso é uma coisa importantíssima. A mãe sempre tem a tendência de dizer que o leite dela é fraco, mas não existe leite fraco, porque não se precisa nem de água. Ele tem a quantidade de água suficiente. A própria criança nem quer água. Se você oferecer, a criança não aceita a água”, disse.

Segundo a Unicef se todos os bebês fossem exclusivamente amamentados nos primeiros seis meses, mais de 1 milhão de vidas poderiam ser salvas.

Na África Subsaariana, a situação é ainda pior, a região tem os números mais altos de mortalidade infantil do mundo. Cerca de 10% de todos as crianças nascidas não chegam a completar nem um ano de idade.

Mesmo com o número de bebês amamentados dobrando desde 1990, 30% das crianças na região ainda não não recebem o leite materno, portanto, ficam mais vulneráveis à doenças.

As desvantagens da falta de amamentação para a criança são inúmeras, como, por exemplo uma maior ocorrência de problemas nutricionais, como explica a dr. Graciete Vieira.

“O bebê que mama no peito é um bebê que adoece menos, ele também faz uma ligação afetiva maior com a sua própria mãe. A amamentação também apresenta vantagens para a mãe como por exemplo, a redução da probabiliadde de desenvolver câncer de útero e câncer de mama. Então os bebês que não são amamentados estão se privando das vantagens do leite humano, e a nação também está se privando, porque as crianças que não mamam no peito, adoecem mais, se internam mais, e então a gente está gastando mais com a saúde dessas crianças”, disse.

Atualmente existem cerca de 170 milhões de crianças malnutridas no mundo, das quais três milhões morrem a cada ano vítimas do problema.

Reportagens e Destaques, programa da Rádio ONU em Nova York.

Apresentação: Eduardo Costa

Reportagem: Letícia Camargo

Produção: Sanda Guy, Eduardo Costa e Helder Gomes.

Direção Técnica: Louis Bastion.