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Serra Leoa vai às urnas

Serra Leoa vai às urnas

Mais de 2 milhões de cidadãos da Serra Leoa elegem no sábado, 11 de agosto, o presidente e o novo Parlamento do país. É a segunda eleição desde o final da guerra civil, que se arrastou por dez anos e só terminou em 2002. Nesse ano, as forças de paz das Nações Unidas entregaram a segurança à polícia nacional e às forças armadas.

Acompanhe a reportagem de Helder Gomes.

O representante de Ban Ki-moon na Serra Leoa, Victor Ângelo, disse à Rádio ONU, da capital Freetown, que está optimista mas também preocupado com a consulta.

“Encaramos as eleições do dia 11 com algum optimismo mas também com alguma preocupação porque, apesar de tudo, isto é um país que esteve muitos anos numa situação de guerra civil, numa situação de crise profunda. E é preciso que as eleições sejam credíveis para que a população reaja positivamente aos resultados das eleições.”

Victor Ângelo também explicou que, pela primeira vez na Serra Leoa, as eleições são muito competitivas.

“Há um partido que é o partido que está no governo, há um partido muito forte na oposição e, depois, há um terceiro partido que tem alinhado com o partido da oposição e que teve a sua origem numa divisão dentro do partido do governo. Por isso, pela primeira vez, estas eleições são eleições em que há uma grande competição.”

O representante do Secretário-Geral disse ainda à Rádio ONU, de Freetown, que as eleições estão a ser organizadas pela Comissão Nacional, ao contrário do que aconteceu há cinco anos.

“Em 2002, as eleições foram organizadas inteiramente pelas Nações Unidas, nessa altura, nós tínhamos neste país, na Serra Leoa, uma força de manutenção de paz de cerca de 17 mil militares. Neste momento, a nossa presença é muito menor, muito mais reduzida e, pela primeira vez, as eleições são organizadas pela Comissão Nacional de Eleições.”

Victor Ângelo defendeu também que a tarefa mais ambiciosa da delegação das Nações Unidas, na Serra Leoa, é apelar aos partidos que aceitem os resultados da consulta eleitoral.

“O desafio que nós temos à nossa frente, nos próximos dias e logo a seguir às eleições, é convencer esses dirigentes políticos que não têm outra opção senão aceitar o resultado destas eleições. Porque estas eleições estão a decorrer de uma maneira aceitável, de uma maneira credível, de uma maneira que responde às normas internacionais. E, por isso, eles terão que ultrapassar a sua intolerância, a sua arrogância, em certa medida, e aceitar o jogo democrático.”

De acordo com o representante do Secretário-Geral na Serra Leoa, vive-se no país um clima de reconciliação e as eleições podem mesmo tornar-se uma lição para o continente africano.

“Penso que se avançou bastante na reconciliação nacional e uma das grandes preocupações tem sido fazer com que estes partidos tenham um carácter nacional. Pela primeira vez, nestas eleições, foi possível ao partido na oposição fazer campanhas eleitorais no sul do país e, além disso, o partido do Governo também tem conseguido obter grandes apoios no norte. Isso é uma grande lição para a África ocidental e para a África em geral.”

Fica o essencial da entrevista ao representante do Secretário-Geral na Serra Leoa, Victor Ângelo, sobre as eleições presidenciais e parlamentares.

A Rádio ONU quis também saber o que pensa um jovem nativo da Serra Leoa da consulta deste sábado. Michael Doherty-Harding mantém a esperança na democracia mas não acredita em grandes mudanças.

“Muitas promessas foram feitas pelos partidos, como sempre, mas, por causa de experiências passadas, infelizmente eu não acredito que essas eleições vão significar um novo começo de lutas contra os maiores problemas da Serra Leoa. Mesmo assim, eu espero que o país conquiste uma democracia estável.”

A Rádio ONU a acompanhar as eleições deste sábado na Serra Leoa.

África na ONU

Apresentação: Eduardo Costa

Reportagem: Helder Gomes e Jorge Soares

Produção: Eduardo Costa, Letícia Camargo e Helder Gomes

Direcção Técnica: Peter Kurisko.