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Florestas: Um Negócio Sustentável

Florestas: Um Negócio Sustentável

Um relatório apresentado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, revelou que algumas regiões estão revertendo séculos de desmatamento. Mesmo assim, a perda total de florestas é de cerca de 20 mil hectares por dia. O número equivale ao dobro da área de uma cidade do tamanho de Paris. A sustentabilidade das florestas brasileiras é o tema desta reportagem de Camilla Menezes.

As florestas cobrem aproximadamente 4 bilhões de hectares, o que equivale a 30% da área continental do planeta. Segundo o relatório da FAO, 57 países registraram um crescimento de suas florestas, enquanto 83 amargaram redução, entre os anos de 2000 e 2005.

O documento ressalta os efeitos positivos das políticas econômicas e da administração florestal responsável. De acordo com o relatório, o crescimento econômico é um grande aliado para frear o desmatamento e melhorar as condições que permitam uma gestão sustentável das florestas.

Representando o Brasil no evento sobre o relatório da FAO, o diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, disse à Rádio Onu que está otimista sobre o desempenho do país.

“Historicamente, o Brasil tinha um percentual de desmatamento muito alto – o que afetava também as emissões de gases do efeito estufa, já que 75% dessas emissões eram provocadas pelo desmatamento. O que nós pudemos anunciar nesse encontro da FAO é que, nos últimos dois anos, depois da implementação do Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento da Amazônia, o desmatamente caiu em 50% no país. Esse dado representa uma redução de 35% das emissões totais de dióxido de carbônio”, afirmou.

Azevedo acredita que o Brasil realiza um bom trabalho, através de programas governamentais que envolvem ações de fomento as atividades sustentáveis, identificação e fiscalização.

O engenheiro florestal e professor da Universidade Federal Fluminense, Cláudio Bohrer, acredita que a posição brasileira é muito delicada.

”O Brasil é muito criticado no exterior pelo mau uso das florestas, apesar de não ser o único país que faz isso. Em parte, as pessoas tem razão: é responsabilidade de toda a sociedade brasileira manter as suas florestas e a biodiversidade que a gente tem e não conhece direito. E também é nossa obrigação conhecê-las melhor”, ressaltou.

De acordo com Bohrer, a sustentabilidade das florestas brasileiras enfrenta uma forte barreira cultural.

“A própria cultura do brasileiro vê a floresta como um empecilho ao desenvolvimento. Até hoje, se vê isso na Amazônia – apesar de se falar nessa questão há muito anos, a taxa de desmatamento é muito instável. A perspectiva geral é de que você derrube a floresta para converter num outro uso econômico. Dificilmente, se pensa em manter a floresta em pé numa forma viável de extrair recursos financeiros”, destacou.

Outra barreira, segundo João Madeira, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, Ibama, é a fixação pelo crescimento.

“Entre as barreiras está essa nossa fixação de crescer sempre, apesar de isso não ser uma peculiaridade brasileira. Essa é uma característica do próprio sistema econômico mundial. Todo mundo busca o crescimento econômico, mas os recursos naturais não são infinitos e se age como se eles fossem infinitos. As pessoas têm que entender e colocar como objetivo o uso dos recursos naturais somente na medida em que eles possam ser repostos”, disse.

Para Luís Felipe Cesar, coordenador da ONG Crescente Fértil e organizador do livro “Florestas do Mundo, Propostas para a Sustentabilidade”, o Brasil já dispõe de bons exemplos de manejo florestal.

“Se o Brasil olhar para si mesmo, olhar melhor para a sua própria história, olhar melhor para essas iniciativas que estão em andamento e perceber que essas inciativas são replicáveis, creio que nós teremos aí boas perspectivas de encontrar soluções. Inclusive, se pensarmos que até mesmo a Europa, que praticamente exterminou toda a sua floresta primitiva, e hoje se encontra numa situação florestal muito melhor do que há alguns anos, é evidente que o Brasil também tem chances de recuperar a área florestal que já devastou. Evidentemente, isso deve ser feito dentro do viável para, por exemplo, não comprometer a produção agrícola, mas, sobretudo, proteger o que resta e encontrar nas florestas – através do trabalho do excelentes institutos de pesquisa que nós temos – as opções de uso sem derrubá-las”, destacou.

Luis Felipe Cesar acredita que a sustentabilidade das florestas brasileiras depende da transformação de uma lógica.

“Na prática, isso passa por procedimentos de valorização das empresas que têm condutas ambientalmente responsáveis – o governo pode estar instituindo selos de reponsabilidade ambiental -, passa também pela fiscalização eficiente e pela disponibilização de tecnologia e pesquisa para que essa tecnologia esteja cada vez mais eficiente e mais adequada. Mas, sobretudo, passa por um compromisso de mente e de coração que possa transformar uma lógica de conduta que faça com que as empresas se percebam atores dentro desse grande desafio de salvar o planeta”, afirmou.

A empresa paulista Duratex foi a primeira da América Latina a receber o certificado do Conselho do Manejo Florestal, FSC. A certificação, emitida pela ONG internacional, reconhece o manejo das florestas de forma econômica e com responsabilidade sócio-ambiental.

Engenheiro Florestal da Duratex, José Maia, explica a posição da empresa.

“Essa preocupação, praticamente, nasceu com a empresa. Quando a Duratex inaugurou a primeira fábrica de chapa de fibra aqui no Brasil, ela já teve essa preocupação de adquirir terras e manejar essas terras de acordo com as melhores práticas da época. Isso, há mais de 50 anos”, ressaltou.

A Duratex possui, atualmente, 77 mil hectares de florestas, sendo 15 mil com áreas de vegetação nativa e 60 mil hectares com plantações de pinos e eucaliptos. Para o engenheiro Florestal da empresa, José Maia, a sustentabilidade das florestas é decisiva para os negócios.

“Hoje, a sustentabilidade é decisiva para que você tenha uma organização competitiva. Se nós não demonstrássemos todos esses cuidados e não tivéssemos todos esses cuidados auditados por uma fonte externa à empresa, poderíamos ter dificuldades de mercado. A sustentabilidade tem uma estreita relação com o negócio, com o resultado final da companhia”, afirmou.

Para o diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, a sustentabilidade das florestas é um bom negócio pra todos.

“A sustentabilidade é um bom negócio para os dois setores. Não existe dicotomia entre desenvolvimento e meio ambiente. Essas duas áreas vão andar, agora, conjuntamente. É o novo paradigma do mundo: desenvolvimento com sustentabilidade. Desenvolvimento sem sustentabilidade não é desenvolvimento”, salientou.

Marcada para dezembro, uma conferência das Nações Unidas sobre o aquecimento global deve discutir mecanismos para que os países em desenvolvimento, como por exemplo, o Brasil, recebam fundos para a preservação de suas florestas. O evento, que acontecerá em Bali, na Indonésia, deve lançar as negociações formais para a prorrogação do protocolo de Kyoto que expirará em 2012.

Reportagens e Destaques

Apresentação: Mônica Valéria.

Reportagem: Camilla Menezes.

Produção: Sandra Guy e Kacy Lin.

Direção técnica: Michael Gomez.