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Prevenção nas escolas

Prevenção nas escolas

Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, revelou que a maioria dos estudantes, pais e professores aprova as ações do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, que prevê a venda de preservativos nas escolas secundárias. A iniciativa do governo brasileiro tem o apoio da Unesco e do Unicef. O repórter Alan Spector conversou com alunos, pais e professores e traz mais informações.

Segundo a pesquisa “Saúde e Prevenção: Cenários para a Cultura de Prevenção nas Escolas”, realizada pela Unesco, menos de 10% dos alunos e professores acreditam que a educação sexual não deve ser feita em sala de aula.

Ao todo, a agência da ONU ouviu 17 mil alunos da rede pública de ensino, entre 13 e 24 anos e milhares de pais.

A responsável por educação preventiva de HIV/Aids da Unesco no Brasil, Rebeca Gomes, falou à Rádio ONU sobre outros resultados apurados pelo estudo.

“O dado mais relevante para nós é que 45% dos estudantes afirmam ter uma vida sexual ativa. Isto reforça a necessidade de ações de educação preventiva junto a estes jovens. Nós tivemos um percentual relativamente alto de uso de preservativo por eles. Na primeira relação sexual, 60% referiu utilizar o preservativo. E, na última, 69,7% dos jovens. Ou seja, as ações estão tendo um certo resultado, estão efetivamente sensibilizando-os para a utilização do insumo de prevenção”, disse.

O principal motivo, apontado por mais de 40% dos jovens para a não utilização do preservativo foi “não tê-lo na hora H”. Também foram mencionados a confiança no parceiro, a diminuição do prazer e o fato da parceira usar pílulas anti-concepcionais. Menos de 10% dos estudantes declararam que não têm dinheiro para comprar camisinha.

A representante da Unesco falou também sobre resultados encontrados pela pesquisa qualitativa, aplicada em conjunto com os questionários quantitativos que avaliaram a iniciativa do governo brasileiro.

“Nas escolas que têm o projeto Saude e Prevencao, nós verificamos que as ações são mais divididas entre todas as disciplinas escolares. Por exemplo, o professor de matemáica, quando vai dar uma aula de probabilidade, pode usar o exemplo da transmissã da AIDS e do HIV. Entã, no contexto da sua disciplina, ele pode fazer a educação preventiva. Nas outras escolas, isto nao ocorre. Isto fica mais com o prefessor de ciencias”, disse.

O Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas foi lançado em 2003, numa parceria do Ministério da Saúde e do Ministerio da Educação, com o apoio da Unesco e do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef. O objetivo é reduzir a vulnerabilidade dos jovens e adolescentes às DSTs, à infecção pelo HIV, à Aids e à gravidez precoce, trabalhando a inclusão e a formação de consciencia critica dos alunos de forma interdisciplinar.

A disponibilização de preservativos masculinos é feita apenas em colégios onde já existe um programa pedagógico que inclui trabalhos em sala de aula, oficinas, feiras e palestras sobre educação sexual e saúde reprodutiva.

Rejane Santos, que cursa o 2º ano do Ensino Médio em Taguatinga, Brasília, no entanto não concorda com essa medida.

“Eu acho errado eles darem a camisinha, porque eu acho que isso incentiva. Porque lá na escola não tem só adultos. E isso incentiva os pré-adolescentes a começarem a vida sexual mais cedo. Eu acho que não está na hora ainda de falar sobre isso”, opina.

Já Adriana Ribeiro, que cursa o 3º ano do Ensino Médio no Rio de Janeiro acha que a distribuição de camisinhas tem um papel importante:

“Eu estou achando muito legal esta iniciativa. Porque eles não só deixam lá para a gente pegar a camisinha. A gente tem que ir às palestras de orientações, onde se recebe todas as informações sobre esse assunto. E eu estou conseguindo tirar várias dúvidas e ter várias informações que antes eu não tinha. Diminuiu bastante os casos de gravidez precoce lá na escola, apesar de ainda ter muito”, disse.

A Diretora do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do Brasil, Mariangela Simão, acha que os jovens brasileiros têm respondido bem às campanhas de prevenção.

“Nós temos, hoje, uma estimativa de que, no Brasil, existam 600 mil pessoas soropositivas. A gente tem visto que, entre os jovens, está tendo uma certa estabilização, enquanto que a tendência de crescimento na população acima de 50 anos, que eu sempre brinco que começaram a vida sexual num mundo sem Aids e que, hoje, não se acostumaram que precisa se cuidar”.

Segundo dados do Ministério da Saúde, 15,2% dos casos de Aids no Brasil ocorrem na população abaixo dos 24 anos.

Mariangela Simão disse tambem que ainda é comum pensar na infecção pelo HIV como algo distante.

“Muita gente ainda pensa que, no Brasil, você tem aqueles que eram chamados de grupos de risco: os gays, as profissionais do sexo, os usuários de drogas, e que essas pessoas é que tem Aids. Hoje, qualquer brasileiro com vida sexual ativa tem que se cuidar e pensar sobre as medidas que pode tomar para se prevenir. Porque a Aids nao é uma doença do outro, é uma doença da sociedade inteira brasileira. As mulheres casadas, ou que têm parceiros estáveis, os homens, os jovens que estão iniciando sua vida sexual; todo mundo, hoje, vive num mundo com Aids”, disse.

A pesquisa da Unesco avaliou ainda que a iniciativa do governo federal nas escolas públicas tem contribuído para a redução do preconceito contra portadores do vírus da Aids e estudantes com diferentes orientações sexuais, além de facilitar o diálogo no âmbito familiar. No entanto, a agência da ONU recomenda aumentar o envolvimento dos pais e o trabalho de capacitação de professores.

Aí a reportagem de Alan Spector.

Reportagens e Destaques.

Produção Rádio ONU em Nova York.

Apresentação: Mônica Valéria Grayley

Produção: Alan Spector

Direção Técnica: Peter Kourisko