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Passaporte para vida

Passaporte para vida

Um grupo de embaixadores das Nações Unidas participou do lançamento de uma exposição em homenagem a vários diplomatas que salvaram vidas, emitindo vistos, durante o Holocausto. Entre os nomes mencionados, os ex-embaixadores do Brasil, Luis Martins Souza Dantas, e de Portugal, Aristides de Souza Mendes. O repórter Alan Spector compareceu à cerimônia e traz mais informações.

Esta história está sendo contada pela exposição "Diplomats of Mercy", ou "Diplomatas de Compaixão", que foi inaugurada, no fim de fevereiro, e está sendo organizada pelo Centro do Holocausto Kupferberg. Os embaixadores da China, de El Salvador, da Suíça, da Turquia, da Holanda e da Suécia na ONU participaram do evento de abertura.

O curador da exposição, o rabino Isidoro Aizenberg, contou à Rádio ONU como teve a idéia que resultou nesta exposição.

Aizenberg disse que, ao investigar o acervo de literatura sobre o Holocausto de diversas bibliotecas, reparou que, em muitas delas, havia livros inteiros dedicados a alguns desses diplomatas. Ele decidiu, então, iniciar uma enorme pesquisa sobre, o que ele chamou de atos heróicos de 12 destes homens.

A exposição é composta por livros, fotos, artigos de jornais, testemunhos de pessoas que escaparam e documentos da época, como passaportes e vistos emitidos pelos embaixadores.

Entre os diplomatas homenageados, estão o então embaixador brasileiro em Paris, Luis Martins de Souza Dantas, e o ex-embaixador português, também em Paris, Aristides de Souza Mendes, ambos falecidos em 1954.

João Crisóstomo, vice-presidente da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, que é também um dos colaboradores da exposição, falou que o ex-embaixador português Souza Mendes foi um dos primeiros diplomatas a começar a conceder vistos.

“O que ele fez foi quase uma explosão. No dia em que a França capitulou a Alemanha, Aristides Souza Mendes tomou a decisão de ir contra as ordens do ditador António de Oliveira Salazar, de não passar visto para ninguém. E isto se sucedeu logo no início da guerra. Por isso que o Aristides Souza Mendes, além de ter salvo muita gente, 30 mil pessoas em 3 dias, forçou Portugal a abrir as portas, porque eles praticamente perderam o controle e, daí por diante, esta via de fuga para os refugiados, principalmente judeus, continuou aberta”, disse.

Crisóstomo disse ainda que Souza Mendes foi punido pelo governo de Salazar, quando retornou a seu país.

“Quando chegou a Portugal, ele foi expelido do corpo diplomático e veio a perder todas as posses que tinha. Ele que era um homem aristocrático, um homem muito rico em Portugal, acabou por morrer pobre e desesperado nas ruas de Lisboa, tendo sido alimentado na cozinha hebraica pelos judeus que ele tinha salvo na França”, afirmou.

O historiador Fabio Koifman, autor do livro: “Quixote nas Trevas: O Embaixador Souza Dantas e os Refugiados do nazismo”, falou à Rádio ONU sobre a importânica da ajuda humanitária que o brasileiro Souza Dantas deu aos judeus e a outras minorias.

“Nesse período, até dezembro de 1940, o embaixador deu visto para cerca de mil pessoas. No Brasil, o Estado Novo impôs uma série de restrições; não se podia dar visto para judeu. Algumas destas pessoas conseguiram obter vistos depois de dezembro 1940, quando o embaixador recebe uma ordem taxativa de não dar mais visto para ninguém, porque ele passa a dar vistos com uma data retroativa. O que que tem de salvador nestes vistos? Neste momento, nenhum país do mundo estava aberto a receber os refugiados e, com o visto, você consegue embarcar no navio. Então, quem não conseguiu ser embarcado, na França, começaram as deportações e 80 mil pessoas morreram”, disse.

Entre as pessoas que receberam visto de Souza Dantas estavam o polonês Zibgniew Ziembinski, o primeiro diretor de teatro a montar uma peça de Nelson Rodrigues e o austríaco Felix Rohatyn que foi embaixador dos Estados Unidos na França, durante o governo do presidente americano Bill Clinton.

Outros diplomatas homenageados na exposição foram o suíço Carl Lutz, o sueco Raoul Wallenberg e o chinês Dr. Feng Shan Ho.

O Vice cônsul-geral da China, Weilin Kuang, disse que, como diplomata, se orgulha do que o ex-embaixador chinês fez durante a 2ª. Guerra Mundial.

O vice-cônsul disse que Dr. Ho soube botar em prática a tradicional virtude chinesa de justiça e amor e agradeceu à exposição por lembrar e homenagear a memória do ex-embaixador.

O sobrevivente do campo de Treblinka, Eddie Weinstein, disse que estes diplomatas foram heróis.

Weinstein disse que a maior parte da sociedade civil européia não fez nada para combater as atrocidades do nazismo e que qualquer pessoa que tenha salvado pelo menos uma vida merece ser honrada. Weinstein falou que sobreviveu apenas porque foi escondido por um pescador polonês e que qualquer pessoa que se propusesse a ajudar os judeus corria risco de vida.

O Embaixador da Holanda nas Nações Unidas, Frank Majoor falou sobre a importância de eventos que, como esse, lembram a tragédia do Holocausto.

Segundo o Embaixador, esta terrível parte da História não pode ser esquecida e todo tipo de evento promovido com a intenção de preservar a memória do Holocausto é de extrema importância, para prevenir que algo assim possa ocorrer novamente.

Reportagem: Alan Spector

Apresentação: Mônica Valéria Grayley

Produção: Sandra Guy e Kacy Lin.

Direção Técnica: Willy Correa