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Memórias do Menor Combatente

Memórias do Menor Combatente

Ishmael Beah (foto esq.), um ex-soldado infantil durante a Guerra em Serra Leoa, lançou um livro, “A Long Way Gone”, sobre sua experiência em combates. Segundo o Unicef, mais de 250 mil menores estão nas frentes de batalha. Acompanhe a entrevista de Derrick Mbatha, da Rádio ONU, com Beah.

O ex-soldado infantil conta que após o início da guerra em Serra Leoa em 1991, ele perdeu os pais e dois irmãos mortos no conflito. Em 1993, aos 12 anos de idade, ele próprio decidiu procurar segurança nas fileiras do Exército leonês, e quando percebeu já estava de armas na mão.

Ishmael Beah disse que sua família foi assassinada pelo grupo rebelde, Frente Revolucionária Unida, FRU, que iniciou o conflito. Mas segundo ele, o recrutamento de crianças para o combate acabou acontecendo por todos os lados envolvidos na guerra. Beah disse que a única diferença é que os soldados leoneses não mutilavam suas vítimas, o que ele afirma que era a marca dos rebeldes. Mas, segundo ele, no fim, todos os lados cometeram atrocidades.

O ex-soldado infantil conta que aprendeu atirar com fuzil A-47 para "provar que era capaz" de estar no combate. Beah lembra que sua rotina era a mesma a de um militar, a única diferença era a ausência de salário.

Entre suas tarefas estavam, percorrer vilarejos à procura de comida e armas, matar os inimigos e qualquer um que se recusasse a oferecer apoio. E no fim, ele também caiu numa das armadilhas típicas de muitas situações semelhantes: o contato com as drogas.

O ex-soldado em Serra Leoa conta que como parte de um grupo de combate, ele tinha acesso a drogas, que segundo ele iam de maconha até cocaína, e uma mistura explosiva de cocaína com pólvora.

Para Beah, ele não reagia mais como uma pessoa normal, mas se comportava como se estivesse anestesiado por toda a situação. Nesta entrevista à Rádio ONU, ele contou como conseguiu escapar do que chamou três longos anos perdidos.

Ishmael Beah disse que após o mundo ter percebido que muitos menores estavam sendo usados como crianças-soldado, várias organizações não-governamentais apoiadas pelo Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, decidiram conversar com os comandantes militares e rebeldes para resgatar as crianças.

Foi assim que ele escapou, e passou a participar do grupo do Unicef nos arredores de Freetown, capital de Serra Leoa.

Hoje, Beah diz que só tem uma missão: ajudar as crianças que estão na mesma situação, vivida por ele um dia, a recuperar sua infância e sua auto-estima e por fim a própria vida.

Ishmael Beah conta que um dia também foi uma criança-soldado, e que como tal não sabia que poderia ser capaz de fazer as coisas que foi forçado a fazer. Mas segundo o ex-soldado infantil, ele conseguiu recuperar a própria vida, e quer ajudar no que puder para que outras crianças no mundo possam ter a mesma chance.

Nações Unidas em Ação, Produção Rádio ONU em Nova York

Apresentação: Mônica Valéria Grayley

Assistência de Produção: Sandra Guy, Kacy Lin e Alan Spector

Direção Ténica: Rose Star