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Portugal quer participação e voz de jovens em decisões sobre oceanos BR

Conferência em Lisboa também tem o objetivo de incrementar os planos de promoção da economia azul

Nós temos um gravíssimo problema de falta de justiça intergeracional. Temos um grande problema de utilização abusiva de recursos por parte da nossa geração

João Cravinho , Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal

© Ocean Image Bank/Jordan Robin
Conferência em Lisboa também tem o objetivo de incrementar os planos de promoção da economia azul

Portugal quer participação e voz de jovens em decisões sobre oceanos

Clima e Meio Ambiente

País recebe Conferência dos Oceanos neste 27 de junho; Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, diz à ONU News que juventude desempenha papel crucial no debate sobre clima; nas Nações Unidas, ele participou de reunião sobre Dia Mundial dos Oceanos e outros eventos.

Chefe da diplomacia portuguesa lembrou que conferência ocorre em contexto de tensão e conflitos no mundo, mas também traz esperança. Acompanhe a conversa com Eleutério Guevane.

ONU News: Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Cravinho, vamos começar pelo que veio fazer aqui neste edifício. Vários encontros, num momento de grande agitação. Hoje esteve a falar dos oceanos. O que é que importa que o mundo saiba neste momento sobre os preparativos em Portugal?

João Cravinho: Bom, em primeiro lugar, Portugal tem um grande protagonismo, desde há muitos anos, poderia dizer desde há séculos, em matéria de oceanos. E hoje confrontamo-nos com escolhas absolutamente fundamentais em relação ao destino dos oceanos. Nós temos um quadro em que as alterações climáticas começam a impactar, de forma muito significativa, a saúde dos oceanos. E a saúde dos oceanos é vital para o nosso planeta. Portanto, em Portugal vamos organizar a 2ª. Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos no final do mês.

ONU News
Lisboa preparada para receber Conferência dos Oceanos

 

Vai ser um evento de grande importância. Milhares, literalmente muitos milhares, de participantes incluindo um bom par de dezenas de chefes de Estado e de governo e muitas dezenas de ministros. Portanto há boas condições para fazermos em Lisboa, no final deste mês, um conjunto de compromissos relacionados com o futuro dos oceanos.
Aquilo que me pareceu o importante é, sendo hoje o Dia Mundial dos Oceanos, estar aqui a Nova Iorque para participar nas celebrações. E dizer que temos este evento em Lisboa. Quando nós olhamos para os oceanos, não basta anualmente celebrar o dia dedicado aos oceanos. Mas, pelo contrário, fazer planos concretos para o futuro. Os oceanos, eu diria, foi um dos temas fundamentais que me trouxe aqui, mas permitiu, naturalmente também, muitos contactos com os principais responsáveis daqui das Nações Unidas. 

ON: O que tem entendido nestas contactos ao falar da conferência do fim deste mês?

JC: Um aspecto que devo dizer que é muito positivo, e que vale a pena ser sublinhado, é todos nós estamos muito conscientes de que vivemos um quadro diplomaticamente muito difícil. Temos a guerra na Europa. Temos em várias outras partes do mundo, também fontes de grande divisão entre os Estados. No entanto, parece que em torno dos oceanos nós temos aqui um tema que permite convergência. Nós não podemos resolver todos os problemas ao mesmo tempo. Alguns problemas parecem muito difíceis de resolver neste momento. O fundamental é que saibamos continuar a trabalhar naquilo que em que é possível: desenvolver plataformas de consenso. Pareceu-me que em torno dos oceanos há um bom ambiente.

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 promove a ação global para proteger a vida subaquática
ONU News/Teresa Salema
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 promove a ação global para proteger a vida subaquática

 

ON: Esta busca de maior interação e de maio ação dos países em Lisboa em que poderá resultar, principalmente quando se pensa em jovens. No acesso à  tecnologia e no diálogo...O que deve trazer muito mais inclusão? O que Lisboa pode trazer de diferente em relação a outras conferências que vão acontecendo sobre o tema?

JC: Como diria, talvez a gente possa identificar três grandes temas que devem resultar de Lisboa. Um deles é o nexo ou a ligação entre oceanos e clima. Essas ligações os cientistas conhecem-na perfeitamente, mas não está muito presente nos nossos trabalhos internacionais em torno do combate às alterações climáticas. O trabalho do Unfccc, por exemplo, só recentemente em Glasgow, na última reunião das partes, é que houve referência clara à ligação com os oceanos... Portanto, de Lisboa vai sair a convicção de que nós temos de falar de combate às alterações climáticas e oceanos como ligados.

Não há transição verde sem transição azul também. Um segundo o aspecto que me parece muito importante diz respeito à nova economia azul. A economia azul não é simplesmente tudo aquilo que tem a ver com o mar: pescas e tudo o que é tradicional. Tem a ver com as novas fronteiras e com novas possibilidades. Por exemplo, as indústrias farmacêuticas, a produção de bens alimentares no mar, para além dos peixes e das algas e da exploração de novas potencialidades. A utilização do mar como uma fonte de sustentabilidade para o futuro e para todas as partes do mundo, incluindo os países menos desenvolvidos.

Lixo marinho, incluindo plástico, papel e madeira, acaba indo para as profundezas dos oceanos.
Foto: UN News/Laura Quinones
Lixo marinho, incluindo plástico, papel e madeira, acaba indo para as profundezas dos oceanos.

 

Um terceiro tema é a questão da juventude. Nós temos um gravíssimo problema de falta de justiça intergeracional. Temos um grande problema de utilização abusiva de recursos por parte da nossa geração. Da geração da qual nós os dois fazemos parte, e que é prejudicial em relação às futuras gerações. Portanto é fundamental que as futuras gerações participem e tenham voz nas decisões que hoje estão a ser tomadas na identificação dos caminhos que vão ter um impacto sobre as gerações vindouras. 

ON: A ONU News vai fazer a cobertura, em Lisboa, desta conferência. Uma das perguntas que nos foram lançadas durante a preparação desta operação é se vamos usar máscara. O número de casos da Covid registra uma alteração na Europa. Esta situação foi prevista? O que é que se está a fazer na preparação da conferência?

JC: Isto é uma questão que precisa de ser calibrada semana a semana, à medida que a evolução dos números se vai identificando. Felizmente, neste momento em Portugal, apesar de termos números relativamente, estão a baixar. A nossa convicção, porque faltam ainda há três semanas, é que as coisas podem mudar. Este vírus tem-nos surpreendido a cada esquina, mas a nossa convicção é que não será obrigatório, embora, naturalmente cada pessoa que preferir usar máscara estará à vontade para o fazer.

FIM da primeira parte da entrevista
 

Largo da Esperança, Lisboa
ONU News/Leda Letra
Largo da Esperança, Lisboa