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Vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Jarbas Barbosa

Covid-19: terceira dose para idosos e imunocomprometidos, mas prioridade é ampliar imunizados BR

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Vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Jarbas Barbosa

Covid-19: terceira dose para idosos e imunocomprometidos, mas prioridade é ampliar imunizados

Saúde

O vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, Jarbas Barbosa, fala à ONU News sobre reforço da vacina contra Covid-19 na imunização de idosos e imunocomprometidos; agência ressalta que muitos países ainda estão longe da meta de 20% de cobertura, e a prioridade deve ser expandir a vacinação. 

A região das Américas registrou uma queda nos casos de Covid-19, mas a pandemia ainda está longe do fim. Esta é a opinião do o vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Jarbas Barbosa. O infectologista brasileiro conversou com a ONU News sobre o tema.

A OMS recomenda a terceira dose da vacina apenas para quem está acima de 60 anos e pessoas com algum comprometimento do sistema imunológico. E como equilibrar essa demanda com a urgência de vacinas para quem sequer recebeu a primeira etapa da vacinação? Leia a íntegra da entrevista à Mayra Lopes.

Covid-19: terceira dose para idosos e imunocomprometidos, mas prioridade é ampliar imunizados

ONU News: Qual a situação da pandemia de Covid-19 nas Américas?

Jarbas Barbosa: Felizmente, os casos de Covid-19 estão diminuindo em praticamente todos os países da América Latina e do Caribe. Há algumas exceções, algumas ilhas do Caribe começam a ter agora seus primeiros picos da transmissão. Mas, na grande maioria dos países da América do Sul, Central e nas ilhas grandes do Caribe a tendência é de redução.

Isso é muito positivo e se deve principalmente aos avanços na vacinação junto com as medidas de saúde pública, porém a pandemia ainda não terminou, novos picos poderão ocorrer. Por isso, é muito importante conseguir aumentar o acesso às vacinas e ao mesmo tempo manter as medidas que nós sabemos que são efetivas: o uso de máscara, o distanciamento físico, evitar aglomerações, principalmente em lugares fechados

ONU News: Quais são os resultados esperado pela Opas/OMS com a recomendação de dose de reforço para idosos e imunocomprometidos?

JB: Essas recomendações são importantes porque elas estão baseadas nos conhecimentos que nós estamos acumulando sobre as vacinas. Então, a Opas e a OMS estão recomendando que para quem tomou a vacina Sinovac ou Sinopharm – a Sinovac na região é conhecida como Coronavac – para essas duas vacinas, os dados mostram que pessoas com mais de 60 anos e pessoas com algum comprometimento do sistema imunológico, precisam tomar uma terceira dose. Essa terceira dose pode ser com a própria Coronavac ou Sinopharm ou com outra vacina. Isso porque também há vários estudos mostrando que é seguro fazer essa mistura de vacinas se o país tem mais acesso a vacinas diferentes.  

Para todas as outras vacinas que são para uso de emergência pela OMS além da Coronavac, da Sinopharm, da AstraZeneca, Pfizer e Moderna há uma recomendação de vacinar com a terceira dose as pessoas que têm algum comprometimento do sistema imunológico. Mas é muito importante relembrar sempre que a prioridade é aumentar a vacinação dos grupos mais vulneráveis. Ou seja, não faz sentido começar dar uma terceira dose se ainda não se conseguiu sequer vacinar aqueles grupos mais vulneráveis.

Infelizmente, nós ainda temos três países nas Américas que ainda não conseguiram vacinar os 20% da sua população. Então, os países devem adaptar essa recomendação, ela fortalece a proteção dos mais vulneráveis, mas é muito importante ampliar a vacinação, utilizar de maneira mais inteligente as vacinas disponíveis para se alcançar uma rápida cobertura vacinal o mais rápido possível.

ONU News: Muitos países estão reabrindo suas fronteiras para turistas. Nas Américas, quais as preocupações que o aumento no fluxo de pessoas pode trazer? 

JB: As viagens naturalmente vão sendo retomadas, e isso é bom porque significa que a economia vai aos poucos se recuperando e é possível fazer esse processo de maneira segura. É muito importante a recomendação de só viajar se você já está vacinado. É importante que as pessoas, durante as viagens, mantenham todos os cuidados, o uso de máscara é fundamental.

Nos países que recebem, variam os requerimentos de cada país, mas em geral estão exigindo que as pessoas façam testes antes de viajar. Isso não é 100% eficaz porque a pessoa pode fazer o teste hoje e mais tarde, ou amanhã, se contaminar.

Então é muito importante que as pessoas tenham todos os cuidados o tempo todo e não só nas viagens, mas fazer com que esse momento, que nós temos na América Latina e no Caribe, de redução no número de casos se mantenham de maneira sustentável.

ONU News: Quais as expectativas para o Brasil com a parceria com a Fiocruz?

JB: A Opas, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade dos países da América Latina e do Caribe na produção de medicamentos, vacinas, equipamentos médicos, equipamentos de proteção individual, lançou a plataforma regional para aumentar a capacidade de produção destes países. O primeiro ato dessa plataforma foi exatamente buscar identificar por uma comissão independente dois projetos que pudessem servir de centro de desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro.

São vacinas modernas, são vacinas que usam uma plataforma tecnológica muito inovadora e que podem servir de base para outras vacinas no futuro, como para dengue, influenza, chicungunha e outros problemas. Essa plataforma é utilizada hoje, por exemplo, para a fabricação das vacinas da Pfizer e da Moderna.

O comitê selecionou dois projetos: um consórcio de empresas privadas da Argentina e o projeto da Fiocruz, que está desenvolvendo sua própria vacina de RNA mensageiro. É um projeto de médio e longo prazos, não é uma resposta imediata, mas é estratégico porque pode garantir para nossa região autonomia na produção de vacinas com essa plataforma. A Opas vai apoiar tecnicamente a Fiocruz para que esse processo de desenvolvimento da vacina seja acelerado e nós possamos entrar logo depois na fase de fabricação. 

É importante ressaltar que esse projeto não é para beneficiar um ou outro país, não é para beneficiar o Brasil ou a Argentina. O compromisso desses dois projetos é de que todos os produtos vão ser oferecidos por meio do fundo rotatório de vacinas da Opas para todos os países da região, beneficiando qualquer país da América Latina e do Caribe que queira ter acesso a essas vacinas. Essa é a melhor maneira de diminuirmos a vulnerabilidade. Nós já lançamos outro edital para que componentes das vacinas de RNA possam ser produzidos em outros países, México, Chile, Peru, Colômbia, Uruguai... de maneira que nós possamos ter realmente uma produção compartilhada por todos os países das Américas e os benefícios valerem para todos eles.

ONU News: Há negociações com o governo brasileiro para doações de vacinas, já que a vacinação está progredindo no país?

JB: Nós esperamos que o Brasil possa vir a doar vacinas. Nós temos trabalhado com todos os países que querem doar vacinas. Fizemos isso com os Estados Unidos, com a Espanha, com a União Europeia e o Canadá, com a Alemanha e com o Japão. Para todos esses países, nós oferecemos dados bem detalhados sobre qual é a situação, quais são os países que mais necessitam, fazemos também uma avaliação de quais são as condições desses países em receberem a vacina e utilizarem rapidamente. E podemos ajudar, se é uma vacina que tem aprovação para o uso de emergência da OMS, nós podemos ajudar com a parte de logística.

Estamos fazendo um convite a todos os países que possam ter doses sobrando para que eles façam doações. Isso, além de ser um ato de pan-americanismo, que é um dos pilares da Opas, também é uma medida de saúde pública muito importante.

Se um país está completamente vacinado, mas os países vizinhos não estão, nesses países pode surgir uma nova variante, que não seja protegida pela vacina que foi utilizada. Essa solidariedade, além de fazer com que a economia regional volte a funcionar de maneira efetiva mais rapidamente ela também é a melhor medida de saúde pública para que todos estejamos protegidos.

ONU News: Alguma consideração final?

JB: Dizer que nós temos essas notícias positivas no Brasil, nos países da América Latina, essa redução de casos. Mas a pandemia, certamente, ainda não acabou. Nós já vimos países da Europa, Israel, nos próprios Estados Unidos, países que tiveram uma importante redução de casos com o aumento da vacinação e que depois tiveram outro pico. 

Então é muito importante manter os cuidados, aumentar vacinação, procurar combater as notícias falsas sobre as vacinas para que as pessoas possam efetivamente se proteger e controlar a transmissão, e manter os cuidados. Usar máscaras, principalmente em lugares fechados, é fundamental para evitar a transmissão. Agindo de maneira conjunta, as medidas de saúde pública e a vacinação, vão poder controlar definitivamente essa pandemia num futuro próximo, nós esperamos.