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Entrevista: Situação dos haitianos deportados dos Estados Unidos

Giuseppe Loprete, chefe da OIM no Haiti.

São mais de 300 crianças nesta situação. A maioria é do Chile, mas também do Brasil, Equador, Panamá e Venezuela. São 47 crianças brasileiras deportadas com os pais, haitianos.

Giuseppe Loprete , Chefe da OIM no Haiti

Foto: OIM
Giuseppe Loprete, chefe da OIM no Haiti.

Entrevista: Situação dos haitianos deportados dos Estados Unidos

Migrantes e refugiados

A ONU News entrevistou o chefe do Escritório da Organização Internacional para Migrações, OIM, no Haiti. De Porto Príncipe, Giuseppe Loprete revela que são quase 5,5 mil civis obrigados a retornar ao país de origem, incluindo 300 crianças, sendo quase 50 nascidas no Brasil. 

ONU News (ON): O que pode nos contar sobre a situação no Haiti? Muitas dessas famílias deixaram o país há muitos anos, então, o que estão encontrando ao retornar? 

Giuseppe Loprete (GL): Já são quase 5,5 mil pessoas que voltaram desde o dia 19 de setembro. Esperamos entre seis e sete aviões por dia, todos os dias, e isso vai continuar. Com certeza será assim até termos uma indicação diferente do governo dos Estados Unidos e do governo do Haiti. A situação no Haiti está terrível neste momento, são múltiplas crises como já sabemos. Áreas controladas por gangues; no sul, três províncias foram afetadas pelo terremoto; há instabilidade política e apenas 1% ou 2% da população está vacinada contra a Covid-19. Esta é a situação que eles encontram quando chegam aqui. É uma situação muito difícil. 

 

O.N.: Essas pessoas estão ficando em abrigos ou na casa de familiares? 

G.L: A maioria dessas pessoas havia deixado o Haiti há cinco anos ou mais. Em alguns casos, já tinham perdido os laços com os familiares. Conhecemos uma mulher que nos contou que sua filha está morando na República Dominicana, então ela não tem ninguém aqui. Um jovem, quando chegou em um desses voos, me perguntou: “Onde fica Porto Príncipe? São pessoas que nem sabe onde estão. Ficaram fora (do Haiti) muito tempo. Isso é difícil porque as famílias também estavam contando com as remessas de dinheiro, então agora perderam esse tipo de apoio, eles (migrantes) estão voltando de mãos vazias. No aeroporto, eles recebem alguma ajuda em dinheiro, kits de higiene, apoio médico e psicológico, mas depois ir para onde quiserem. A maioria escolhe ficar por Porto Príncipe. 

O.N.: Há crianças do Brasil e do Chile sendo deportadas. Essas crianças nasceram em países da América do Sul, mas são filhas de pais haitianos, certo? 

G.L.: Exatamente. Até agora, são mais de 300 crianças nesta situação. A maioria é do Chile, mas também do Brasil, Equador, Panamá e Venezuela. Essas famílias viveram em países da América do Sul e Central por anos. Suas vidas eram lá, muitas já tinham residência, casaram, tiveram filhos nesses países, mas agora estão voltando. É importante entender também porque deixaram o Brasil, o Chile, etc, para irem até a fronteira do México com os Estados Unidos. Escutamos muito que alguém que conseguiu entrar nos Estados Unidos enviou a mensagem de que seria possível. Então muitos haitianos deixaram os países onde viviam para seguir este conselho e infelizmente, não pensaram que ao fazer isso, poderiam perder a situação que tinham no Brasil, Chile ou outros países, e acabar de volta ao Haiti. É algo que só perceberam quando já era tarde demais.” 

O.N.: Até o momento, quantas crianças brasileiras foram deportadas? 

G.L.: Até agora, 47.  

O.N.: O que a OIM está fazendo para ajudar essas famílias? Elas podem voltar ao Brasil ou ao Chile? Ou simplesmente perderam o direito de viver nesses países da América do Sul? 

G.L: Isso depende do Brasil e do Haiti. Ontem eu tive um encontro com o ministro dos migrantes haitianos, então estou mantendo as autoridades informadas. Cada caso é diferente. Algumas famílias têm documentos e autorização de residência, outras perderam os documentos. Alguns pais não têm documento de identificação nem certidões de nascimento, apenas os passaportes das crianças. Já informei a Embaixada do Brasil, a Embaixada do Chile, mas no campo legal, e também no campo da diplomacia e relações internacionais, o Haiti e esses países terão de discutir a situação.” 

O.N.: Existem menores de idade sendo deportados sem os pais? 

G.L.: Não, não vimos nenhum menor desacompanhado. Sobre as crianças, o que a OIM pode fazer é facilitar o processo para que possam ter documentos, identidade, certidões de nascimento. Podemos ajudar no contato com as embaixadas, temos o telefone deles, eles também podem nos telefonar, podemos encaminha-los aos serviços legais. Principalmente, precisamos saber diretamente desses migrantes quais são as intenções deles, por exemplo, se querem voltar para o Brasil, ou não. Assumimos que queiram, mas a decisão é deles. 

Escute a entrevista, em inglês.