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Líbia: chefe humanitária diz que combates já afetam população em Trípoli

A portuguesa Maria Ribeiro está à frente da resposta humanitária das Nações Unidas na Líbia

Temos 2,8 mil pessoas que se sentiram-se obrigadas a sair do seu local, mas se os combates continuarem estamos à espera que esses números vão aumentar

Maria Ribeiro , coordenadora humanitária da ONU para a Líbia

ONU
A portuguesa Maria Ribeiro está à frente da resposta humanitária das Nações Unidas na Líbia

Líbia: chefe humanitária diz que combates já afetam população em Trípoli

Ajuda humanitária

Em entrevista exclusiva à ONU News, Maria Ribeiro explica como está a situação no terreno e quais são as maiores preocupações; representante pede trégua humanitária e acesso aos mais necessitados.  

A coordenadora humanitária das Nações Unidas para a Líbia disse esta segunda-feira que os combates já estão a afetar a população que vive na capital do país.  

Em entrevista à ONU News, de Trípoli, Maria Ribeiro explicou o trabalho que a organização faz para responder às necessidades humanitárias do presente e preparar o futuro. 

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Qual é a situação no terreno e como tem progredido nos últimos dias? 

Podemos dizer que, desde quinta-feira passada, tem havido uma ação militar liderada pelo Exército Nacional Líbio, que é controlado pelo Marechal Hafta do Leste do país, sobre a capital Tripoli. E temos visto combates nessa tentativa de avanço sobre a capital e que tem tido o seu impacto em termos da população nessas zonas.  

Como é que isso se traduz quais são as suas maiores preocupações? 

Uma das preocupações principais que temos é a situação da população que se encontra nas zonas de combate e, por isso, ontem as Nações Unidas pediram que houvesse uma pausa humanitária para permitir o acesso a essas zonas pelos serviços de emergência, para poder evacuar, eventualmente, civis que querem sair dessas zonas. 

Segundo aspecto é que começamos a ver que há certas populações que estão a querer sair das zonas mais próximas dos combates. É verdade que, até agora, só temos 2,8 mil pessoas que se sentiram-se obrigadas a sair do seu local, mas se os combates continuarem estamos à espera que esses números vão aumentar e, por isso, estamos a trabalhar para estabelecer serviços que possam eventualmente receber essas populações.  

Maria Ribeiro, coordenadora humanitária da ONU na Líbia
ONU News
Maria Ribeiro, coordenadora humanitária da ONU na Líbia

Outro aspecto que temos de tomar em conta é que, quando há combates, muitas vezes afeta os serviços de base, como eletricidade, água, eventualmente, também, o acesso às clinicas e aos hospitais.  

Também temos uma preocupação com a situação de migrantes ilegais, que se encontram em centros de detenção. Alguns desses centros encontram-se em zonas muito próximas dos combates, em zonas mais vulneráveis. Então, estamos bastante preocupados que não se pode esquecer dessas populações e também de ver, com as autoridades, o que se pode fazer para prevenir que essas pessoas sejam abandonadas em situações ainda mais difíceis.  

Foi também um pouco do que aconteceu em Trípoli com esses centros de detenção de migrantes, no mês de setembro, quando ouve os confrontos dentro da cidade de Trípoli.  

Algumas forças internacionais saíram da cidade, mas os funcionários da ONU ainda estão no país. Qual é o objetivo? 

Neste momento estou a falar de Trípoli e, como disse o secretário-geral na semana passada, quando ele esteve cá na Líbia, é que as Nações Unidas continuam a ser solidária do povo líbio, e que estamos cá para ajudar e a apoiar o país. Eu posso falar do ponto de vista humanitário, que nós vamos fazer tudo para continuar a dar o apoio necessário às pessoas.  

Como é que a ONU e a ajuda humanitária se está a preparar os próximos dias? Quais são as expetativas? 

Bem, nós estamos a trabalhar, a ver qual é a nossa capacidade, e também com os parceiros, incluindo com as autoridade municipais e a preparar a nossa capacidade de responder a uma situação em que haja mais deslocados, ou então, que haja necessidade de dar um apoio, por exemplo, aos serviços de saúde e esses aspetos. 

Estamos, digamos, não só num ponto de preparação, mas também já começamos a responder a certas situações.