Civis na Somália continuam sofrendo com “peso terrível” do conflito
Relatório preparado pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU e missão da organização no país indica mais de 2 mil mortes entre janeiro de 2016 e outubro de 2017; 60% das fatalidades foram causadas por militantes Al Shabaab.
Leda Letra, da ONU News em Nova Iorque.
Um relatório preparado pelas Nações Unidas mostra que o conflito armado na Somália continua gerando um enorme peso nos civis, destruindo infraestruturas e meios de subsistência, além de causar deslocamento de pessoas e impedir acesso à ajuda humanitária.
O estudo foi feito em conjunto pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU e pela Missão de Assistência das Nações Unidas na Somália, Unsom. Mais de 2 mil civis foram mortos no período avaliado, entre janeiro de 2016 e outubro de 2017. O total de feridos passou de 2,5 mil.
Milícias
Segundo o relatório, o grupo terrorista Al Shabaab teria sido responsável por 60% das fatalidades. Já milícias que pertencem a clãs causaram 13% dos casos, enquanto 11% dos mortos e feridos foram vítimas do Exército ou da polícia, 4% da União Africana na Somália, Amisom, e 12% a agressores não identificados.
O representante especial do secretário-geral da ONU na Somália declarou que “os civis estão pagando o preço da falha em resolver o conflito por meios políticos”.
Michael Keating lamentou que os lados envolvidos “simplesmente não estão fazendo o suficiente para proteger os civis da violência”, o que para ele “é uma vergonha”.
Ataque
De acordo com o relatório, os civis foram vítimas de ataques suicidas ou de bombas, sendo que ambos são proibidos pela lei internacional de direitos humanos e na maioria dos casos, são considerados “crimes de guerra”. Por isso, a ONU afirma ser “imperativo que os autores sejam identificados e julgados”.
O pior incidente mencionado no documento foram as explosões de duas bombas na capital da Somália, Mogadíscio, causando 512 mortes e mais de 300 feridos. A ação de 14 de outubro foi, segundo o governo, realizada pelo Al Shabaab.
O representante da ONU no país, Michael Keating, afirmou que o ataque “bárbaro foi um dos piores já ocorridos no continente e talvez no mundo”.
Crianças
O estudo mostra ainda que a seca aumentou os conflitos entre clãs, causando competições por recursos. Como consequência, as perspectivas para paz de longo prazo diminuem e a proteção aos civis enfraquece.
As crianças também são expostas a “graves violações durante operações militares, sendo assassinadas e detidas por forças de segurança somalis. O recrutamento de menores também chama a atenção: desde janeiro deste ano, mais de 3,3 mil crianças foram obrigadas a lutar no conflito, sendo 71,5% recrutadas pelo Al Shabaab.
O alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein, declarou que apesar de ser desafiador alcançar um “equilíbrio entre direitos humanos e segurança, respeitar os direitos e proteger os civis é essencial para a base de um país forte e legítimo”.
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