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Exclusiva: Guterres fala à ONU News sobre visita à República Centro-Africana

Exclusiva: Guterres fala à ONU News sobre visita à República Centro-Africana

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Vladimir Monteiro, de Bangui, para a ONU News.*

Leia a íntegra da conversa com o secretário-geral, António Guterres.

Senhor secretário-geral, o que representa esta sua visita à República Centro-Africana?

António Guterres: Essencialmente, dois gestos de solidariedade. O Dia das Nações Unidas e depois ainda três dias mais. Primeiro gesto de solidariedade com as forças de manutenção da paz das Nações Unidas, com os capacetes azuis. Soube que tive a ocasião de ir a Bangassou, onde 12 foram mortos, recentemente. E exprimi toda a solidariedade e todo o orgulho que tenho em pertencer a mesma organização, onde esta gente sacrifica as suas vidas para proteção dos civis, em circunstâncias tão dramáticas como as que pude presenciar. E ao mesmo tempo, solidariedade com o povo centro-africano. Um povo que nunca conheceu, verdadeiramente, uma situação positiva, que sempre sofreu imenso. E desde o tempo colonial, depois passando por períodos de instabilidade política mais ou menos permanente. Golpes de Estado depois de golpes de Estado. Mais tarde, situações de violência indiscriminada como a que temos hoje e níveis de pobreza verdadeiramente terríveis. E, portanto, um povo que merece a solidariedade da comunidade internacional. E esta visita exprime solidariedade e ao mesmo tempo chama a atenção da comunidade internacional para a necessidade de ser muito mais generosa com os centro-africanos. Quer na ajuda humanitária, quer no apoio ao desenvolvimento, quer sobretudo também no reforço da Missão das Nações Unidas.

Quais foram as mensagens que deixou ao povo e às autoridades?

AG: Sobretudo uma mensagem de necessidade de trabalhar para a paz e para a unidade. Infelizmente, a maior parte dos conflitos religiosos que existem no mundo são devidos à manipulação política. E eu creio que o mesmo aqui aconteceu. Houve atores políticos que procuraram manipular as populações aos serviços dos seus interesses atiçando rivalidades religiosas, desconfianças e infelizmente tiveram algum êxito. E é necessário contrariar isso. E é necessário evitar que um país, onde cristãos e muçulmanos sempre viveram em conjunto possa dividir-se de uma forma que poderia corresponder a uma tragédia de grandes proporções.

Como sai daqui?

AG: Com esperança. Acho que os encontros que tive com o presidente, os encontros que tive com toda a equipe das Nações Unidas dão-me esperança de que seja possível a República Centro-Africana virar a página e encaminhar-se, finalmente, para uma trajetória de paz e para uma trajetória de progresso que permita ao povo centro-africano beneficiar daqueles coisas mais elementares a que todos nós estamos habituados que quase não compreendemos quando vemos que ainda há quem não possa usufruir desses bens como é o caso da maioria da população desse país.

Muito obrigado!

AG: Obrigado!

*Reportagem da Minusca.

Photo Credit
Guterres esteve com deslocados na cidade de Bangassou. Foto: ONU.