Perspectiva Global Reportagens Humanas

Até 77% de crianças e jovens são vítimas de abusos em rotas do Mediterrâneo

Até 77% de crianças e jovens são vítimas de abusos em rotas do Mediterrâneo

Baixar

Cerca de três quartos seriam vítimas de abusos, exploração e tráfico em passagens migratórias; conclusão é do Unicef e da OIM; maiores alvos são crianças da África Subsaariana; agências pedem a Europa caminhos “seguros e regulares” para migração.

Laura Gelbert Delgado, da ONU News em Nova Iorque.

Crianças e jovens migrantes e refugiados tentando chegar à Europa enfrentam abusos de direitos humanos em níveis terríveis, alertaram nesta terça-feira o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e a Agência da ONU para Migrações, OIM.

Um novo relatório das agências aponta que 77% dos que estão viajando ao longo da rota do Mediterrâneo Central relatam experiências diretas de abuso, exploração e práticas que podem representar tráfico humano.

Crianças e jovens 

O relatório é baseado nos testemunhos de cerca de 22 mil migrantes e refugiados incluindo cerca de 11 mil crianças e jovens entrevistados pela OIM.

O estudo mostra que embora todos os migrantes e refugiados estejam em alto risco, crianças e jovens em movimento tem chance muito maior de vivenciar exploração e tráfico do que adultos com mais de 25 anos. A proporção é o dobro na rota do Mediterrâneo Oriental e 13% a mais no Mediterrâneo Central.

“Escravos” 

Aimamo, um jovem de 16 anos da Gâmbia, viajando desacompanhado, foi entrevistado em um abrigo na Itália e descreveu ter sido forçado ao trabalho manual pesado quando chegou à Líbia.

O jovem contou que se tentassem correr, os traficantes atirariam; se parassem de trabalhar, apanhariam. Segundo Aimano, os jovens eram “como escravos” e no fim do dia eram trancados dentro de um local

África 

O relatório mostra ainda que embora todas as crianças em movimento estejam em alto risco, as que vem da África Subsaariana tem probabilidade muito maior de vivenciar exploração e abuso do que as de outras partes do mundo: 65% em comparação a 15% na rota do Mediterrâneo Oriental e 83% em comparação a 56% na rota do Mediterrâneo Central.

Segundo as agências da ONU, o racismo é provavelmente um grande fator por trás dessa discrepância.

Soluções duradouras 

Crianças e jovens viajando sozinhos ou por períodos longos, assim como os que têm níveis baixos de escolaridade, também são muito vulneráveis à exploração por traficantes e grupos criminosos ao logo de suas viagens.

O relatório das agências pede a Europa que crie caminhos “seguros e regulares” para migração.

O documento pede a países de origem, trânsito e destino, à União Africana, à União Europeia e a organizações nacionais e internacionais, com apoio de doadores, que priorizem uma série de ações.

Entre elas, criar meios “seguros e regulares” para as crianças em movimento; fortalecer serviços que protejam menores refugiados e migrantes e encontrar alternativas à detenção dessas crianças.

Outros pontos são trabalhar entre fronteiras contra o tráfico e à exploração e combater a xenofobia, o racismo e a discriminação contra todos os migrantes e refugiados.

Notícias Relacionadas:

Mediterrâneo Central: Acnur pede mais 40 mil locais de reassentamento

Mais de 2,4 mil pessoas morreram no mar Mediterrâneo em 2017

Especialistas alertam que nova política europeia de resgate ameaça vidas no mar 

Photo Credit
Ao longo dos trilhos de trem ligando a Grécia com a ex-República Iugoslava da Macedônia, uma mulher caminha com duas crianças. Foto: Unicef/Georgiev